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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Vamos lá ensinar esses peões a andar a pé para que o divino automóvel possa acelerar.

António C., 24.02.10

Saíu hoje uma notícia que passou rapidamente nos dos telejornais da tarde e que me chamou logo à atenção. O título era:

 

Padres de Braga vão ensinar peões a andar na estrada

 

Porque não ensinar antes os automobilistas que deveriam ter cuidado com peões uma vez que o facto de tirarem a carta não foi suficiente para que cumpram regras básicas de segurança.

 

Penso que seja preciso explicar ao governo civil de braga o conceito de strict liability aqui abordados nos últimos posts.

 

Lisboa é um parque de estacionamento IV

MC, 24.02.10

O traçado antigo de muitas ruas estreitas europeias obriga a escolhas entre os peões e os automóveis. Depois de garantido o espaço para a circulação de automóveis (já nem peço que se ponha o peão em primeiro), há que escolher entre dar prioridade à circulação de peões ou ao estacionamento de automóveis. Mais uma vez nem preciso de ir buscar exemplos do Norte* para mostrar que Lisboa escolheu ser um parque de estacionamento legal.

 

Madrid
Barcelona
Lyon

Paris


Lisboa

 

 

E estes não são apenas exemplos soltos. Basta olhar para as quatro primeiras (tiradas praticamente ao calhas do Google Street View) para nos apercebermos que elas nos causam estranheza. Tal visão é algo raro em Lisboa. E mais, a visão de baixo (uma rua com micro-passeio mas com estacionamento) é algo que não se encontra nas outras cidades.


* As cidades italianas usam uma solução intermédia onde não há passeio, tipo Alfama. Como o peão não é suposto estar confinado a uma aba minúscula da rua, mas é mesmo suposto caminhar pelo meio, as viaturas nunca atingem as velocidades de Lisboa. A Grécia não está incluída no Google.


Há um mês atrás houve notícia da maior multa de sempre paga na Suiça por excesso de velocidade: 200 mil euros por circular a 137km/h numa estrada nacional. Há que dizer que na Suiça (como salvo o erro na Suécia) as multas de trânsito são proporcionais à riqueza do condutor.

Brilhante! A inversão de valores da ditadura do automóvel numa fotografia só

MC, 23.02.10

O Apocalipse Motorizado mostra com uma simples fotografia como o mundo está ao contrário. Apesar de não ser frequente em Portugal, em muitos países existe uma indicação escrita no alcatrão para lembrar os peões que devem ter atenção aos carros quando atravessam as ruas:

 

 

Na passadeira, a única passagem que o peão tem para se movimentar entre as ilhas a que está restrito, em vez de se chamar a atenção a quem maneja uma máquina mortífera que se pode cruzar com peões, alerta-se o peão desprotegido para ter cuidado.

 

O que seria então uma sociedade humana, onde a potencial vítima é mais importante que o potencial homicida? Simples, isto:

 

 

Onde os peões e os carros se cruzam, o passeio é contínuo. É o carro que por favor pode passar ali, não o contrário.

 


 

O Passeio Livre conta algo semelhante. Numa rua onde foram colocados pilaretes a proteget o passeio, passados poucos dias e pela calada da noite, alguém destrui os pilaretes. Um a um. O que passará pela mente de alguém que sai de casa a meio da noite e faz isto?

MUBi!

MC, 23.02.10

A ideia de uma Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta nasceu há um ano num encontro de ativistas da Bicicletada/Massa Crítica. Foi legalizada já há alguns meses, mas alguns atritos burocráticos e um vasto debate de alinhamento de rumos à partida impediu que ela aparecesse publicamente até há alguns dias.

A MUBi não nasceu contra a já bem estabelecida Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, mas sim do reconhecimento de parte dos seus membros que o os desafios e os objetivos dos ciclistas urbanos são independentes daqueles do cicloturismo. Enquanto a FPCUB pretende representar todos os ciclistas, a MUBi centra-se num alvo mais específico - os utilizadores urbanos veiculares.

A MUBi teve então há dias uma reunião ao mais alto nível na CM de Lisboa, com o vereador de mobilidade Nunes da Silva, onde foram discutidos os planos das ciclovias, das bicicletas partilhadas, da acalmia de tráfego e da partilha das faixas BUS com os ciclistas aprovado no Orçamento Participativo da CML.

Muitos parabéns a todos!

 

Adenda: o relato da reunião já está online no blog da MUBi.

 

Para saber mais visitem a lista dos vários projetos em curso, as ações e o blogue da MUBi.

 


A assinar, uma petição pela modernização da Linha do Oeste (Cacém-Figueira da Foz) que atravessa uma das áreas mais povoadas e industriais do país, mas tem comboios que andam a passo de caracol em linhas não eletrificadas. (via A Nossa Terrinha)

O automobilista tem sempre a culpa à partida

MC, 13.02.10

A associação britânica responsável pelo vídeo que o António mostrou há dias, tem um documento interessante sobre a strict liability (a atribuição à partida da culpa civil ao automobilista quando há um acidente com um peão ou ciclista). Deixo aqui algumas partes traduzidas:

 

"No presente estado do trânsito motorizado, estou convencido que qualquer sistema legal civilizado deve requerer, por um questão de princípio, que a pessoa que usa o instrumento mais perigoso nas estradas - espalhando morte e destruição - deve ser responsável por compensar todos aqueles que sejam mortos ou feridos como consequência desse seu uso. Deve haver responsabilidade sem haver prova de culpa. Requerer a uma pessoa ferida que prove a culpa [dos outros], é a mais grave injustiça que se pode fazer a muitas pessoas inocentes que não têm meios para o fazer.", Lorde Denning 1982

 

Num acidente rodoviário com danos físicos pessoais no Reino Unido [e em Portugal], o ónus da prova cabe à vítima, que tem de provar que a outra parte foi negligente. A pessoa ferida num acidente entre um veículo e um peão ou ciclista, é quase sempre o utilizador vulnerável da rua.  Sob a strict liability, o ónus da prova é revertido. Assume-se como inocente as vítimas vulneráveis, e não os condutores, no que toca à causa dos ferimentos. (...) Os condutores seriam responsáveis pela compensação dos danos aos peões e ciclistas, excepto se fosse provado que a vítima causou o acidente.

 

Alguns países onde existe strict liability: Áustria, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Holanda e Suécia. No caso da Dinamarca, Holanda e Suécia não há sequer redução da compensação a pagar à vitima quando se é provado que esta também teve culpa. Na maioria dos outros, se a vítima é uma criança, também não há redução da compensação que a criança cometeu um erro.

 


Um vídeo a ver, apanhado na mailing list da Bicicletada/Massa Crítica:

Sete minutos do Saldanha ao Terreiro do Paço em plena hora de ponta em Lisboa. Só de bicicleta!

 

 

Ciclovias à mediterrânica

MC, 09.02.10

Toulouse criou, tal como todas as grandes cidades francesas, um programa de bicicletas partilhadas há poucos anos. Mas sendo uma cidade do sul da França, não teve a mesma a coragem que houve no norte, em termos de criação de infra-estruturas para as bicicletas. A cidade foi coberta de ciclovias, mas ciclovias que apenas servem para manter as bicicletas longe dos automóveis. Em vez de roubar espaço ao automóvel, roubou-se espaço ao peão. A ciclovia foi feita "por onde havia espaço", muitas vezes por ruelas de cargas e descargas, sem qualquer preocupação pela segurança dos ciclistas.

Pessoalmente, passei por muito poucas das ciclovias a serem construídas em Lisboa. Mas pelos relatos que leio das obras, haverá alguns casos semelhantes.

Ciclovias interrompidas:

Ciclovias que cortam o passeio em zonas de grande movimento pedonal.

Ciclovias que atravessam passadeiras. Para lá do absurdo de juntar peões e ciclistas, são um enorme perigo para os ciclistas. Sendo uma passadeira, os carros que viram à direita só param quando já há um peão/ciclista na passadeira. Ora um ciclista avança bem mais rápido que o peão, e o automobilista pode não o ver. O ciclista tem assim que parar praticamente em todas estas passagens.

Ciclovias que galgam lancis.

Ciclovias que ocupam todo o passeio.

Ciclovias que são uma corrida de obstáculos.

 


A ver, um texto e vídeo encontrado pela Ana que mostram muito bem o perigo de circular o mais à direita possível quando se vai de bicicleta. Infelizmente muitos ciclistas novatos têm a tendência de se afastar dos automóveis, julgando que assim estão mais seguros, algo totalmente errado.

 

Os automobilistas são sempre culpados!

António C., 08.02.10

 

É recorrente ver nas nossas ruas pais a ralhar com os filhos por estes atravessarem a estrada sem olhar, ou atribuir culpas a ciclistas e peões pelos acidentes nas cidades.

 

Em culturas onde os modos suaves são protegidos, a responsabilidade é sempre atríbuida ao elemento com um veículo mais pesado. Este conceito de protecção do mais fraco, já foi referido várias vezes neste blog e em inglês chama-se "strict liability". (Aceito sugestões para tradução deste termo)

 

No seguinte video, este conceito é explicado sucintamente e com clareza.

 

 

 

Lisboa é um parque de estacionamento III

MC, 02.02.10
Aqui fica mais um exemplo de como o excesso de estacionamento em Lisboa não se fica pelo ilegal. A densidade de estacionamento legal à superfície é também ela imbatível em termos europeus.

Ao longo dos tempos deixámos as nossas pracetas transformarem-se em parques de estacionamento. Onde poderia existir 3 ou 4 árvores com umas mesas, um campo de jogos (há até casos onde estes campos foram destruídos para dar lugar a estacionamento), um parque infantil, temos invariavelmente isto:

Como acontece sempre nestas pracetas, também nesta se vê espaços que em tempos foram garagens para estacionamento e estão agora convertidos em lojas, supermercados ou armazéns. Muitas vezes é quem lucra com esta transformação que vem exigir da Câmara, e de todos nós, um pedaço do espaço público para o poder privatizar ocupando-o com o seu automóvel.

Mais uma vez convido todos a passear pelo Google Maps e encontrar outra cidade europeia, onde haja uma densidade tão grande de estacionamento como Lisboa.

 


Petição a assinar promovida pela FPCUB: Pela "alteração do Código da Estrada reforçando direitos de ciclistas e peões"