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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Popó über alles

MC, 31.03.09

Há uns anos ia eu de carro numa zona residencial, e um outro automobilista, que estando distraído não se apercebeu que eu tinha abrandado, bateu com alguma violência com a dianteira do carro dele na traseira do "meu" (emprestado). Mal encosta o carro, pula lá de dentro aos berros a barafustar. Passado um pouco sai a mulher, que cocheava devido ao impacto e chamava pelo marido. A minha reacção imediata e irreflectida foi desviar-me da "troca de palavras" e dirigir-me à mulher para perguntar se ela estava bem. O homem continuou a refilar e só passado um bom bocado, é que se virou ele também para a mulher e perguntou se estava ok.

Isto ultrapassa-me. Como é que o primeiro impulso de alguém pode ser a defesa de um chassis, antes da preocupação pelo bem-estar da própria mulher?

 


Post a ler: Dia da mobilidade suave: uma ciclostória para menores de 18 anos. A Lanka "não quer"  que a filha a crescer em Portugal, ganhe os maus hábitos mediterrânicos (estou claramente a abusar na interpretação!). Gosto especialmente deste esquema, que mostra como a mobilidade nas cidades pode ser diferente:

Portugal, o país do alcatrão... a ver os comboios passarem

MC, 31.03.09

Contra todos os discursos ambientais bonitos, contra a eficiência energética, contra a eficiência de mobilidade, contra a tendência mundial, Portugal investiu o ano passado 18 vezes mais em rodovia do que em ferrovia, noticia hoje o Público.

A parte mais divertida da notícia é quando nos apercebemos que parte do ridículo investimento em ferrovia é na realidade para passagens de nível! Ou seja para facilitar a rodovia e não a ferrovia. Só a própria ideia de serem os carris desviarem-se do alcatrão - e não o contrário - já é em si, ridícula. Mas é à REFER e não às Estradas de Portugal que cabe essa tarefa.

 

(O destaque do Público contem ainda um pequeno comentário sobre o facto da ferrovia ser constantemente questionada, mas o rodovia não, em que todo ele parece ser feito a partir de posts aqui do blogue... pessoalmente até ficaria contente se foi o caso).


Outra notícia a ler: a estação principal de comboios em Coimbra vai ser afastada (ainda) mais 500m do centro da cidade, para garantir que Portugal continua a ser uma aberração destacada em termos europeus em termos de afastar as gares das populações.

A vaquinha II

MC, 31.03.09

O José Sousa do Futuro Comprometido deixou aqui um link interessante sobre os supostos benefícios ambientais do apoio ao abate de automóveis antigos (no primeiro post mencionei que estes benefícios seriam ridículos mas sem os quantificar). Claro que estas contas são muito complicadas de fazer, mas as contas em cima do joelho dão sempre uma noção da grandeza do que está em causa:

 

Cars manufactured this year will put out an average of around 160g/km(7), which means a saving of 48g/km. This translates - with a mean annual driving distance of 16,500km(8) - into a cut of 792kg/car/year. Assuming that drivers are each paid £2000, that’s a cost of £2525 for every tonne of CO2 avoided, divided by the average age of the cars on the road - 4.9 years.


The management consultants McKinsey have calculated the costs of saving CO2 by other means(9). We could do it for £3.50 a tonne by investing in geothermal energy (...) switching from incandescent light bulbs to light-emitting diodes, for example, saves £80 for every tonne of CO2 you cut.

 

Repare-se no custo estupidamente alto do "benefício ambiental" no primeiro caso. E estas contas deixam de parte duas coisas importantes (que eu já tinha mencionado): os enormes custos ambientais do desmantelamento do carro antigo e da produção do novo, e o aumento de kms percorridos devido ao menor preço por km do carro novo. O próprio artigo diz à frente que 15% a 20% das emissões de automóvel advêm da sua produção! E o impacto ambiental da produção não se fica pelo CO2...

 

O meu conselho para os governos europeus apoiando esta patranha, chamem os bois pelo nome. Estes programas são pura e simplesmente uma gigantesca esmola de todos nós para quem já não gosta do seu carro antigo e para a indústria automóvel.

 


Petição a assinar aqui, pelo aumento da frequência dos comboios na linha de Sintra. Como todos sabemos a frequência é uma questão fulcral, especialmente para quem tem que fazer um transbordo. Mais informação e o anúncio de um debate sobre a mobilidade no concelho de Sintra no próximo sábado aqui.

Não sendo apoiante de nenhum dos dois partidos em causa, não posso deixar de notar a diferença de estilos. Enquanto este (BE) fala em mais comboios, uma suposta organização pela "mobilidade sustentável" no mesmo concelho apelava a mais estradas... para que os autocarros pudessem andar mais rápido. Pois.. talvez convençam alguém no programa de abate de veículos velhos.

O que fazer para evitar isto?

António C., 30.03.09

A iniciativa divulgada no post abaixo anda a dar algumas dores de cabeça a automobilistas que já se tinham habituado a estacionar no passeio mais próximo incomodando os peões.

 

Agora sempre terão de passar uns minutos em limpezas se quiserem andar por aí sem mostrar que cometeram uma ilegalidade.

 

Foto Roubada ao Forum Auto-Hoje

 

 

Esta acção é participação cívica no seu melhor e pode ser que os condutores em vez de gastarem 5 minutos a retirar o autocolante passem a gastar 5 minutos à procura de melhor lugar de estacionamento.

O autocolante contra o desrespeito dos automobilistas

MC, 26.03.09

Um grupo de Lisboetas arrancou esta semana com uma iniciativa contra o estacionamento abusivo que perturbe os peões. Este e tantos outros blogues estão cheios de exemplos disso nas cidades portuguesas, desde passadeiras obstruídas, a ruas onde os passeios estão totalmente ocupados por automóveis obrigando os peões a caminhar perigosamente na rua.

Fartos do total desrespeito de muitos automobilistas (alguns nem percebem que o seu comportamento possa ser grave, como já escrevi por aqui), fartos do sentimento de impunidade de quem comete esta ilegalidade e violação dos direitos dos mais fracos na cidade, fartos dos discursos autárquicos de tolerância zero que não passam de discursos, fartos da conivência terceiro-mundista das autoridades policiais, este grupo sentiu que não tinha outra saída senão uma acção em força. Inspirados numa experiência grega muito semelhante, e com muito êxito em Atenas, criaram o seguinte autocolante:

Mais informações na página da iniciativa: passeiolivre.blogspot.com

 


A ler: um notícia do Expresso, onde é dito que a circulação dos automóveis vai ser afectada por um simulacro. Repare-se autocarros, peões, bicicletas, etc. não são mencionados, apenas os automóveis! Talvez por serem invisíveis...

A vaquinha

MC, 16.03.09

Quando alguém se farta das suas jeans, quer por estarem velhas ou estragadas, quer por já não gostar delas, deita-las fora (ou dá a alguém) e paga por umas novas na loja. O mesmo diria de uma esferográfica, uma televisão, uma panela de pressão, uma bicicleta, um frigorífico, uns sapatos. Parece-me óbvio que é assim que deve acontecer. Se eu quero um produto novo, devo ser eu a pagar por ele na totalidade. Só conheço 3 excepções a esta regra:

Algumas garrafas (cada vez menos) têm vasilhame. Quando vamos ao supermercado recebemos alguns cêntimos pela garrafa velha, mas na realidade é apenas a devolução do que tínhamos pago.

Muitas lojas dão 5 ou 10€ de retoma por telemóveis velhos, mas na realidade estes são depois vendidos pelas lojas a empresas que reaproveitam os materiais (além de servir de estratégia de marketing).

O último, já devem estar a imaginar, é o popó. E o que me choca é a origem do desconto na compra do novo. Quando alguém quer comprar um carro novo, é o próprio Estado que "pede" a todos nós para fazermos uma vaquinha para ajudá-lo. E estamos a falar de um valor que pode chegar aos 1500€!!

 

Oficialmente a vaquinha é por razões ambientais, mas isso é incongruente. Primeiro, a produção do novo veículo e o desmantelamento do velho são processos com forte impacto ambiental. O ganho em termos de emissões graças a uma renovação mais rápida da frota (é apenas isto que está em causa) é com certeza ridícula face a este custo ambiental. Segundo e esquecendo esta incongruência ambiental, o custo de um impacto ambiental deve ser pago por quem o provoca. Neste caso deveriam ser os automobilistas com carros poluentes a pagar por isso. Terceiro e último, há muitos outros casos onde exactamente a mesma lógica não é aplicada pelo Estado. O caso dos frigoríficos é um excelente exemplo, porque teria um argumento extra face ao automóvel: os frigoríficos antigos libertam gases destruidores da camada de ozono, se não forem devidamente tratados.

 

O lobi do popó, mal habituado que está, não está obviamente contente e exige mais ainda. Em mais um exemplo da sua longa tradição de honestidade intelectual, não se coibe de aldrabar toda a gente na sua argumentação, dizendo que na Alemanha este desconto chega aos 5000€. (Uma mentirinha de 2500€).

 


Greenwashes:

- Patrocinado pela Guardian (possivelmente o melhor jornal britânico) neste video. Trata-se de um carro movido a electricidade, tal como o meu frigorífico. Mas como é um carro, e tem que soar a verde, a reportagem diz que é um carro movido a energia eólica!! A palavra "wind" deve ser repetida 20 na reportagem de 2 minutos, sempre com as turbinas eólicas a aparecer. A partir de hoje, o meu frigorífico funciona oficialmente com a força do vento.

- O lobi do popó português, diz que a corrida deles deste ano é ambiental. Tradução: vai haver caixotes do lixo, recolha do lixo e as fitas de plástico vão ser um plástico mais biodegradável. Não estou a gozar, é mesmo só isto.

Denver - Um exemplo americano

António C., 14.03.09

Não é só na Europa que proliferam os novos sistemas de bicicletas públicas para serem usados como complemento do sistema de transportes públicos.

 

Este exemplo Americano é especialmente interessante pelo vídeo de comunicação do programa se centrar assumidamente nos efeitos negativos dos automóveis.

Mais informações aqui:

http://bcycle.com/

Sai-me da frente, uma questão de status II

MC, 11.03.09

Como disse aqui, queria mostrar que sempre que um automobilista refila por um ciclista o fazer perder uns segundos, ele está a ter uma visão completamente distorcida de quem está a atrapalhar quem. Isto é sintomático de uma sociedade onde tudo é visto a partir do volante do carro.

 

1. Sinistralidade

Os automobilistas chegam a matar ou a ferir gravemente os ciclistas. Por mera desatenção!

Não consta que algum ciclista tenha alguma vez morto um automobilista.

2. Stress

(É relacionado com o primeiro, mas uma coisa não implica a outra. Todos sabemos que o avião é seguro, mas o stress fica lá). Andar de bicicleta no meio do trânsito é algo stressante - mesmo para quem tem experiência, de constante receio de podermos sofrer um acidente. Até um automóvel estacionado é perigoso, porque alguém pode abrir a porta sem ver.

Não consta que algum automobilista tenha entrado quase em pânico devido a um ciclista.

3. Contenção

Também relacionado, mas também diferente. Nas cidades portuguesas há muita gente que diz que gostaria de se deslocar de bicicleta, mas não o chega a fazer porque têm medo.

Não consta que algum automobilista tenha deixado de tirar a carta por medo das bicicletas.

4. Barreiras arquitectónicas

As cidades estão cheias de barreiras como túneis, pontes, vias-rápidas, passeios ou muros de separação central (até no centro de Lisboa), que existem exclusivamente devido aos automóveis - os transportes públicos precisam de muito menos espaço para transportar as mesmas pessoas. Estas barreiras impedem os ciclistas de fazer o percurso que seria mais directo, tendo por ex. que contornar um troço de via-rápida.

Não consta que algum automobilista tenha perdido 5 minutos a contornar uma ciclovia, ou uma simples rua urbana, algo que chega e sobra para os ciclistas.

5. Semáforos

Numa cidade onde todos se deslocassem de transportes, bicicleta e a pé, não seriam necessários semáforos. Grande parte do tempo de uma deslocação na cidade resume-se a esperas nos semáforos.

Mesmo em Copenhaga e Amesterdão, não consta que algum automobilista perca grande parte do seu tempo à espera que as bicicletas passem.

6. Regulamentações

Ruas de sentido único, proibições de virar, etc. só existem devido aos automóveis. É mais um desvio, mais tempo perdido, que nos é impingido pelo automóvel.

Nos países onde existem redes viárias exclusivas para bicicletas, não consta que um ciclista seja proibido de virar à esquerda para não atrapalhar os ciclistas que vêm de frente.

7. Distâncias na cidade

A cidade reestruturou-se com o automóvel. O que dantes havia no bairro e onde se chegava em 10 minutos, já não está lá muitas vezes. Está a kms de distância porque a cidade foi-se alterando de acordo com o automóvel. As distâncias médias percorridas nas cidades têm aumentado nos últimos anos, o que dificulta a mobilidade dos ciclistas.

Não consta que o mesmo tenho acontecido por culpa das bicicletas.

8. Congestionamento

Os carros por ocuparem tanto espaço causam congestionamento, ao contrário dos transportes públicos (um autocarro tem o mesmo efeito que 3 ou 4 carros julgo eu, mas leva 30 ou 40 vezes mais), das bicicletas e dos peões. E apesar da bicicleta andar mais depressa que o carro na hora de ponta, anda muito mais devagar do que andaria numa rua desimpedida. Além disso o congestionamento dificulta imenso a condução do ciclista, que tem que estar constantemente a contornar obstáculos.

Não consta que em Copenhaga ou Amesterdão, os ciclistas tenham ficado parados porque as ruas não tinham capacidade suficiente para o fluxo de bicicletas.

9. Cansaço

Os 5 pontos anteriores, especialmente os semáforos, obrigam o ciclista a ter constantemente que travar e reacelarar. Como qualquer ciclista sabe, isso cansa mais do que manter a velocidade.

Não consta que um automobilista tenha ficado cansado por culpa dos ciclistas.

10. Ruído

Não se compara o ruído de um e do outro.

Não consta que algum automobilista tenha ficado atordoado com um buzinar de uma bicicleta.

11. Poluição

O ciclista "emite" um "poucoxinho" de CO2 e vapor de água. O automobilista emite um bocadão de CO2, CO, NOx, SOx, partículas, chumbo, ozono e VOCs.

Não consta que a saúde de algum automobilista tenha sido prejudicada por um ciclista.

 

E se os automobilistas se queixam do tempo que perdem por culpa dos cilcistas, dos pontos acima há 5 que mostram o inverso! 


Cartoon bem a propósito, do Yehuda&Moon

(obrigado Gonçalo)

Às armas, às armas, pelo popó lutar (versão rereaumentada)

MC, 09.03.09

Há anos que a União Europeia chateia Portugal, por Portugal considerar que o atravessamento das pontes sobre o Tejo de carro é um bem de primeiríssima necessidade, ao ponto de as portagens pagarem menos IVA que bens de luxo e fúteis como bolachas, papel higiénico, detergente, conservas de peixe, pêssego em calda, margarina, etc.  Isto é as portagens pagam 5% (uma taxa supostamente exclusiva para bens fundamentais), enquanto os exemplos que dei pagam 12% ou 20%.

Vá se lá saber porquê, a UE não concorda com a definição portuguesa ao ponto de ter feito queixa no Tribunal de Justiça Europeu, que deu razão à UE.

Mas o nosso bravo governo - aquele que acha que os carros eléctricos merecem descontos fiscais por serem ecológicos, mas as bicicletas não - não desiste. Está disposto a bloquear todo um processo negocial entre os 27 sobre os impostos sobre o consumo, usando o seu poder de veto se não vir satisfeita a sua exigência (que é apenas e só esta).

Estou a imaginar 27 representantes europeus a chegar a um acordo, daqueles sempre difíceis de alcançar por terem que ser unânimes, e o português levanta-se e diz "eu bloqueio isto tudo, porque vocês não percebem que atravessar de carro uma ponte, onde há comboios e autocarros, é um bem de primeira necessidade"*.

 

É raríssimo eu dizer isto, mas hoje tenho vergonha de ser português.

 

* E não é que o insólito aconteceu mesmo?! Palavras do próprio ministro: "Portugal votará [vetará] contra qualquer acordo que não contemple a questão das pontes. (...) afecta um número muito significativo de portugueses designadamente em zonas urbanas onde a travessia das pontes é fundamental".

** Isto está cada vez melhor. O ministro à TSF não disse "às armas, pelo popó lutar" mas quase... "Portugal vai lutar até ao fim".

*** Já tinha referido esta notícia num post antigo, mas só agora notei que um dos argumentos do governo português para manter o IVA baixo, era que só assim se garantiria uma concorrência sem distorções entre os meios de transporte na ponte. Isto é dos maiores disparates económicos que ouvi nos últimos tempos. Uma coisa essencial para evitar distorções na concorrência, é garantir que os preços reflectem os custos. No caso do automóvel a diferença entre o que se paga e o custo real é tão abissal, que dar importância a uma dúzia de cêntimos é desviar a conversa.

**** A Pátria venceu mais uma dura e importante batalha!

***** Quando eu achava que história não poderia tornar-se ainda mais ridícula, o ministro das Finanças voltou a surpreender-me. Além das portagens, as fraldas estavam na mesma situação: Portugal tinha um IVA demasiado baixo. Não discuto qual seria o IVA  justo para os dois produtos, mas quando o ministro faz um estardalhaço enorme numa reunião com 27 países de modo a manter o IVA baixo para as portagens, e não abre a boca em relação às fraldas para bebé (que seria uma luta mais fácil já que nem  estaria sozinho como no caso das portagens), eu acho que se ultrapassou qualquer limite de razoabilidade. Só prova as nossas aberrantes prioridades sociais.

Sai-me da frente, uma questão de status I

MC, 09.03.09

(Post que falando sobre bicicletas não é sobre bicicletas, mas sobre o status do automóvel)

 

Esta frase do MEC (a parte dos ciclistas stressarem os automobilistas), apesar de vir de alguém que pateticamente tenta ser engraçado, mostra como a grande maioria dos automobilistas vê os ciclistas. Os ciclistas são aqueles tipos irritantes, que atrapalham, que obrigam um tipo a perder uns segunditos até os conseguir ultrapassar. Há até vários casos onde os automobilistas ameaçaram e chegaram a pôr ciclistas em perigo deliberadamente, por exemplo empurrando-os para a berma, como forma de mostrar o seu desagrado. Duvido que alguma vez um ciclista tenha feito algo minimamente semelhante a um automobilista.

Este é mais um exemplo do estranho status a que o automóvel chegou na sociedade, onde tudo é visto do ponto de vista do automobilista. Centro da cidade fechado ao trânsito: atrapalha. Praça pedonalizada: atrapalha. Radarares e limites de velocidade baixos: caça à multa. Parquímetros e portagens: roubo. Imposto sobre combustíveis: roubo. Espaço urbano com jardins e espaços abertos: falta de estacionamento. Passadeiras e proibição de estacionar no passeio: atrapalha. Bandas sonoras: estraga os amortecedores.

No caso do carro vs bicicleta, aposto que nenhum automobilista (sem experiência de bicicleta) alguma vez se pôs no lugar do ciclista, mas garanto que todos os ciclistas já o fizeram em relação ao automobilista. Basta ler as mailing-lists da Bicicletada/Massa Crítica e os blogs pró-bicicleta para ver isso. Há imensa gente cheia de boas intenções que defende soluções, que na realidade têm o automóvel no topo das prioridades, como permitir as bicicletas na faixa BUS ou ciclofaixas de meio metro de largura. Não estou a dizer  que discordo ou que deixo de discordar, apenas que todas elas têm uma coisa em comum: não subtrair o espaço ao automóvel e não atrapalhar o automóvel.

 

Num dos próximos posts, um manual para ajudar os automobiistas a porem-se na posição dos ciclistas.


A ler: o CarFree France lembra o custo de automóvel eléctrico e o problema da falta de recursos naturais para produzir baterias. Por cá não precisamos de estar preocupados, porque o Governo já prometeu que ia usar dinheiro dos impostos de sete maneiras diferentes para pagar a quem quisesse andar num destes popós.

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