Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

O lado "pedagógico" dos silos automóveis

MC, 10.02.09

Eu não era grande fã da ideia dos silos automóveis (parques de estacionamentos em altura)  nos centros das cidades, quando a ideia foi lançada pela CML. Com o tempo passei a aceitar a ideia como um mal menor que nos permite ter ruas livres e agradáveis em vez de estarem transformadas em parques de estacionamento, ter passeios onde é possível andar, ou seja fazer com que o espaço público seja realmente de todos.

Nunca tinha era pensado que passar ao lado de um destes monstros pudesse ter o seu lado pedagógico. Passar ao lado do silo da Cç do Combro, por exemplo, deve pôr muita gente a pensar e a aperceber-se do principal problema do automóvel na cidade, o espaço que ele ocupa.  Este silo ocupa uns 800m2 e tem uma altura de 4 andares (incluindo o térreo), mas tem espaço para apenas 234 lugares de estacionamento (muitos subterrâneos). Quantas pessoas poderiam viver ali? Provavelmente mais de cem, se compararmos com os prédios em frente.

Quando o espaço é um bem escasso, a escolha é entre pessoas e carros. Não há "carros amigos do ambiente" ou  outras fantasias que permitam fugir a esta questão. Se queremos que as nossas cidades sejam cidades para as pessoas, o carro na cidade tem que ser visto como um luxo, uma extravagância. Muitas cidades europeias já fizeram essa escolha e não consta que se tenham arrependido.

Dêem uma voltinha até ao silo automóvel mais próximo e pensem nisso.

 

 

Claro que há estacionamentos subterrâneos, mas o carro não ocupa só espaço quando está parado... e é quando está a andar que causa mais estragos.

 


Post a ler, já não bastava o aeroporto de Lisboa ser um dos raríssimos aeroportos sem comboio ou metro - apesar de ser muito central, agora os passageiros são impedidos de levar malas nos autocarros normais que passam lá! Mais um triste sinal de uma cidade onde tudo está pensado para quem se desloca de carro.

Alergia ao comboio II

MC, 03.02.09

O Manuel Margarido Tão mencionava aqui (segundo comentário) uma coisa simples mas curiosa, que eu nunca tinha pensado. O argumento mais banal contra a (re)construção de ferrovia para cidades e regiões mais "periféricas" em Portugal é a suposta falta de procura que o comboio teria. Mas quando o assunto é auto-estrada (já nem falo de simples IPs!!), por artes mágicas, este argumento já não se aplica. Bragança, ou outra qualquer cidade, passa de repente de aldeia perdida para uma metrópole ávida de alcatrão para crescer.

Há uns tempos dei-me ao trabalho de mostrar que, descontando a Bélgica, todos os países da Europa tinham cidades sem auto-estrada maiores que Beja ou Bragança. Ou seja, Portugal é um caso patológico ao estar alcatifado com auto-estradas.

Fazer o mesmo para o comboio dava muito trabalho, mas rapidamente se pode verificar quais as cidades dessa lista que têm comboio. Infelizmente, o resultado não me surpreendeu. Descontando duas (Stadskanaal e Ioannina) todas têm ferrovia. Mais uma vez, Portugal é um caso patológico: ao contrário da Europa é frequente as cidades terem auto-estrada mas não terem linha férrea.

 

E o mais grave é que ambas as patologias têm tendência a agravar-se, enterrando o país sempre mais e mais dinheiro no meio de transporte mais ineficiente em termos de espaço, sinistralidade, custo, ambiente e energia.

 


A ler no CarFree France: La crise automobile est structurelle, a defender uma ideia que eu tinha levantado neste post e na discussão sobre ele. Os problemas da indústria automóvel não são causados pela actual crise económica, mas já vêm de trás. Há portanto largos milhões do nosso bolso que estão a ser usados para remediar um problema que é inerente à indústria.

Pág. 2/2