Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Cada um com os seus valores

MC, 27.02.09

Outubro de 2005, Paris.

A população revolta-se contra a polícia depois da morte acidental de dois adolescentes por electrocussão quando fugiam da polícia.

Dezembro de 2008, Atenas.

A população revolta-se contra a polícia depois do homicídio de um adolescente por parte de um polícia.

Fevereiro de 2009. Lisboa.

Depois de alguns casos de abuso policial semelhantes a Atenas e Paris - o último dos quais há meio ano, a população revolta-se com disparos contra a "polícia" responsável pela fiscalização dos parquímetros depois de um agente ter verificado o bom funcionamento destes.

 


A ler: Cada vez mais o "cidadão-carro" é que decide a cidade no Observatório da Baixa

Ovo de colombo

MC, 23.02.09

Quando comecei a deslocar-me de bicicleta em Lisboa, há mais de uma década atrás, habituei-me a ouvir graçolas, que só mostravam a visão terceiro-mundista sobre quem se deslocava num transporte que custa cem vezes menos do que um carro. Felizmente já não há ninguém que fique espantado com um ciclista em Lisboa, e os comentários patetas passaram.
Há dias, para compensar, ouvi a melhor boca de sempre. Em hora de ponta numa avenida de Lisboa, o trânsito a avançar a passo de caracol, uma barulheira de buzinas, os carros apertavam-se para avançar pelos buraquinhos, os cruzamentos entupidos com os carros que tinham ficado do verde anterior, os peões a ziguezaguearem entre a muralha de automóveis para atravessar a avenida. Eu de bicicleta, a passar nas frestas onde as motas não cabiam, era claramente o mais rápido na avenida. Um homem que tentava atravessar a rua ao ver-me, comentou com quem ia lado num tom de quem acabou de descobrir a solução dum quebra-cabeças:

"Olha, boa!"

 


Triste notícia para Coimbra (já atrasada): os planos para o IC2 na zona de Coimbra prevêem o atravessamento de um viaduto de 40 metros de largura, ao longo de 150m pela Mata Nacional do Choupal (parque histórico de 79ha ao longo do rio, utilizado por muitos para lazer). Parece inacreditável, não é? Mais uma vez nada impede os viadutos de atravessarem áreas protegidas, bairros residenciais, jardins, etc.

Mais na página da Plataforma contra o viaduto.

Obrigado Tiago

Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária II

MC, 21.02.09

Segunda parte deste post. A primeira foi uma crítica, esta é uma sugestão para a melhoria da sinistralidade nas cidades.

 

É fundamental a introdução do princípio da atribuição à partida da responsabilidade civil ao condutor no caso de um acidente, a chamada "strict liability". Isto é, passar o ónus da prova do peão como vítima, para o condutor, cabendo a este último provar que não foi negligente. Este tipo de legislação já existe há largos anos em vários países europeus (como a Alemanha, a Holanda, a Dinamarca, etc.) obrigando o condutor a antecipar o perigo que o peão pode vir a correr. Um estudo governamental britânico conclui aliás, que este tipo de legislação é um dos principais determinantes da baixa sinistralidade dos peões (crianças).

 


Mais uma boa notícia da diminuição do uso do transporte privado, neste caso travessia das pontes de Lisboa, no blog Os Verdes por Lisboa. O blog pergunta e bem, porquê insistir na terceira travessia rodoviária?

Maioria silenciosa*

MC, 21.02.09

*sem conotações políticas

 

(Post inicialmente publicado aqui sobre Lisboa, mas que se aplica a todas as cidades e a todo o país).


Os telejornais dão destaque, os jornais fazem reportagens, os rádios fóruns de discussão, realizam-se estudos técnicos e contra-estudos, os responsáveis autárquicos fazem reuniões e contra-reuniões, a AML faz-se ouvir, os presidentes da junta põem-se em bicos dos pés, os ânimos exaltam-se, a blogosfera (incluindo este blogue) agita-se, qualquer zé-ninguém tem uma opinião fundamentada, a "sociedade civil" faz petições e marchas lentas, gastam-se milhões de euros e horas a discutir qualquer minudência relacionada com o trânsito (e o estacionamento) do automóvel privado.
E não me refiro apenas à presente situação, onde a CML gastou uma bela quantia em publicidade, e tivemos vereadores na rua a distribuir panfletos. Refiro-me a sempre.

Mas senhores, estamos a falar duma cidade onde mais de dois terços da população nem carro tem. Desses ninguém fala nem quer saber. Na segunda-feira as televisões entrevistavam os automobilistas... e o resto? Será que a restante maioria nada tem a dizer sobre a alteração de segunda-feira? Consta que algumas carreiras de autocarro andaram mais rápido, que o centro histórico estava mais calmo e agradável para peões, consumidores, trabalhadores e moradores. Mas "consta" apenas, os órgãos de comunicação social nada dizem, e "estudos" nem vê-los.


A ler, outros posts meus sobre Lisboa no CidadaniaLx, mas que também se aplicam a outras cidades. Não são posts sobre estacionamento no passeio ou outros detalhes, são mesmo sobre o modo absurdo como a cidade é pensada.

Insólitos Lx, tudo pode acontecer I - quando a própria polícia não percebe por que razão haveria de aplicar as leis

Insólitos Lx, tudo pode acontecer II - estacionamento na praça central

Insólitos Lx, tudo pode acontecer III - o espaço urbano é do automóvel, mesmo no centro

Insólitos Lx, tudo pode acontecer IV - o espaço urbano é do automóvel, mesmo quando é escasso e não há automóveis

Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária I

MC, 16.02.09

Está até hoje em consulta pública a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, onde é delineada a estratégia de combate à sinistralidade em Portugal até 2015. Aqui fica um resumo do meu contributo (motivado pela disparata insistência em culpar exclusivamente os peões por acidentes onde eles são sempre as vítimas):

 

Portugal continua a ter uma elevada taxa de sinistralidade de peões (segundo a ENSR). Isto é especialmente grave por haver pouco o hábito da deslocação a pé nas cidades portuguesas, o que levaria a prever uma taxa baixa. Descontando uma breve menção ao mero estudo dos regimes sancionatórios aos condutores aplicados noutros países, a estratégia foca-se quase exclusivamente na "Fiscalização" e "Educação" dos peões. Nenhuma palavra é dita, no âmbito da sinistralidade dos peões, sobre a mesma fiscalização e educação dos condutores.

Está implícita a ideia de que o peão é o único responsável por este tipo de sinistralidade. Mas no caso do concelho de Lisboa, por exemplo, sabe-se que praticamente metade dos atropelamentos ocorrem nas passadeiras, ou seja pelo menos em metade a culpa não foi do peão.

 

Além disso, fará sentido tentar disciplinar quem mais directamente sofre com a sinistralidade, que por isso mesmo será mais prudente e menos negligente à partida, desprezando os comportamento incorrectos por parte de quem "tem pouco a perder"? No caso de um erro do condutor, o peão poderá facilmente perder a vida, mas o oposto nunca acontecerá.

Os excelentes resultados das campanhas que têm decorrido nos últimos, em termos de fiscalização e educação dos condutores no que toca a excessos de velocidade, álcool, etc., mostra por um lado que há um elevado grau de negligência destes, e por outro que poderíamos esperar também excelentes resultados de campanhas semelhantes viradas para os condutores neste tema.

 

Um estudo do Departamento de Transportes do Governo Britânico sobre sinistralidade das crianças enquanto peões coloca Portugal no pior lugar dos países europeus analisados. Descontando a Polónia, todos os países têm taxas que são menos de metade (!) da taxa portuguesa. Por se tratarem de crianças, logo com menos noção sobre o comportamento e as regras do trânsito, seria de esperar que os números não fossem tão díspares. Concluí-se neste caso que o problema está no comportamento do condutor e não no do peão.

 


Notícia recomendada: depois de a Comissão Europeia ter aberto um processo contra Portugal por infracção da qualidade do ar nas cidades, o governo vai finalmente apresentar algumas propostas envergonhadas (ao contrário do que o título dá entender, são apenas ideias e não dados adquiridos). O notícia destaca a criação de faixas exclusivas para veículos com mais de um ocupante, algo que a Quercus defende há milhentos anos.

Se isto for aplicado em vias sem autocarros, acho excelente. Caso contrário é vergonhoso que se queira dar o mesmo benefício a um carro com 2 pessoas e a um autocarro com 40.

Pormenor sórdido, apesar de Portugal violar a legislação da qualidade do ar há muitos anos, o Governo vai pedir a suspensão temporária da legislação por já haver "programas em curso".

Um para mim, três para ti

MC, 15.02.09

Há dias mencionei a cidade de Graz, na Áustria, que é famosa pela sua política anti-automóvel desde há muitos anos. Curiosamente ela vem mencionada num estudo do ICLEI, resumido aqui, sobre os custos do automóvel privado vs transportes públicos. E refiro-me apenas a custos "administrativos" como gestão de tráfego, construção de ruas, etc., aqui não entram os custos ambientais, sanitários, sinistralidade, congestionamento, ruído, etc.

Contrariando a ideia generalizada de que os transportes públicos recebem muitos subsídios na Europa, o estudo conclui que em 2003 foram gastos €60 milhões para o automóvel e apenas €19 milhões para os transportes públicos. E insisto, trata-se de uma cidade onde o automóvel é fortemente desincentivado, e pouco usado.

 

Bem sei que os automobilistas pagam muitos impostos, não é isso que está em causa aqui. Sobre isso ler este post antigo.

 


Bem a propósito, um cartoon do Andy Singer tirado do livro CarToons.

Já esgotei os meus insultos para esta gente (post a transbordar de sarcasmo)

MC, 15.02.09

Fui dar uma olhada às fotos de satélite da zona que tinha mencionado neste post antigo, e finalmente temos uma foto actualizada. Uma foto que nos encherá de orgulho por este mundo fora, duas bonitas alcatifas de alcatrão a ligar Porto a Lisboa, a menos de 500m uma da outra.

 

E porque nestas coisas da alcatifa quanto mais houver melhor (como sabemos a alcatifa é ao preço da uva mijona, não tem qualquer efeito secundário ambiental, nem promove mobilidades economica e energeticamente ineficientes), está aceso o debate sobre a localização da terceira alcatifa Lisboa-Porto. Apenas a 5km a sul do local da foto, há quem prefira colocar a terceira a 2km a oeste da primeira alcatifa, mas o governo está mais inclinado para os 3km.

Caros leitores, o que acham que fica mais agradável à vista?

 


Post recomendado no Bike-Sharing Blog: São Francisco (aquela cidade aos altos e baixos e das ruas inclinadas,  que aparece nos filmes) vai lançar um programa experimental de bicicletas partilhadas. Já deveriam saber que as bicicletas só têm alguma utilidade em cidades totalmente planas.

Até quando?

MC, 14.02.09

Ao ler mais esta excelente crónica da fernanda câncio, e os comentários à crónica onde se repete pela milésima vez o velhinho argumento do "dentro do carro também há uma pessoa", pus-me a pensar sobre quanto tempo é que isto ainda vai demorar. Quanto tempo mais teremos que esperar para que a primazia da "pessoa dentro do carro" sobre a "pessoa fora do carro" acabe. É que não é uma escolha minimamente simétrica, como milhentos posts aqui no blogue mostram. Quanto tempo vai demorar para que passe este fado de país novo-rico, onde o sonho de qualquer um é ter um popó vistoso.
 

Lembrei-me das Zonas 30 (de velocidade máxima dentro da cidade) que teimam a chegar cá. A primeira no mundo terá sido em Buxtehude ao pé de Hamburgo em 1983, há 26 anos! Em 1984 já havia 40km de ruas com limite 30 nesta cidade. Em 1992, há 17 anos, Graz foi a primeira cidade do mundo a fazer do limite 30 a regra e não a excepção.
 

Em Portugal, a CM de Lisboa anunciou há meses a criação de zonas 30 em pequenas zonas para este ano... vamos a ver.


Notícia a ler:
Uma pastora de Melgaço, que tinha um carro, gastou "quase todo" o dinheiro que ganhou no euromilhões para comprar um mercedes. Não comprou uma casa nova, não foi passear, não popou, não aproveitou para melhorar o negócio, não deu à filha, comprou sim um mercedes. Perdão, um Mercedes.

obrigado hugo

Perguntas de algibeira

MC, 12.02.09

Qual foi o país da UE qual foi ele, onde houve o maior aumento da rede de auto-estradas na década de 90?

 

Portugal!

 

Qual foi o país da UE qual foi ele, onde houve o maior diminuição da rede de ferrovia na década de 90?

 

Portugal!

Fonte Eurostat, via


Notícia recomendada: ainda insatisfeitos com o facto de Lisboa ser a região da UE com maior densidade de auto-estradas, o nosso Grande Líder e o seu ajudante Lino vão trazer uma nova dádiva ao povo sedente de alcatrão. Mais 70km de vias-rápidas vão chegar à zona da Margem Sul, trazendo "melhoria da qualidade de vida" e "dinamização económica". É desta que a península se vai desenvolver espectacularmente! Eu acredito.

Hip hip hurra!

Hip hip hurra!

"É irrealista e utópico pensar numa cidade sem carros"

MC, 10.02.09

Sempre que há discussões sobre as calamidades apocalípticas que se abaterão sobre as cidades, decorrentes da restrição do trânsito automóvel, fico a tentar lembrar-me em que planeta é que tirei estas fotos:

 

 


E por falar em fotos, a única entrada de Lisboa que ainda era marcada por uma porta,

vai passar a ter um formato mais condizente com a cidade, um nó rodoviário! Com uma mega-rotunda, uma túnel e uma auto-estrada. Só não vejo o parque de estacionamento.

roubada aqui

Pág. 1/2