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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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PORTUGAL É DOS PAÍSES COM MAIS AUTO-ESTRADAS NA EUROPA

TMC, 30.11.08
Somos campeões mundiais em extensão e crescimento da rede de auto-estradas desde 1990. Mesmo sem as novas concessões, Portugal já está entre os países que mais investiram e que têm maior número de km por habitante e área. Mas os dados da União Europeia e OCDE mostram que se investe pouco em manutenção

Rede nacional vai crescer 50% até ao ano 2012

Todos os estudos e comparações o mostram - Portugal tem uma das maiores redes de auto-estradas da União Europa a 15, ao nível de quilómetros por habitante e por área. Esta realidade, apresentada num recente estudo de tráfego feito pela TIS a pedido da Brisa, será mais expressiva em 2010 quando estiver concluído o novo pacote de concessões rodoviárias.

O nosso país tem hoje uma rede de 2860 quilómetros de auto-estradas, das quais cerca de metade são pagos. Com o plano em curso de novas concessões, a rede irá crescer cerca de 50%, o correspondente a mais 1400 quilómetros de vias com perfil de auto-estrada. Este número inclui cerca de 100 km das concessões lançadas pelo anterior Governo e adjudicadas nesta legislatura (Grande Lisboa e Douro Litoral), mas o grosso da expansão é uma decisão do actual Executivo. O pacote de 10 novas concessões, num total de 2400 quilómetros, tem sido contestado, pela dimensão, mas também pelos custos.

Para José Manuel Viegas, presidente da TIS, é difícil explicar como é que um país com problemas em tantos sectores tem necessidade de construir tantas auto-estradas. O especialista em transportes lembra que há outras soluções de mobilidade mais baratas como as adoptadas em Espanha, onde as autovias, com menores exigências m termos de construção e traçado, coexistem com as autopistas. Tem sido o crescimento da taxa de motorização em Portugal o principal sustentáculo da progressão de tráfego nas auto-estradas. Mas a expansão, diz José Manuel Viegas, não vai continuar muito tempo porque o número de automóveis por habitante em Portugal está a aproximar-se da média da UE.

O Governo justifica o lançamento destes empreendimentos com as vantagens do investimento público e o seu impacto na economia, sobretudo no actual contexto. Por outro lado, frisa, muitas das novas vias beneficiam o Interior do país.

Voltando à realidade, quando comparamos Portugal com os outros países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) ou da Europa a 25, como fez o economista Avelino de Jesus, a conclusão é similar. Os dados para 2006 mostram que na UE a 25 Portugal tem uma média de auto-estradas por rede viária de 2,3% muito acima dos 1,2% da média, e que é o terceiro valor mais elevado depois da Espanha e Luxemburgo. A União Europeia tem 13 km de auto-estradas por 100 mil habitantes, quando Portugal tem 17 km. Por cá existem 20 km de auto-estrada por 1000 km2 do país, enquanto que a média da UE são 15 km. Olhando para o universo da OCDE, Portugal foi o segundo país que desde 1990 e até 2006 registou a maior expansão na rede. Mais significativo para este professor do ISG (Instituto Superior de Gestão) são os indicadores que relacionam a extensão da rede com a capacidade económica. Portugal é o segundo país com mais quilómetros (8,3 km) por mil milhões de dólares de PIB, apenas ultrapassado pelo Canadá.

Com estes dados poder-se-ia concluir que Portugal tem uma grande rede viária, mas a verdade é precisamente o contrário. Ao mesmo tempo que temos auto--estradas, também temos estradas a menos e investimentos muito pouco na conservação das que temos, realça Avelino de Jesus. Dados da OCDE mostram que em 2005Portugal foi o quarto país que mais investiu em novas vias (1985 milhões de euros). Já nos gastos com manutenção, caímos para 10.º lugar, com 177 milhões de euros.
 

 

Fritz Lang

MC, 23.11.08

Si vous voulez faire de la mise en scène, n'achetez pas d'auto. Prenez le métro, l'autobus, ou allez à pied. Observez de près les gens qui vous entouren.

 

(Descobri a frase em português: Se quiserem realizar filmes, não comprem carro. Apanhem o metro, o autocarro ou andem a pé. Observem perto as pessoas que os rodeiam. Uma busca rápida na internet deu-me a entender que a original seria em francês).

 

 


Passo em frente e passos atrás em Lisboa: o novo plano para a "Avenida" da Liberdade prevê o fim do estacionamento à superfície! Lisboa abandonaria a sua ridícula condição de ser provavelmente a única capital europeia com estacionamento na sua avenida mais emblemática. E não são meia dúzia de lugares. Nem é uma fila, nem duas, nem três mas QUATRO filas de estacionamento ao longo de TODA a "avenida". E a acrescentar temos parques de estacionamento que interrompem ridiculamente o passeio e o jardim. Isto torna rá a "avenida" mais agradável, mais bonita, com mais espaço para os peões e esplanadas, aumentará a segurança das bicicletas (carros estacionados é do pior que há), e até melhorará o congestionamento, o ruído e a poluição (a entrada e saída de carros estacionados é uma principais causas de congestionamento).

O plano prevê contudo estacionamento subterrâneo, o que não me choca assim tanto. Acaba efectivamente com o estacionamento gratuito (os parquímetros são uma farsa, como sabemos), e permite uma discriminação positiva para os residentes.

O que me mais me assusta é esta frase: "a autarquia pretende ainda criar atravessamentos pedonais sob a Avenida", o que significa que ela continuará a ser uma via-rápida de onde os peões devem ser afastados. Não é assim que se faz uma cidade humana e agradável.

Ponham o Mário Lino na metadona, por favor!

MC, 20.11.08

Como duas auto-estradas de Lisboa ao Porto não são suficientes, o governo está lentamente a lançar uma terceira. Um investimento fundamental, estruturante e indispensável, como todos sabemos. Fundamental porque.... bom, é óbvio. Estruturante porque estrutura. E indispensável também o será certamente.

É que nem o habitual e insípido argumento da "melhoria das acessibilidades" se pode usar aqui!

aqui tinha notado que tinha sido lançada a terceira auto-estrada paralela a sul do Porto, todas a escassos quilómetros umas das outras. Ontem pelo blogue Diário do Ambiente soube que a ligação dessa terceira auto-estrada a Coimbra já está na calha.

Quando o grave problema da nossa ineficiência energética (mais energia gasta pela mesma quantia de riqueza criada) se torna cada vez mais flagrante no fim da era da energia barata, que tem desastrosas implicações no nosso crescimento económico e na nossa balança comercial, quando Portugal tem um dos maiores - senão o maior - crescimento de emissões de CO2 do mundo desenvolvido, já sendo claro que vamos pagar milhões de multa referentes a Quioto, quando o peso do automóvel no transporte de passageiros e o peso da rodovia no transporte de mercadorias não param de crescer contrariando a tendência europeia, quando Portugal já tem das melhores - senão a melhor - rede de auto-estradas da Europa, quando Portugal tem uma vergonhosa rede ferroviária, o que faz o governo? Mais auto-estradas, convidando ao agravamento desta situação irracional de uso e abuso do automóvel e rodovia.

 

Mário, não deixes as drogas não.


Apelo aos habitantes da zona de Algés, Linda-a-velha: o Gonçalo do Ma Fyn Bach e outros "activistas" da zona, estão a querer lançar um projecto de apoio à mobilidade em bicicleta naquela zona, a Ciclo-Via.

Muito boas e muito más notícias para Lisboa

MC, 19.11.08

Excelente notícia para Lisboa: 2 dos 5 projectos a ser concretizados em Lisboa, que foram escolhidos pelos habitantes no âmbito do orçamento partiicipativo, são relacionados com a mobilidade em bicicleta.

 

Terrível notícia para Lisboa: como compensação pela nova ponte rodoviária que vai despejar dezenas de milhar de novos carros em Lisboa, e para "facilitar o seu escoamento" (adoro estes eufemismos) a Câmara pediu ao governo que pagasse pela adaptação de 3 percursos dentro da cidade. Traduzindo para português: dar-lhes um perfil ainda mais de via-rápida do que já têm hoje.

 

Péssima notícia para Lisboa: O PSD e o PCP na Assembleia Municipal chumbaram o projecto de bicicletas públicas em Lisboa... vá se lá saber porquê! Vale a pena ler o relato do João do Pedalófilo que esteve presente na sessão.

 

Grande notícia: a Cicloficina está de volta graças à Ana e ao Ricardo. Todos os terceiros domingos de cada mês das 14h30 às 16h30 no Crew Hassan, perto dos Restaurades, há oficina gratuita de reparação de bicicletas, e muito mais. A próxima será no dia 21 de Dezembro. Apareçam!

Privatização do Espaço Público

MC, 19.11.08

No dia em que, em pleno centro de Lisboa, quando eu estava a conversar no passeio junto a uma passadeira, uma automobilista me pediu para desviar para ela poder estacionar, lembrei-me de partihar estas fotos que um amigo me tinha enviado. São fotos de ruas de bairro no centro de Colónia, mas que poderiam ser de tantas outras cidades:

 

 

Para comparação, duas fotos de dois bairros centrais de Lisboa (Campo de Ourique e Campo Pequeno, ambos tidos como tendo uma boa qualidade de vida, tal como os preços das casas podem comprovar):

 

 

Na Alemanha, há aqui e ali alguns lugares de estacionamento. Em Lisboa... é o caos que se vê (os carros na foto debaixo estão estacionados, não estão a circular).

Eu nem gosto de mandar este tipo de bocas, mas a falta de respeito pelo espaço público é um sinal de subdesenvolvimento. Os automobilistas (e os responsáveis autárquicos que os apoiam) acham que têm o direito de ocupar o espaço público, independentemente de isso tornar a cidade mais feia, mais desagradável e mais inimiga dos peões. O que não falta são famílias com 2 e 3 carros, que se julgam no direito de abusar do espaço público. "Eu tenho que deixar o carro em algum lado, e este espaço é de todos" dirão muitos. Há até quem se queixe da EMEL - empresa pública - argumentando que o que é público não deve ser pago, mesmo sendo as receitas públicas, esquecendo-se que ele deixa de ser todos a partir do momento que o privatizam sem pedir autorização aos outros.

A responsabilidade de arranjar lugar para estacionar não deve caber à sociedade, mas a quem decide movimentar-se de carro. As cidades alemãs mostram-no bem, reduzindo os lugares públicos. Em Tóquio, antes de se comprar um automóvel é necessário provar que se tem um lugar para o colocar.

Transportes Públicos de Lisboa no Google Maps!!

MC, 18.11.08

Uma excelente notícia! A Google passou a disponibilizar informação no maps.google.com sobre a melhor maneira de fazer um dado percurso em Lisboa a uma dada hora de transportes públicos (Carris e Metro apenas) em Lisboa. Inclui informação sobre o tempo e o preço da viagem.

Já há vários anos que havia uma página que fazia o mesmo, a Transporlis, mas esta é  inflexível (só dá uma hipótese, enquanto o Google dá 3), difícil de usar e lenta. Continua a ter a vantagem de incluir todas as transportadoras e de abranger toda a Grande Lisboa.

 

Google Transit para Lisboa disponível aqui, com um exemplo do que a página pode fazer aqui. Já agora, o Google Maps também tem informação sobre o melhor percurso do ponto de vista de um peão.

 

Num post antigo, referi um serviço público que existe na Holanda e que está a anos-luz do Transporlis e do Google Transit Lisboa. Nem que seja porque inclui o país inteiro, e todas as transportadoras do país. E volto a levantar a mesma pergunta. Sendo consensual que um serviço assim (net e telefone) daria um enorme impulso no uso dos transportes públicos, e que o custo dele deve ser algo como a construção de um quilómetro de auto-estrada (e para isso nunca falta dinheiro), de que é que as nossas autoridades estão à espera? Que nos salve o Google!

 


A ler: Nuno Ribeiro da Silva critica tarifas de electricidade abaixo dos custos reais de produção no Público, algo que eu já tinha referido aquando dos posts sobre os carros eléctricos. Electricidade irrazoalvemente barata só vai promover um meio de transporte que na realidade não é assim tão verde e tão económico como se faz crer.

100.000 Visitas

António C., 18.11.08

O contador deste Blog passou as 100.000 visitas.

 

Um valor simbólico que  nos orgulha e deixa acreditar que temos alguma influência na divulgação de um modo de vida que não vê no automóvel um instrumento fundamental da mobilidade.

 

Somos visitados pela comunidade lusófona, principalmente Portuguesa e do Brazil, apesar de nos concentrarmos, principalmente, nos problemas das cidades portuguesas.

 

Devido á nossa acção constante de divulgação do lema "menos 1 carro"  a indústria automóvel começou a sentir o efeito da redução de produção, e começaram  mesmo a parar a produção em alguns dias do ano.

 

Por outro lado, outras indústrias sentiram o efeito positivo da discussão gerada no blog nos últimos 2 anos. Seguindo a tendência positiva em 2009 Portugal será o maior produtor Europeu de bicicletas. Uma nova fábrica em Serzedo prevê produzir 3400 bicicletas por dia.

 

O trabalho específico neste blog é voluntário, mas está de facto a ter impacto na vida económica dos portugueses.

 

José Santos, contabilista, residente em Lisboa, afirma "Desde que começei a fazer 30 minutos a pé para me deslocar para o trabalho sinto-me muito mais leve, perdi 3 quilos e poupo no ginásio e no estacionamento! Inspirei-me nos posts do blog menos1carro para mudar o meu estilo de vida."

 

Isabel Soares, estudante, diz "Graças ao menos1carro decidi experimentar ir de bicicleta para a Universidade. Há 3 meses que o faço, nunca mais gastei dinheiro no passe, nem tive de pedir o carro à minha mãe e sempre levo uns piropos quando a saia é levantada pelo vento e mostra a minha perna."

"Sempre dá para satisfazer o Ego" - Acrescenta

 

São já centenas de pessoas que se sentem mais saudáveis e se inspiram neste Blog para mudar de hábitos.

 

A todos, um "Muito Obrigado" pela visita e um sincero desejo de uma vida com mais interacções, mais saudável e mais animada.

  

 


Nota: Este texto mistura factos reais com considerações exageradas do que é a realidade da influência do Blog. Obviamente é uma tentativa de enaltecer através do humor o trabalho que tem sido feito por nós na divulgação pela Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas .

16 de Novembro: Se este dia não lhe diz nada, comemore!

António C., 16.11.08

Hoje dia 16 de Novembro comemora-se o dia mundial das vítimas na estrada.

 

Segundo esta notícia, em 2008, houve menos 12% de mortes na estrada do que em igual período de 2007, resultando, mesmo assim, em 642 mortos até ao dia 7 deste mês.

 

É sempre duro analisar número de mortes com estatísticas, e por isso, mesmo sugerindo uma evolução positiva, estes dados são MUITO preocupantes. É preciso não esquecer que factores com a subida do preço dos combustíveis levaram a uma menor utilização do automóvel e que poderá ter resultado em menos acidentes. (Mesmo que não tenha sido proporcional).

 

Mais de 2 mortos por dia é um valor que arrepia e que não pode ser encarado como um efeito colateral do nosso estilo de vida.

 

De qualquer modo este valor apenas representa o número de mortos no local ou que morrem no caminho para o hospital. Esta regra para cálculo do número de mortes na estrada irá ser alterada a a partir de Janeiro... de 2010. Anunciado hoje pelo presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária o cálculo do vitímas mortais na estradas portuguesas passará a contar com as vítimas que sucumbem no 30 dias seguintes ao acidente.

 

Mais informações sobre este dia: Aqui

 

 

Urgente: Toca a votar por Lisboa

MC, 14.11.08

A Câmara de Lisboa destinou 5 milhões de euros para o orçamento participativo. Isto é, dinheiro do orçamento cuja aplicação vai ser escolhida exclusivamente pelos habitantes. Depois de uma fase de recepção de propostas, esta semana temos a fase de votação, que acaba HOJE!

Basta um registo online, para se poder votar. Cada pessoa tem direito a 3 votos.

 

Alguns projectos interessantes:

 

Implementação de "Zonas 30" em Diversos Locais da Cidade
Bike Boxes Criação execução de caixas de paragens para bicicletas na frente dos semáforos Acessibilidades para bicicletas: Intervenção em arruamentos para melhorar a acessibilidade/circulação de bicicleta
Colocação de pilaretes em várias partes da cidade para facilitar o trânsito pedonal.
Requalificação do Largo do Rato.
Requalificação de largos e monumentos removendo lugares de estacionamento.
Elevação das passadeiras

 

Eu não tenho nada a ver com o que cada um escolhe, mas tenho um pedido a fazer:  se pensarem em votar no rebaixamento dos passeios junto às passadeiras, não o façam! Votem sim na elevação das passadeiras. É mais cómodo para o peão, serve de lomba e deixa bem claro a quem circula de carro que quem tem prioridade ali são os peões. O ideal, seria o que é feito no Norte da Europa, que é não sou elevar a passadeira, mas tornar a passadeira em passeio (como mostra este post)... mas isso já era pedir demais.

 

Antes que encham a caixa de comentáris, claro que a elevação de passadeiras só pode ser fitas nas ruas secundárias. Nas avenidas e ruas principais a solução será o rebaixamento do passeio.

 


A ler: um artigo no International Herald Tribune sobre o sucesso dos programas de bicicletas partilhadas na Europa, no post It's stupid to drive no CidadaniaLx.

Por que razão os peões deve(ria)m desrespeitar as regras IX

MC, 11.11.08

Este post tinha ficado esquecido na série dos "Por que razão os peões deve(ria)m desrespeitar as regras". O que me fez lembrar dele foi este excelente texto publicado no Público sobre um livro sobre o largo do Rato, que vai ser apresentado no colóquio "O Peão e a Cidade em Lisboa". Não resisto a transcrever parte do texto:

 

Para Böle-Richard, o objecto da sua pesquisa [Largo do Rato] pode ser encarado "como um símbolo da situação rodoviária geral de Lisboa e, portanto, de um processo de alienação e delapidação da cidadania pedonal e do espaço dito 'público', em benefício de uma sociedade motorizada desigual e cada vez mais constrangedora".
Itinerários impostos
(...) O resultado, diz, é "a agonia lenta e dolorosa de um espaço que devia ficar um lugar público, isto é, de encontros, de diálogo e de vivência".
Böle-Richard fala mesmo numa "inversão dos papéis entre espaço privado e espaço dito público", já que o Largo do Rato passou de espaço de "convivência" a espaço de "atravessamento", fazendo com que os estabelecimentos comerciais nas suas margens se tenham tornado "o único espaço de convivência possível, concentrando as sociabilidades mais 'tradicionais' de rua".

(...) "relações de força" que se estabelecem entre os condutores e peões, tendo notado que os últimos "geram estratégias temporárias espontâneas de resistência relativamente ao poder impositivo do trânsito e da própria organização infra-estrutural do referido largo". Isto acontece, por exemplo, quando o peão abandona o passeio e caminha pela estrada ou, como coloca Böle-Richard, quando este, "para retomar posse do espaço cívico que jamais devia ter deixado de ser seu, a rua, se atreve a abandonar as estruturas autoritárias que lhe estão destinadas".
(...) Outro problema apontado por Böle-Richard é o dos "semáforos pedonais com tempos de verde curtíssimos", que "incentivam" o peão a atravessar com o vermelho.
(...) constatou que nesta praça de Lisboa o peão "tem medo de atravessar a estrada, que também pensa duas vezes antes de sair de casa, que reduz propositadamente as suas deslocações no local e, pior ainda, porque abandona progressivamente o espaço cívico para se refugiar dentro de zonas comerciais, nos jardins dos arredores ou até em condomínios".
Nesse sentido, uma das conclusões do trabalho do antropólogo é que "entre a situação real do Largo do Rato e o discurso oficial existe um abismo". Böle-Richard acredita que isto acontece porque o último se baseia numa análise "apenas em termos de fluxos motorizados", que não tem em conta "a realidade vivida pelos seus utentes".

 

Bom, mas aqui vai mais um exemplo de que como as cidades são desenhadas a pensar em quem provoca conflitos de espaço e prejudica os outros, em vez ser feita de modo a beneficiar quem dá vida a este largo. Para ir simplesmente de A a B no Largo do Rato, os peões têm estas duas belas alternativas (uma com 4 e outra com 5 esperas descoordenadas!).

Escusado será dizer que o mesmo largo tem outros exemplos semelhantes, que apesar de tanta espera que os automóveis impingem ao peão não há um único semáforo vermelho que faça os carros esperarem pelos peões, e que eu nunca devo ter respeitado este percurso ridículo sempre que por ali passo. Junta-te a mim!

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