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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Status do popó

MC, 30.09.08

1. Publicidade brasileira (mas bem poderia ser portuguesa)

Como pergunta o Apocalipse Motorizado, "precisa ser mais claro?"

 

2. Um amigo, que "subiu financeiramente na vida", comprou um carro em segunda mão, aproveitando o facto de conhecer o dono anterior. Não tardaram os comentários "então foste comprar um carro em segunda mão?".

 

3. No artigo "Honestly, why are you driving a BMW?" os economistas Olof Johansson-Stenman e Peter Martinsson mostram que os consumidores dão um peso maior ao status na escolha do novo carro, do que eles admite. E este efeito é maior para homens, para donos de carros novos e para quem vive em localidades pequenas (o show é maior). Citando a conclusão "The present paper provides survey evidence that people do care about both status value and environmental performance when they are about to buy a car and that we tend to be more concerned with status and less concerned with the environment than we would admit even to ourselves."
São também feitas entrevistas vendedores de automóveis com experiência, e há 11% que indicam que o status do novo carro é muito importante, e 45% que é bastante importante.

E estamos a falar de consumidores suecos! Diria que no sul novo-rico da Europa, a coisa é bem mais forte.

 

P.S. a 29/10 Mais um exemplo, desta vez da imprensa portuguesa:

 


Evento aconselhado em Lisboa: AMANHÃ (1 de Outubro) às 17h30 no CIUL (Centro de Inf. Urbana de Lisboa no Picoas Plaza), seminário (relaxado) sobre "Place Making: Creating Great Cities“ com Cynthia Nikitin e Mário Alves, organizado pela Agência Municipal de Energia e Ambiente Lisboa e-nova.

Custos sociais do automóvel

MC, 28.09.08

Os custos de uma mobilidade baseada no automóvel não são só ambientais, económicos (infra-estruturas e combustíveis), de congestionamento e ocupação do espaço urbano. Também há grandes custos sociais causados pelo modo como as cidades são pensadas. São os velhos e os deficientes que têm dificuldade em deslocar-se, as crianças que não podem brincar na rua, o sentimento de insegurança por as ruas estarem desertas, a vida de bairro destruída por uma via-rápida. Aqui ficam mais dois exemplo curiosos.

 

1. Ruas movimentas vs ruas calmas

Um estudo feito em Bristol mostra que quem mora em ruas com muito trânsito conhece menos pessoas, interage menos com os vizinhos e ajuda-os menos, não tem sentimento de comunidade, vive principalmente na parte de trás das suas casas, mantém as janelas fechadas, não deixa as crianças brincar fora de casa, não as deixa ir sozinhas para a escola. Um artigo do Guardian a ler! (via)

 

2. Emoções fortes

O projecto BioMapping mede a intensidade das emoções (emotional arousal) das pessoas em vários pontos das cidades através de sensores biométricos. Em baixo, o gráfico perto de um cruzamento com trânsito intenso... A diferença em relação a outros pontos é abismal... e não serão certamente boas emoções!

Obrigado Mário!

 


Relatório recomendado: A Agência Ambiental Europeia diz que o sector dos transportes (e não a indústria!) é no global o principal emissor de poluentes perigosos para a saúde, sendo a fonte número 1 ou 2 em vários poluentes. 

Ainda a semana da mobilidade em Lisboa: peões

MC, 26.09.08

Além das boas notícias em termos de transportes públicos, alguns corredores BUS novos, zonas 30, e bicicletas, houve ainda boas notícias para os peões. Foi aprovada a Carta de Direitos dos Peões (para que servirá não sei), aumento da frequência dos semáforos para travessia em algumas zonas, diminuição de 1,2 para 0,8m/s como velocidade mínima para a qual o semáforo verde é garantido ao peão, repintura de passadeiras de qualidade (a qualidade da "repintura" que supostamente aconteceu há um ano foi vergonhosa) e medidas de acalmia de tráfego junto às escolas (como a sinalização na foto e zonas 30).

Infelizmente os quase dois anos que este blog já leva, ensinaram-me que estas declarações muitas vezes não passam disso. Já perdi a conta à quantidade de vezes que foi anunciada tolerância zero para o estacionamento ilegal e melhoria dos semáforos para peões... Pouco aconteceu e conheço até casos em que o peão foi prejudicado recentemente. O facto da ACA-M ser um parceiro nesta mudança dá-me contudo alguma esperança... vamos a ver.

Curiosamente, e isto é mais um sinal sintomático da submissão das pessoas nas nossas cidades, o título que o JN dá a estas medidas é "Peões tornam-se os verdadeiros reis da estrada"! Se o jornalista fosse a qualquer cidade do Norte da Europa, diria que os peões são os Imperadores do Universo.

As nossas cidades para os deficientes

MC, 26.09.08

Deficiente motora numa rua central de Amesterdão

 

Umas das maiores vítimas da ditadura dos automóveis nas nossas cidades são os deficientes motores e os invisuais. Se o espaço urbano já pouco é pensado para os peões "normais", para pessoas com necessidades quase nada é feito. Os invisuais não se conseguem deslocar numa cidade onde cada rua é uma via-rápida. Os deficientes motores não se podem movimentar nos passeios empilhados de carros estacionados, nos passeios estupidamente estreitos para criar mais lugares de estacionamento à superfície (off-topic: reparem que na foto não há estacionamento à superfície, como em muitas ruas das cidades do Norte da Europa), nos passeios cheios de obstáculos... e muito menos no próprio alcatrão como a senhora da foto! Aliás, alguém numa cadeira eléctrica a deslocar-se assim numa rua de Lisboa só entraria mesmo num filme trágico-cómico. Só é possível em cidades onde a pessoa é colocada em primeiro lugar e onde a acalmia do tráfego é levada a sério.

O JN tem um artigo recente exactamente sobre isto.

 


O Ricardo do Utilizar a Bicicleta na Cidade actualizou a sua lista sobre as possibilidades de levar bicicletas nos transportes públicos de Lisboa.

Bicicletada de Lisboa faz HOJE 5 anos!!

MC, 26.09.08

Hoje vamos tentar ter a maior bicicletada de sempre em Lisboa, a propósito do 5º aniversário de bicicletadas consecutivas na capital. Longe vão os tempos em que havia apenas 3 participantes (a segunda bicicleta fui eu e mais dois...), e felizmente longe vão os tempos em que se passava uma semana inteira sem ver nenhum ciclista a passar em Lisboa.

Não sei se o mérito foi do impacto visual e mediático das bicicletadas, da acção da FPCUB, das maiores preocupações com a partilha do espaço urbano e o ambiente, a quebra de preconceitos, o preço do crude, o mudança de mentalidades, o (que começa a ser um) hábito de ver outros ciclistas na cidade, mas é inegável que hoje a situação é diferente. Basta fazer um pequeno percurso a pé para ver uma bicicleta. Quando ouvi o meu pai a refilar com o comportamento "dos ciclistas" no trânsito (não interessa se tinha razão ou não), percebi que os "ciclistas" já não são indivíduos isolados, mas mais um grupo que faz parte do trânsito.

roubado daqui

 

Força pessoal, que ainda há muito para mudar.

Se sempre pensaste ir a uma bicicletada, mas nunca foste, HOJE é o dia ideal.

 


O transporte de mercadorias por ferrovia está a crescer em Portugal. Pela primeira vez há um privado a querer entrar neste negócio, onde o Estado tem mostrado algum empenho, e que é claramente a escolha de muitos países europeus e algo que vai crescer. Segundo o Eurostat Portugal é o 5º país com menos transporte ferroviário de mercadorias (sendo que os 3 primeiros são países insulares!) com 95% das mercadorias sendo transportadas por rodovia! A média europeia é 73% rodovia, 17% ferrovia e o resto pipelines e canais.

A bicicleta é política

TMC, 24.09.08

A semana da mobilidade findou há poucos dias. Foi impossível não reparar na avalanche de notícias que assaltaram os jornais, a rádio e a televisão; algumas reportam escolhas individuais de pessoas que optaram pela bicicleta como meio de transporte; outras, anunciavam programas ambiciosos de apoio à circulação da bicicleta por várias autarquias ou programas mais abrangentes de apoio à mobilidade, complementando as ciclovias com a implementação de zonas 30 ou uma linha de transportes públicos mais robusta.

 
Poderá afirmar-se também que o dia sem carros, no dia 22 de Setembro, constitui o píncaro duma semana em que o objectivo é precisamente demonstrar que a possibilidade duma comunidade funcional e aprazível não está necessariamente vinculada à existência de carros.
 
E no entanto todas as medidas, quando assomam assim abruptas, numa semana que lhes está consagrada, pecam por serem apenas propaganda e prometerem o futuro. É digno e salutar que os órgãos de poder sublinhem e promovam alternativas à mobilidade, mas enquanto a semana de mobilidade for uma semana de excepção continuaremos a ir a reboque dos dirigentes ou a desaguar em queixumes comiserados. O exemplo tem que partir dos próprios cidadãos e do pleno exercício dos seus direitos; e esses direitos obrigam à participação na vida pública e à exigência contínua duma melhor qualidade de vida.
 
E é nesta questão que o simples acto de escolher como cada um pretende deslocar-se envolve várias considerações não negligenciáveis. Andar de bicicleta não é só escolher o mais sustentável e quiçá o mais elegante dos transportes; é também não andar de automóvel. Ou seja, ao pedalar até ao meu destino escolho minguar a minha participação na exploração de um recurso finito e que além de poluente está na génese de inúmeros conflitos geopolíticos; escolho reduzir a dependência energética do meu país, no qual o sector dos transportes afecta de modo determinante a carga energética associada à produtividade (estatísticas da Direcção Geral de Energia 2007).
 
A um nível mais local, não prejudico a ocupação do espaço público e contribuo para uma cidade mais saudável; não meço as ruas somente como locais de passagem mas como potenciais sítios de paragem. Acima de tudo não patrocino essa impúdica e desenfreada indústria que é a construção civil e todos os grupos de interesse que ela alimenta; todas as suas supérfluas edificações, estradas e futuras pontes e políticos que lhes estão associadas pela raiz mais podre: a corrupção e a promiscuidade entre empresas e partidos.
 
Sem fundamentalismos, sem demagogias, sem nenhuma grande narrativa que lhe esteja associada. A bicicleta é apenas o meio de transporte mais eficiente que existe hoje em dia e ao lhe aderirmos estamos simplesmente a ser racionais, pragmáticos e concretos. E no oceano de teorias, parágrafos e manifestos dos dias de hoje, é raro encontrarmos algo tão simples mas tão poderoso e que está já aqui ao nosso alcance.

 

Várias boas notícias em Lisboa II

MC, 22.09.08

1. A oferta de transportes públicos à noite em Lisboa vai ter um forte aumento aos fins-de-semana. Autocarros das 22h às 5h a ligar as zonas de animação nocturna, elevador da Glória até às 4h30, a rede da madrugada da Carris volta a ter autocarros de 30 em 30min durante toda a noite e uma nova carreira, mais autocarros depois das 5h, e vai haver comboios e barcos às 4h30 (quem mora longe do centro bem conhece o problema daquelas horas sem transportes das 2h às 6h). Além de promover os transportes públicos e a redução dos automóveis na cidade, ajuda a diminuir a sinistralidade e aumenta a segurança à noite, por haver mais gente a pé.

(obrigado Tiago)

 

2. Foi lançado o concurso público para instalação de uma rede de bicicletas públicas em Lisboa (o pdf inclui uma foto "roubada aqui do blog!), que deverá começar em Junho de 2009 com 1000 bicicletas e 100 estações (o que já é um excelente começo!) e deverá crescer até 2500 bicicletas e 250 estações, tendo integração com os bilhetes dos transportes públicos. Em princípio o preço do passe anual rondará os 25 euros.

 

3. Lançamento de 65 estacionamentos para bicicletas na cidade.

 

4. Cursos de circulação de bicicleta em meio urbano com a FPCUB. Quem anda nas cidades portuguesas, bem sabe que o medo inicial é uma forte barreira.

 

5. No lançamento de umas pistas para passeios de bicicleta (cuja relação com iniciativas de mobilidade urbana eu ainda não compreendi), parecem serem anunciados faixas cicláveis  dentro da cidade para deslocações urbana! Mas não há detalhes nem no documento, nem na imprensa (que só destaca a tal pista de passeio)... Alguém sabe alguma coisa?

 

6. Por último, alguma ambivalência... 30 minutos de parquímetro de borla para os carros menos poluentes. Não sou contra alguma discriminação positiva, mas acho que isto faz esquecer que os carros menos poluentes também contribuem para o congestionamento, a ocupação do espaço urbano, o ruído e a sinistralidade. E vai em parte contra a ideia, tanto vezes defendida, que a entrada de veículos em Lisboa deveria ser controlada pelos parquímetros em vez das portagens.

 


Video recomendado: o programa Sociedade Civil da RTP2 sobre Transportes e Ambiente, que contou com a participação do Paulo Santos do projecto (mais de) 100 dias de bicicleta em Lisboa.

Eles não sabem que o sonho...

MC, 22.09.08

"Noite Branca" em Loulé no fim de Agosto

 

As ruas das nossas cidades só não têm sofás, pufs e mesas todos os dias, porque nós não queremos. (Não digo todas, mas uma aqui e outra ali...)

 


Londres está a disponibilizar duches para os ciclistas, para acabar com a desculpa do suor de quem vem de longe. Comparados com os custos e as infra-estructuras necessários para receber quem chega de automóvel (garagens, grande ocupação do espaço urbano, etc...), os duches são um grão de areia. (Via Bicis.info)

Boas notícias

MC, 18.09.08

Chegando à semana europeia da mobilidade, temos sempre várias boas notícias para a mobilidade sustentável. Duas (por enquanto... ) chamaram-me à atenção:

 

A CP alargou o transporte de bicicletas a todos os horários e a todos (?) os comboios, inclusivé urbanos... e  é grátis! (apanhado na mailing list da Bicicletada)

 

Vão finalmente arrancar as zonas 30km/h de máximo em Lisboa. Por enquanto apenas em 4 bairros, mas é um começo. Estão ainda previstos o "estreitamento das vias de circulação, a arborização dos passeios e a criação de passadeiras sobreelevadas" de acordo com o Público. São medidas fundamentais, porque a sinalização vertical raramente tem algum efeito. Estreitar as vias e arborizar os passeios cria uma sensação de aperto e de insegurança aos automobilistas que os obriga a conduzir mais devagar e com mais precaução. As passadeiras elevadas também servem de lomba, facilitam o tráfego pedonal e lembra os automobilistas que as passadeiras são para os peões... são os automóveis é que passam lá por especial favor e não o contrário.

 


Post recomendado: Inversão de valores no brasileiro Incautos do Ontem, sobre o tema que o Tiago ainda recentemente referiu: a responsabilidade máxima nos conflitos do trânsito deve caber primeiro de tudo a quem conduz uma caixa de metal, que pesa uma tonelada e que ocupa um exagerado espaço urbano, e não a quem anda a pé ou de bicicleta. O post começa com: Dia desses uma amiga minha soltou a seguinte frase: “Depois que me tornei motorista, eu virei uma pedestre muito mais cuidadosa.”. Enquanto eu pensava em uma maneira educada de dizer que ela é que deveria ser uma motorista mais cuidadosa por ter sido pedestre ou algo do tipo, minha amiga completou: “Tento não ser como os pedestres normais. Eles atrapalham demais.”.

Cidadania activa: o jornalismo e a sinistralidade rodoviária

TMC, 12.09.08

Na sequência desta notícia, que, ao ser lida com atenção, remete para o conflito idoso, vítima, ciclista contra condutor idóneo, acidente, automobilista, remeto-vos para uma entrada do Frederico que emula a sua missiva ao Jornal de Notícias, sublinhando precisamente o tratamento com que os acidentes rodoviários - e não apenas aqueles que envolvem utilizadores de bicicleta - são abordados pelos mais variados jornalistas.

 

Os sinistros são amiúde vistos quase como inevitabilidades: anda-se na estrada e está-se sujeito a abalroamentos, derrapagens, choques frontais e raramente, talvez nunca, os protagonistas são responsabilizados criminalmente, evaporando-se a culpa do local do crime; há dolo mas ninguém, parece, é imputável.

 

A situação é particularmente gravosa quando os intervenientes são peões ou bicicletas. Na referida notícia, muitas linhas são gastas tentando enfatizar a fragilidade, a loucura duma pessoa idosa que anda na estrada, pasme-se, de bicicleta.

 

Foi com este conteúdo, acho, que motivou o Frederico e todos aqueles que entendem a contínua desculpabilização dos automobilistas pela sua condição irresponsável a escrever aos responsáveis na imprensa por estas nuances no texto que, afinal, também ajudam a manter este estado de coisas. Um exemplo a seguir.

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