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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Por que razão os peões deve(ria)m desrespeitar as regras IV

MC, 30.06.08

Porque é que há passadeiras para peões (faixa para pedestres no Brasil)?

A sério, porque é que é o peão - que deveria ser incentivado - que tem direito a uma excepçãozinha no reino do automóvel e não ao contrário? Porque é que não é o automobilista - que é quem realmente causa os conflitos de gestão de espaço com a sua escolha - a ter ocasionalmente o direito a atravessar o espaço do peão?

Isto não é só uma questão de palavras. Primeiro mostra a hierarquia com que as regras são feitas. Segundo, se a coisa fosse feita ao contrário isso teria um forte efeito psicológico no automobilista que vai virar, que percebe que é ele o intruso, o que o leva a avançar com mais prudência. Terceiro, se a ideia for levada a sério, havendo passeio em vez de passadeira, o passeio serve como lomba obrigando o automóvel a abrandar.

 

Veja-se esta fotografia de uma rua na Holanda, o passeio é contínuo, a rua não.  Não é bonito?

 

 

Não estou a defender que haja este passeio, ou uma cor diferente no asfalto, em todos os cruzamentos. Isto serve apenas de mais uma prova de como as regras são desfavoráveis e injustas para os peões.

Mas parece-me que esta solução faz todo o sentido em ruas secondárias em zonas comerciais, residenciais e de forte tráfego pessoal.

 


Leitura recomendada: e porque já há muito tempo que não apareciam neste blogue fotografias de desrespeito das pessoas por parte dos automobilistas, Postais da Baixa em Lisboa no CidadaniaLx.

Greenwash descarado

MC, 28.06.08

"Para uma condução amiga do ambiente"

 

Que não se subestime a indústria automóvel na sua capacidade de dourar a pílula, de pintar de verde o que não o é, o chamado greenwash.  E são bem eficazes (excepto na Noruega, claro). Ainda há uns tempos num restaurante ouvia uma miúda, com os seus 16 anos, insistentemente a tentar convencer, com espírito evangelista, o pai a comprar um híbrido para o mano mais velho que, como bom jovem português, ia merecer o seu primeiro carro aos 18 ou 19 anos. Ela falava no híbrido como se dum tipo de carro totalmente à parte se tratasse.

 

Ironicamente a fotografia foi tirada numa estação de comboio em Berlim...

Por que razão os peões deve(ria)m desrespeitar as regras III

MC, 28.06.08

 

Em quase todos os cruzamentos há este semáforozinho, que diz aos automobilistas que podem atravessar apesar de ser a vez dos peões. Isto é, está verde para os peões, mas quando nenhum estiver a atravessar, também podes passar. (Isto em teoria, a prática é bem pior porque os automobilistas dentro da caixa de uma tonelada têm mais "poder negocial", mas enfim).

Mas por que raio é que não há semáforos destes para os peões? Semáforos que os deixassem atravessar quando está verde para os automóveis? Talvez porque o trânsito é sagrado, e os peões... que se lixem. De qualquer modo, é mais um exemplo de como as regras são injustas.

Lágrimas de crocodilo

MC, 28.06.08

TSF: Cavaco diz que Portugal está demasiado dependente do petróleo. (...) «Portugal continua a apresentar uma forte dependência energética do exterior e uma elevada intensidade da energia e dos transportes no PIB».

 

O homem que desatou a desmantelar ferrovia e a alcatifar o país de auto-estradas, que comentava jocoso que Portugal tinha mais AEs que Irlanda, ou seja quem começou o percurso para sermos hoje dos países mais dependentes do automóvel, vem agora criticar a "forte dependência do petróleo". Seria de rir, se não fosse triste.

 


Leitura recomendada: Five Reasons to Love $4 Gas (via), nomeadamente mais gente nos transportes, menos obesidade, menos sinistralidade, deslocações mais curtas, e uma visão optimista dos biocombustíveis.

Por que razão os peões deve(ria)m desrespeitar as regras II

MC, 27.06.08

Post "faça você mesmo"

 

1. Escolha um percurso pequeno (1 a 3km)

2. Munido de um relógio ou telemóvel com cronómetro, faça o percurso a pé. Sempre que perder tempo devido aos automóveis (semáforos, desvios) conte o tempo.

3. Faça o mesmo percurso de carro. Sempre que tiver que abrandar ou parar devido à travessia de peões (mesmo que tenha que parar não directamente pelos peões mas porque o carro à frente teve que parar, etc... por causa dos peões) conte o tempo.

 

Eu fiz isto duas vezes numa zona bem central em Lisboa (Avenidas Novas), uma zona com muitos peões, comércio e escritórios, à partida uma zona onde os peões são "bem" tratados. A pé tive que esperar 1m05s e 3m15s. De carro foram 6seg e 9seg.

 

Resultado neste caso: a cidade e as regras estão feitas de forma a que o peão tenha que esperar 17 vezes mais tempo dos que os automóveis.

 

Querem que eu respeite estas regras?

Felizmente os peões não as levam a sério... até me senti ridículo a fazer desvios e a esperar semáforos, o que mais ninguém fazia.

 

 


Leitura recomendada: o Thiago do Apocalipse Motorizado esteve na cidade mais amiga das bicicletas nos EUA, Portland.

Por que razão os peões deve(ria)m desrespeitar as regras I

MC, 26.06.08

Tenho andado a acumular vários exemplos do modo discriminatório com que as regras de trânsito e o desenho urbano tratam os peões em comparação com os automóveis. A situação deveria ser exactamente a inversa por duas fortes razões.

 

1. Os peões (e quem anda de transportes públicos ou bicicleta) dão vida à cidade, tornam-na humana e segura, usam o comércio tradicional. Os automóveis fazem-na sombria e desumana, enchem-na de ruído e poluição, usam e abusam do espaço urbano público, causam sinistralidade, empurram a vida para as periferias, para os shoppings no meio do nada. Imagine-se só por momentos uma cidade onde todos andam a pé e de transportes, e outra onde todos andam de automóvel. Alguém tem dúvidas?

2. Os semáforos e outras regras de trânsito só existem porque há quem queira andar de automóvel, e esse trânsito precisa de ser regulado. Se toda a mobilidade fosse feita a pé de autocarro, haveria 20 vezes menos veículos a circular, o que dispensaria essa parafernália toda. Faz algum sentido as desvantagens das escolhas de uns, recaírem sobre os que não tomaram essas escolhas?

 

Enfim, o mundo não é perfeito. Ao menos pedia que as regras tratassem os peões e os automobilistas de igual para igual, mas isso está muito longe de acontecer... veja-se os próximos capítulos.

 

Quanto ao título... A ideia que quero passar é que exigir aos peões que respeitem as regras é o mesmo que exigir aos servos do senhor feudal que lhe continuem a dar metade da colheita em troca sabe-se lá do quê. Só uso o condicional, porque há uma possível consequência chata para os peões que não as respeitam, consequência esta que não existe nem de perto nem de longe para os automobilistas: passar o resto da vida numa cadeira-de-rodas ou ir ter com o jc mais cedo.

 


Tertúlia amanhã em Lisboa na esplanada da Fábrica de Braço de Prata, sobre "Opções de transporte em Lisboa" às 20h30 (logo a seguir à bicicletada), organizada pela Plataforma de Discussão e Intervenção Ambiental.

No dia 2 de Julho às 19h na sala Visconti da Fábrica Braço de Prata, será projectado o documentário "The End of Suburbia" seguido de debate.

Vale sempre a pena lembrar: conduzir depressa custa... e muito!

MC, 25.06.08

Para quem precisa mesmo, mesmo, mesmo (mesmo?), mesmo de andar de automóvel é sempre bom lembrar que as velocidades altas pagam-se, e pagam-se bem.

 

A revista alemã Auto Bild fez uns testes medindo o consumo de combustível consoante a velocidade:

 

A velocidades entre os 100 e os 150 km/h, o consumo aumenta qualquer coisa como 0,8l/100km por cada 10km/ de velocidade, sendo que o aumento é bem maior nos motores a gasolina (a amarelo nos gráficos).

Por exemplo, numa viagem Lisboa-Porto para se ganhar 10 minutos, é preciso gastar  pelo menos mais 2,4l ou seja mais 3,5€. Vale a pena por 10 minutos? E digo "pelo menos" porque conduzir rápido numa estrada com trânsito implica mais travagens e acelerações, logo muito mais consumo.

 

Para quem não liga ao dinheiro vale a pena lembrar o aumento da sinistralidade com a velocidade, e que todas as emissões poluentes sobem com a velocidade a partir dos 80km/h.

 

Outras dicas da revista alemã:

Menos peso (menos 0,5l por cada 100kg)

Nada no tejadilho (bicicletas podem aumentar até 4,6l)

Pneus cheios (menos 0,2 bar significa mais 2% de consumo)

Bom lubrificante (mais 10€ na compra mas menos 5% no consumo)

Revisões frequentes

Não esperar enquanto o motor aquece

Acelerações a fundo (está bem traduzido!) em vez de acelerações lentas quando a baixas rotações e com motor a gasolina

Mudanças baixas (a 50km/h a quinta gasta menos 4,7l do que a segunda)

Deixar ir em vez de acelerar e travar na cidade

Poupar na electricidade (ar condicionado 0,7l, faróis de nevoeiro 0,3l, rádio 0,2l)

Desligar o motor quando parado (menos 1l na cidade)

Combustível normal em vez de super

 


Leitura recomendada: High Fuel Costs Could Spur a New Rationalism

Comboios para quê?

MC, 24.06.08

Nos últimos dias tem estado na moda questionar a construção do TGV. Eu sou muito céptico por natureza, por isso fico contente que se questione tudo. Além disso, não sou especialista em transportes, não me vou pôr aqui a discutir o que não sei (não é que se dê o caso de os críticos que se têm ouvido saibam mais do que eu, mas enfim).

Agora não percebo como é que se pode criticar o TGV e ficar calado em relação aos 1200km de auto-estradas que este governo lançou! Passa-me totalmente ao lado. Especialmente quando o país está cada vez mais forrado a asfalto e a ferrovia continua a ser desmantelada, contrariando a tendência europeia.

Esta gente nunca deve ter tirado o rabinho do bmw, nem deve ter vontade disso.

 

P.S. Pinhanços, concelho de Seia, terra natal da minha avó, ainda não tem auto-estrada. Que discriminação vem a ser esta, sr. ministro?

 


Leitura recomendada: dois famosos economistas norte-americanos dizem que o preço do crude não tem nada a ver com especulação. Aparentemente há três anos que se diz que é especulação... e uma bolha especulativa nunca dura tanto tempo.

Adenda: Mais um texto no mesmo sentido.

Mais uma prova da nossa bizarra obsessão pelo carro

MC, 23.06.08

As famílias portuguesas são as segundas na UE27 a gastar uma maior fracção do seu rendimento para andar de carro, segundo dados do Eurostat citados pelo Público.

Os dados são também bons para acabar com dois mitos.. Primeiro, o facto de gastarmos percentualmente mais com o automóvel não tem nada a ver com o nosso rendimento ser relativamente baixo, em primeiro está a Itália (mais rica) e em último a Bulgária. Segundo, não são as famílias mais pobres que são as mais afectadas pelo preço dos transportes. O quinto mais pobre gasta 8,1% e o quinto mais rico gasta 14,4% do seu rendimento em transportes.

 

Outros recordes:

Terceiro país com mais automóveis

Lisboa é a região europeia com mais auto-estradas

Segundo país em termos de peso do automóvel no transporte de pessoas

Último em termos de deslocações a pé

Terceiro país com mais quilómetros de auto-estradas por quilómetro de ferrovia

 

 


Leitura recomendada: Mobilidade sem automóvel como política de saúde, na França um projecto-lei defende que a obesidade deve ser combatida ao nível do planeamento local da mobilidade. No Carfree France.

Será o mesmo país?

MC, 22.06.08

Depois de ter escrito o último post, fiquei a pensar nele e noutro de há uns dias...

Será que o país que tem dinheiro para construir uma auto-estrada, que vai incluir um túnel de 5,6km, numa zona montanhosa (logo de construção mais cara), num local onde já há uma IP, e no local onde já há uma auto-estrada paralela 20km a norte, é o mesmo que não tem dinheiro para aproveitar a reformulação da sua principal linha ferroviária para levar o comboio ao centro de uma capital de distrito (o que certamente não necessitaria de um túnel daquele tamanho)?

Custa-me a acreditar que seja o mesmo.

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