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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Estamos quase lá

MC, 30.05.08

Encontrei dados mais recentes do que tinha escrito aqui.

Quilómetros de auto-estradas e linhas de comboio em Portugal (Eurostat)

 

Estamos quase a chegar ao dia em que haverá mais auto-estradas do que comboio em Portugal. E não me refiro a ferrovia de qualidade (a ferrovia dupla sobe a conta-gotas como se vê no gráfico) que há muito foi ultrapassada, refiro-me a qualquer carrilzeco. Com a quantidade de inaugurações que houve em 2006 e 2007 é bem possível que já tenhamos dado mais este pequeno passo no nosso desenvolvimento ao arrepio de uma boa gestão do território, ao arrepio duma boa eficiência energética, ao arrepio da mínima preocupação ambiental.

Felizmente o discurso mudou de há 20 anos para cá, mas foi apenas garganta. O modernismo bacoco à anos 60 dos nossos sucessivos governos (bem acompanhados neste tema pela grande maioria da população) está ali bem patente no gráfico. E o actual governo tem planos para mais 600km de auto-estradas a serem lançados na brevidade. Nem o Protocolo de Quioto, o fim da era do petróleo barato e o nosso esbanjamento em combustíveis, parece demovê-los.

Obrigado.

A bicicleta-transporte está na moda?

MC, 29.05.08

Há cada vez mais situações onde a bicicleta-transporte aparece como sinal de modernidade ou pelos menos algo com estilo.

O Bananalogic já tinha refererido uma publicidade do CC Amoreiras em Lisboa, a semana passada descobri um anúncio televisivo português (já não sei a quê, mas nada relacionado com bicicletas) onde se vê um ciclista em Lisboa. Hoje o DN traz um suplemento intitulado Metrópoles sobre várias grandes cidades do mundo, sendo a capa totalmente preenchida por uma ciclista na cidade. Até nos Morangos com Açucar, o programa cool por excelência, há quem use a bicicleta.

Os anúncios chamam-me particularmente a atenção, por serem feitos por equipas de marketing que não teriam qualquer interesse em associar a marca a algo "sem estilo".

 

Estaremos a ganhar esta batalha?

Quando 1 vale mais que 40

MC, 29.05.08

O nosso código da estrada é provavelmente dos mais pró-automóvel na Europa. Veja-se como menospreza os ciclistas, não obriga o condutor a ser cuidadoso com os peões, etc... Também há coisas boas, que infelizmente ninguém cumpre, que quase todos desconhecem e (pior ainda) que nenhum polícia faz cumprir. Por exemplo é proibido buzinar a torto e direito, e os peões que já estejam a atravessar uma rua têm prioridade sobre um automóvel que acaba de aparecer, independentemente de estarem numa passadeira ou não.

O artigo 19 diz que os condutores devem abrandar ou parar para que os autocarros possam retomar a marcha. Isto ninguém cumpre nem ninguém faz cumprir. E nem era preciso haver um código, bastava ter o mínimo de respeito pelos outros... mas isso é pedir demais. Um autocarro tem 40 pessoas a bordo, e um automóvel tem uma ou duas, mas para o condutor ele vale mais que os outros. É o "deixa passar à frente", "o autocarro que espere", etc... Andar de autocarro chega a ser desesperante, porque este egoísmo impede o autocarro de andar a uma velocidade média decente.

Nova Massa Crítica/Bicicletada em Chaves!

MC, 28.05.08

Aproxima-se a última sexta-feira do mês, dia de bicicletada, havendo este mês uma novidade. Chaves vai juntar-se a Lisboa, Porto, Coimbra e Aveiro. O encontro será na sexta-feira às 18h no Largo General Silveira, mais conhecido por Largo das Freiras. Os "organizadores" começaram entretanto um blog.

 

Chaves, que conheço muito bem, é uma cidade onde a bicicleta poderia ter um papel fundamental nas deslocações. Localiza-se numa planície (a "veiga infinda"), tem apenas 2 ou 3 subidas complicadas mas facilmente contornáveis, é uma cidade pequena e por isso a grande maioria das deslocações são curtas, os principais arredores também são facilmente alcançáveis de bicicleta, etc... "Basta" as autoridades e os flavienses quererem.

Devo dizer aliás que a Câmara introduziu a primeira linha de autocarro (infelizmente pouco frequente) e reduziu bastante o estacionamento no centro da cidade, tendo devolvido as três principais praças às pessoas. Infelizmente quem se senta ao volante, continua a achar-se superior a tudo, e é vergonhoso o número de automóveis que continua a circular na rua comercial pedonal. Quase tão vergonhoso como ver as pessoas sem volante, a afastarem-se submissamente.

 

Lisboa, Porto, Coimbra e Aveiro não se esqueçam!

 

 


Notícia recomendada: Les villes en ont assez de l'automobile encontrada no CarFree Times. Trata da vontade de várias cidades do Quebec em reduzir o tráfego automóvel, aumentar passeios e zonas pedonais, pôr empresas a financiar os transportes públicos aos seus trabalhadores, etc... ils sont fous ces canadiens!

Afinal há alternativas ao automóvel para o dia-a-dia III

MC, 28.05.08

Sempre que ando nos autocarros da Carris - e descontando o período nocturno - há algo que me chama sempre à atenção, a enorme quantidade de mulheres a bordo. Não é raro haver 20 mulheres e um homem, mas é raro ver mais homens que mulheres.

O que me leva a questionar... será que as mulheres vivem em bairros especiais com melhores transportes públicos que os bairros onde vivem os homens? Será que elas trabalham, estudam, vão passear a locais com melhor cobertura da Carris, enquanto os homens trabalham em locais à parte?

Afinal há alternativas ao automóvel para o dia-a-dia II

MC, 28.05.08

Há 10 e 20 anos o número de passageiros transportados nos transportes públicos de Lisboa era assombrosamente maior do que é hoje. Sendo que no seu global os transporte públicos não pioraram, tendo muitos até melhorado consideravelmente (metro, comboio Lisboa-Setúbal), como é que se pode dizer que em geral (não estou a falar de casos particulares) não há alternativas?

Não será que há uma boa dose de comodismo e novo-riquismo por detrás?

 

Claro que há uma alteração que pode ajudar a explicar isto, a localização dos habitações e dos empregos. Custa-me a querer que isto explique a maior parte da queda abrupta nos transporte públicos, mas é possível que explique parte. Estes casos só me convencem que os combustíveis devem continuar caros, porque são situações insustentáveis. No futuro próximo teremos que depender menos do automóvel, e nem sequer falo aqui de qualidade de vida, falo da queda da produção de petróleo e as alterações climáticas. É preciso mostrar a quem se afastou da cidade e dos transportes, que essa decisão tem (e terá cada vez mais) enormes custos, e evitar que outros façam o mesmo.

A Janela da Vizinha

MC, 26.05.08

Viver numa rua movimentada é estar condenado a sermos constantemente, 24h sobre 24h, a ser incomodados em casa sem o pedirmos. Um forte zumbido constante apimentado com agradáveis e frequentes buzinadelas (proibidas mas nunca penalizadas) e para os mais sortudos com uma buzinadela contínua de 5 minutos, quando alguém estacionou em segunda fila. É termos que aturar um barulho tremendo que não nos deixa descansar, ver a televisão sossegados e que causa em muitos problemas de concentração e ansiedade. A minha vizinha de baixo não se quis sujeitar a isto e teve que pagar 1400 euros para isolar minimamente o som com janelas duplas... apenas 3 salários mínimos. Agora multipliquem isto por todas as casas em todas as ruas movimentadas do país.

Estamos perante um caso em que a vítima é claramente quem acarreta com todas as consequências de um acto provocado por um anónimo, que passa totalmente incólume. É como ser obrigado a insonorizar a casa porque o vizinho organiza concertos às 3 da manhã, pagar o arranjo do  nosso carro quando estávamos parados e levámos com um outro em cima.

 

E aqui fica mais uma razão para portagens urbanas e parquímetros. Porque convidam a não usar o carro na cidade e permitem ao mesmo tempo que quem sofre seja indirectamente compensada, porque a câmara pode baixar outros impostos.

 


Notícia recomendada: a UE quer forçar a publicidade automóvel a ser mais explícita na informação sobre o consumo e as emissões de cada automóvel, e a usar slogans menos agressivos. Os Friends of the Earth alertam que desde 1999 que há uma directiva europeia que obriga a que esta informação esteja bem explícita (uma recomendação de 2007 aponta para 20% do espaço do anúncio), mas a indústria automóvel  voltou a desrespeitar mais esta norma. Esta associação tem uma campanha para denunciar este incumprimento (tendo já conseguido uma condenação na Bélgica), apelando a todos europeus que lhes enviem anúncios onde isto aconteça.

 

Lisboa é para carros não para pessoas - prova #203

MC, 23.05.08

 

Rua Marquês Sá da Bandeira, Lisboa, junto ao jardim da Gulbenkian.

60 cm é quanto sobra entre o muro e as bases dos vários candeeiros que existem ao longo do passeio. Ali não passam duas pessoas lado a lado a conversar, não passa uma cadeira de rodas, não passa um carrinho de bebé, e só com alguma dificuldade passa um peão de bengala ou com compras.

A rua não é estreita, o trânsito é pouco intenso não fazendo qualquer sentido atribuir-lhe 6 faixas (4 de rodagem e duas de estacionamento), logo resolver o problema é mais que fácil. Quantas mais décadas vão passar até que isto também se torne óbvio na cabeça dos responsáveis da Junta de Freguesia e da Câmara?

14* milhões de euros, queimadinhos todos os dias

MC, 22.05.08

Segundo a DGEE, Portugal importou em termos líquidos em 2007 cerca de 5 mil milhões de euros em petróleo e refinados (livres de impostos), ou seja 14 milhões de euros por dia. E isto foi no ano passado, quando o famoso Brent custou em média 52,7€. Neste preciso momento está a 84€, o que dá para imaginar quanto vai subir este custo em 2008.

São 14 milhões que todos os dias saem do  país porque nas últimas décadas apostámos exclusivamente no automóvel. 14 milhões porque construímos 2000km de auto-estradas e outros tantos de IPs e ICs, enquanto destruíamos a ferrovia e descurávamos os transportes públicos. 14 milhões porque as nossas cidades estão pensadas para quem anda de automóvel, e desprezam os outros modos bem mais poupadores de energia. 14 milhões porque queimar combustível dentro do carro dá status na nossa sociedade... e quanto mais  eles queimam, mais status dão.

14 milhões que vão enriquecer governos, que na sua maioria são corruptos.

14 milhões que poderiam ser bem menos, se já há muito tempo tivéssemos arrepiado caminho e feito as escolhas correctas.

Baixar os impostos agora é um convite ao "deixa andar", é adiar uma mudança inevitável, e é acima de tudo diminuir o dinheiro que fica por cá e ao mesmo tempo garantir às Arábias Sauditas, Iraques, Rússias, Angolas e Venezuelas que lhe vamos continuar a oferecer prendas cada vez mais chorudas todos os dias nas próximas décadas.

 

* 14 foi a conta que fiz, e trata-se das importações líquidas. Aqui cita-se o Diário Económico, onde se diz que o valor é de 18 milhões ao dia a preços de 2007, e que hoje será de 21. De qualquer modo estes 18 ou 21 são o valor da importação total, mas como nós reexportamos combustível, o custo estará certamente mais próximo dos 14.

 


Para um post bem mais optimista, dêem uma olhada nas notícias sobre o PediBus lisboeta recolhidos no bananalogic!

Sacanas

MC, 22.05.08

O meu avô materno morava em Benfica (Lisboa), onde eu passava sempre alguns dias das minhas férias quando era miúdo. Gostava especialmente de jogar futebol com o vizinho de cima, num campo de futebol aberto que havia mesmo em frente. Nós éramos só dois, ainda por cima novinhos, e frequentemente éramos forçados a voltar para trás porque o campo estava ocupado.

 

Bem no centro da fotografia pode ver-se o que aconteceu ao campo das minhas memórias de miúdo. Uns sacanas fizeram-lhe um "upgrade" para parque de estacionamento.

Menos um espaço para desporto, menos um espaço para relaxar, menos um espaço aberto para as pessoas, menos um espaço para os miúdos do bairro poderem brincar, correr e estar. Mais um espaço estupidamente convertido exclusivamente para esse monstro sedento de espaço urbano que é o automóvel.

 

 


Notícia recomendada: A Quercus apresentou hoje 10 propostas para promover a mobilidade sustentável. Concordo com quase tudo, mas como economista não posso deixar de torcer o nariz a estacionamentos gratuitos para automóveis junto a estações de comboio e a gasóleo profissional. Por que raio hão essas coisas de serem pagas por todos, inclusivé quem só anda a pé ou de bicicleta? O que deve ser feito é aumentar o preço das más alternativas, ou seja encarecer o estacionamento no centro em vez de oferecer estacionamento gratuito nos subúrbios.

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