Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas
Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas
Mais para ler
É do senso comum que os portugueses ligam muito à opinião dos outros. Talvez daí a expressão para inglês ver. Arrumar tudo à pressa e para debaixo do tapete: à superfície tudo brilha impecavelmente, enquanto que as bases tremem e apodrecem.
Segue uma recolha sobre os parágrafos dedicados ao tráfego da capital, presentes nos principais guias turísticos disponíveis no mercado. Palavras para quê?
Guia American Express
As pontes de Lisboa
Uma das mais famosas referências de Lisboa, a ponte 25 de Abril estabelece a principal ligação entre a cidade, Almada, e a margem sul do Tejo. Construída nos anos 60, quando os carros eram ainda poucos em Portugal, ficou congestionada de trânsito nos finais dos anos 80. Nos anos 90, foram abertas mais vias e construída uma linha de caminho de ferro por baixo para melhorar o trânsito.
Como circular em Lisboa
Lisboa é uma cidade agradável de explorar. A melhor maneira de o fazer é a pé, mas tem muitas subidas íngremes que fatigarão até o turista em melhor forma física. Os eléctricos e os elevadores são um descanso para o turista fatigado e oferecem excelentes vistas. São uma experiência única, mas podem não ser um meio de transporte eficiente, por isso os autocarros e o metro são uma escolha mais acertada. Conduzir um carro pela cidade não é muito recomendável: a cidade sofre de um engarrafamento quase crónico e o seu plano de ruas é cheio de surpresas inesperadas. Como resultado os condutores são impacientes. Contudo, os táxis oferecem o conforto dos automóveis e são baratos.
Como conduzir em Lisboa
Não é aconselhável conduzir um automóvel no centro de Lisboa. O tráfego é muito intenso e estacionar o carro pode ser muito difícil, apesar da construção recente de parques subterrâneos. Há muitas ruas de sentido único, o que torna a condução difícil. (...) Se necessitar de conduzir em Lisboa, não perca a calma e evite as horas de ponta, entre as 8h e as 10h e as 17h30 e 20h. Conduzir ao fim de semana é mais fácil. Acima de tudo, tente manter a calma mesmo que o outro condutor se mostrar agressivo. Também é preciso cuidado com os peões, pois as passadeiras estão mal assinaladas e os lisboetas preferem atravessar onde lhes convém.
Guia Footprint Lisbon, por Caroline Lascome
Car driving in
Getting around by car
When you have arrived by car, driving in the city is to be avoided. All the main sites are easily accessible on foot or by public transport and attempting to negotiate reckless traffic, precarious construction, complicated one way systems and the slender alleys of the older parts of the city can be horrendous.
Tram
A helter-skelter ride on one of
Inside Pocket Guide (Discovery Channel)
Bus/Tram
Lisbon can be packed with traffic, but the buses and trams go everywhere at a surprising speed – except for rush hours – avoid them.
Car
It’s no pleasure driving around the city (…)
Guia Verde Michelin
Nesta cidade compacta, de ruas estreitas, a densidade de circulação e a dificuldade de estacionar, fazem com que seja geralmente preferível deslocar-se a pé ou usando os transportes públicos sempre que possível.
Lisboa de automóvel
O visitante aperceber-se-á que, frequentemente, em Lisboa, o automóvel é mais um fardo que uma ajuda. Durante o dia, o trânsito pode ser caótico e as pequenas ruas dos bairros do centro ficam rapidamente congestionadas. Além disso, encontrar um lugar de estacionamento pode tornar-se um autêntico quebra-cabeças.
Embora os parquímetros não tenham invadido ainda as ruas de Lisboa, terá dificuldade em encontrar um lugar onde pretenda estacionar (...). Dada a excelente rede de transportes públicos e a densidade do centro da cidade, aconselhamos que deixe o carro em casa ou na garagem do hotel. Note-se que, regra geral, apenas os grandes hotéis modernos têm Parques de Estacionamento.
Como o futuro hotel do quartel da Graça. Não é Carmona?
Spiral Guide Portugal
Driving standards are generally poor and
Mais para ler
Os manifestos costumavam ser redigidos quando havia algo de tão implacável e indubitavelmente prejudicial à vida das pessoas que a passividade de modo algum podia constituir uma opção. Declamavam-se ideais, prometiam-se amanhãs e uniam-se pessoas e vontades contra uma realidade injusta. Algumas linhas procuravam delinear o que está errado, o que se deve fazer para corrigi-lo e o que se obteria caso as prédicas fossem seguidas. As pessoas identificavam-se com algumas frases e palavras, sentiam-se protegidas por elas e dedicavam-se de corpo e alma aos seus propósitos.
Hoje, não há manifestos. Há tédio. Indolência. Apatia, hedonismo. Já não se protesta, aceita-se; quem não concordar com esta tese, sofre de imaturidade. Os manifestos são vistos como perigosos, não tanto por apontarem algo de incoerente, mas porque as suas linhas, afirmam os críticos, se revestem de verdades transitórias, subjectivas e que poderão ser vistas como permanentes e absolutas; ora, tal como mostrou o século passado, tal é verdadeiramente indesejável. As ideias são perigosas. No entanto, se elas surgirem, há maneiras de se evitar um confronto. Primeiro, desconfie-se de qualquer grupo de pessoas que se una por uma causa. Examine-se. Depois, disseque-se. De seguida, desmistificam-se os seus propósitos, classificando-os de absurdos. Não se valoriza a iniciativa, a acção, a mudança; faz-se da crítica uma arte literária, seduzindo a opinião pública com os atávicos valores da ordem e da estabilidade e conservando o actual estado das coisas. E continuamos a queixarmo-nos dessa dor que nos mói, devagarinho, o nosso caro fado português.
Sempre vivi em Lisboa e há de ser sempre a minha cidade. Não se escolhe onde se nasce, tal como a família. O que hoje se passa na capital é apenas e só, espúrio. Presenciar a violação contínua do património arquitectónico, do espaço público, das ruas, do rio e das vistas, por gerações de políticos e pelos cidadãos é um convivo diário com o nojo. A cidade não é dos lisboetas, é de uma coisa anónima e omnipresente que a tem vindo a engolir. Derruba, embarga, edifica, constrói, proíbe, cancela, separa, mutila, fere, estropia. A cidade, o seu centro, está a fenecer. O símbolo deste tétrico banquete em que a cidade tem sido servida à modernidade, com pompa e circunstância, é o automóvel. O trânsito é caótico e desnecessário, estacionar a viatura tornou-se numa arte e o património vai sendo preterido para mais estradas, mais acessos viários ou mais parques de estacionamento.
Se as principais vantagens de um automóvel são o conforto, a segurança e a rapidez, expliquem-me os seguintes paradoxos: quem se sente confortável numa fila de trânsito, fechado num caixão metalizado? Um hino à liberdade, afirmam uns. Como pode haver liberdade num carro se é necessário obedecer aos semáforos e a demais sinalizações? Se é necessário conviver com o excessivo número de veículos, fumos, stress, buzinas? Quanto à segurança, até Agosto de 2007 morreram mais pessoas nas estradas portuguesas do que as mesmas em 2006. Rapidez? O carro não aproxima pessoas. O uso abusivo do veículo particular tem levado à segregação da população para os subúrbios; ao empobrecimento das ruas; à marginalização dos peões; à qualidade do ar atmosférico; à falta de vitalidade do comércio tradicional. É um nojo e tanto mais por ser tão flagrante. Uma comunicação social incipiente rotula medidas contra os automóveis de ridículas. Andar de bicicleta é um absurdo. Fechar ruas ao trânsito é um atentado à liberdade. Mais quejandos levariam ao vómito e à repulsa honesta.
Desencorajar o uso do automóvel enquanto se promovem outras medidas de urbanismo destinadas ao usufruto correcto das ruas, das praças e dos demais espaços públicos não é uma panaceia universal, mas são medidas urgentes para Lisboa. A falta de clarividência nesta matéria dos sucessivos executivos autárquicos, compactuados com alguns comentadores e jornalistas, é tão só e apenas um sintoma. Um sintoma da irracionalidade dos dias de hoje.
Mais para ler
Mais para ler
Mais para ler
Mais para ler
Mais para ler
Mais para ler