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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Apanhado de Notícias da Semana da Mobilidade

MC, 24.09.07
  • CML iniciou rebaixamento de passeios em Campo de Ourique, com o objectivo de ajudar os peões, principalmente os idosos, os deficientes em cadeiras de rodas e os carrinhos de bebé. Embora seja uma boa medida, fica no ar a dúvida levantada pelo blogue Os Verdes em Lisboa: porque é que são os passeios a serem rebaixados e não o asfalto a ser levantado. E não é só uma questão de simbolismo.
  • Depois de uma dúzia de alterações, os bilhetes de transportes públicos em Lisboa vão finalmente ser (ligeiramente) intermodais. Ou seja os utentes só necessitaram de ter um cartão, que vai servir para o Metro e a Carris. A solução passa por ter um bilhete que se carrega com valores em euros, em vez de "uma viagem obrigatoriamente de autocarro" ou "três viagens obrigatoriamente de metro".  Fico sem perceber porque se insiste em complicar, e não se usa o sistema holandês onde um bilhete tem N unidades, e se usa um número diferente consoante a viagem, e funciona em todos os transportes públicos do país.
  • Depois de anos a promover a compra de automóveis em detrimento da bicicleta, a China, que enfrenta graves problemas de saúde pública, aderiu ao dia-sem-carros em mais de 100 cidades. Mas há também relatos que dizem que foi para ocidental ler e não ver.
  • O dia-sem-carros em Lisboa, acabou por não ser um dia-sem-carros mas um dia sem trânsito nenhum, excepto bicicletas. Lembro que nas primeiras edições apenas os automóveis privados estavam proibidos de circular. Desta vez os autocarros e os taxis não escaparam. Embora tenha sido uma dia simpático, passa a mensagem errada. Em vez de se tentar mostrar que a cidade pode viver sem automóveis privados, e que o dia-sem-carros poderia ser um dia banal do quotidiano, fica logo bem claro à partida que é um dia excepcional sem nenhuma lição para tirar.
P.S. Que as minhas bocas não escamoteiem o essencial: são todas excelentes notícias.

Carros Verdes / Carros Amigos do Ambiente / Carros Ecológicos

MC, 21.09.07
Para uma boa lista de carros "menos inimigos do ambiente" consulte a página topten.pt da Quercus

Recordo-me de uma capa da revista do ACP no fim dos anos 80, aquando da implementação da gasolina sem chumbo em Portugal, que tinha na capa um fotomontagem com um automóvel com flores a sair do tubo de escape.
Hoje qualquer um sabe que esta visão era um verdadeiro disparate (o chumbo era apenas um dos vários poluentes), mas era esta na altura a mensagem que se passava: a gasolina sem chumbo é "amiga do ambiente".
Neste momento passamos por mais uma vaga de consciência ambiental (isto é um fenómeno cíclico), propícia ao greenwash por parte da indústria e algumas autoridades. Eles são "carros verdes", que "poupam o futuro do planeta", que "reduzem a emissão de CO2 " (como se o CO2 fosse o único gás emitido preocupante), etc... Sejamos claros: não há carros amigos do ambiente, há apenas alguns menos inimigos do ambiente (o que já é obviamente de aplaudir). Em vez de um cancro que mata o doente num ano, provocam um que mata o doente num ano e uns meses.

Aqui fica um pequeno manual de interpretação dos "carros verdes".

Híbridos: um carro híbrido não é um carro a gasolina e electricidade. O único combustível é a gasolina, mas o carro tem uma bateria que é carregada nas travagens e que depois é usada para funcionar um motor eléctrico. Há aqui um problema imediato: se um condutor já tiver uma condução "verde" e suave, fará poucas travagens, e a bateria não é muito carregada. Há alguma poupança de combustível com este sistema, mas também há muitos híbridos com consumos e emissões bem acima da média dos convencionais.
Biocombustíveis : Ao contrário do que se diz, um automóvel que use um combustível convencional com alguma adição de biocombustível (e é disso que se trata), não emite menos gases do que os que usam o combustível convencional a 100%! A vantagem está no facto de parte do carbono que é emitido, não provir do petróleo mas do carbono de plantas, ou seja carbono que foi capturado à atmosfera por fotossíntese. Há uma espécie de reciclagem do carbono, em vez de uma adição contínua de CO e CO2 à atmosfera. De qualquer modo, apenas as emissões de carbono são "reduzidas", mas há outras. Acresce a isto duas desvantagens: primeiro o biocombustível não cresce dentro das estações de serviço. É necessário produzi-lo em larga escala, processá-lo, transportá-lo, etc.. o que tem um enorme impacto ambiental. Segundo, um aumento da procura de produtos agrícolas para a sua produção leva a um aumento do seu preço, o que afecta especialmente as populações mais pobres. (Para mais informações consultar o tema biocombustíveis no excelente blogue Ondas3 ).
Eléctricos, ar comprimido, hidrogénio, etc...: Os automóveis equipados com esta tecnologia não emitem de facto poluentes localmente, mas o "combustível" usado teve que ser produzido em algum lado. Ou seja os custos ambientais não se vêem quando se olha para o carro, mas eles estão na central eléctrica, que produziu a energia primária (e não, não é possível ter um país inteiro a consumir electricidade e a andar de carro baseado apenas em energia eólica, solar e afins). Acresce ainda um problema tecnológico, o da baixa eficiência energética destes propulsores. Por uma quantidade x de energia gasta na locomoção do carro, foram produzidos 10x ou 20x de energia eléctrica (no caso dos eléctricos as perdas são menores).

Por fim, esta análise apenas toma em conta as emissões de gases, mas os custos ambientais não se ficam por aí. A produção industrial de automóveis, pneus, o desmantelamento do carros velhos, a poluição sonora, etc... têm também enormes custos ambientais.

Por estas e por outras é que o governo norueguês proibiu o uso de "expressões verdes" na publicidade a automóveis, tal como a publicidade ao tabaco e comida pouco saudável não pode usar expressões como light ", "suave", "magro", etc... (notícia via Ondas3)

Peões em Lisboa

António C., 20.09.07
Em plena semana da mobilidade, aqui ficam duas reportagens da Sic sobre a mobilidade dos peões. A primeira foi filmada já em Maio de 2006 e a segunda passou hoje, dia 19 de Setembro de 2007.





Felizmente ainda aparecem na política pessoas com verdadeiro sentido cívico e vontade de alterar o estado das coisas. Um vereador sem pelouro a efectuar verdadeiro serviço público, quanto mais não seja pela divulgação dos problemas.

Parabéns Manuel João Ramos!

P.S.- O conceito de ruas partilhadas ainda não ficou explicado, no entanto é assunto a voltar brevemente neste Blog!

O futuro está a chegar #2

TMC, 19.09.07
Oliveira de Azeméis vai ter serviço de transportes urbanos

O Serviço de Transportes Urbanos de Azeméis (Tuaz) vai entrar em funcionamento dia 17, anunciou hoje fonte da Câmara de Oliveira de Azeméis.

O arranque do projecto coincide com a realização da Semana da Mobilidade, iniciativa que serviu, nos últimos anos, como «balão de ensaio» e de sensibilização da população para a importância do transporte público, afirmou à Lusa o vereador Albino Martins.

Chegou o momento de colocar o circuito urbano a funcionar e está tudo em condições para arrancarmos, disse O autarca.

Não obstante a câmara estar confiante na adesão dos utentes aos «Tuaz», vai ser lançada uma campanha de divulgação do circuito durante Semana da Mobilidade, a decorrer entre 17 e 22 de Setembro.

Nas paragens vão ser afixados cartazes a divulgar o trajecto e quais os horários do autocarro que irá assegurar o serviço de aproximadamente quatro quilómetros.

É necessário que, em termos de mobilidade, se aposte mais no transporte público em detrimento do automóvel, sustentou Albino Martins.

O autarca garantiu que a câmara está em condições de servir os oliveirenses que não têm grandes alternativas ao nível de transporte.

Bem cedo a população se irá aperceber da importância deste transporte urbano, aderindo em grande número, frisou.

A área de influência dos «Tuaz» compreende uma região que irá registar, no futuro, uma grande concentração de pessoas.

O circuito vai incidir entre a zona mais distante de Silvares e Santiago de Riba Ul, servindo a zona industrial, o hospital, o futuro centro de saúde e as escolas da cidade, revelou Albino Martins.

Também as zonas servidas com pequenas e médias superfícies comerciais vão integrar, a partir do dia 17, a linha dos transportes urbanos.

O preço dos bilhetes é de 0,70 cêntimos, com desconto para crianças, deficientes e idosos, que pagam 0,50 cêntimos por viagem.


Diário Digital / Lusa

Diz que é uma espécie de Avenida (ou Lisboa é para carros não para pessoas - prova #41)

MC, 19.09.07
Segundo o dicionário da Texto Editora:

Avenida: rua larga, geralmente orlada de árvores; alameda.
Auto-estrada: estrada com várias pistas de rodagem em ambos os sentidos, separados entre si por placas de metal, com os acessos condicionados, sem cruzamentos de nível (...)


Na parte norte da "Avenida" da República, entre o Campo Pequeno e Entrecampos, ou seja das zonas mais centrais da cidade, temos o seguinte cenário
  • Onze faixas de rodagem
  • Túneis, com entradas e saídas em vários locais
  • Passeio estreitíssimo do lado leste (em contraste com as onze faixas)
  • Troço de meio quilómetro de "avenida" sem qualquer passadeira ou semáforo para o atravessamento dos peões
  • As pistas de rodagem são separadas por um muro de betão, com uma rede metálica por cima
  • Forte ruído devido ao constante trânsito

Dir-me-ão que o muro de betão com rede se deve ao perigo dos peões que insistiam em atravessar (que manias que têm os peões, atravessar avenidas!), que a ausência de semáforos se deve à fluidez do tráfego nos túneis, que as onze faixas são necessárias para maior segurança...
Ok, ok, ok. Mas veja-se o resultado final. É isto que queremos para Lisboa?

Também publicado em CidadaniaLx

O futuro está a chegar

TMC, 19.09.07
Torres Vedras penaliza quem estacionar no centro da cidade

A Câmara de Torres Vedras vai instalar parquímetros em toda a cidade no início do próximo ano, penalizando o estacionamento na proximidade do centro histórico para obrigar os automobilistas a utilizarem o transporte público.

Todo o estacionamento vai ser cobrado e deixa de haver estacionamento gratuito nas artérias da cidade, explicou à Lusa o presidente da Câmara, Carlos Miguel, revelando que as novas regras para estacionar o automóvel na cidade deverão entrar em vigor no início de 2008, muito provavelmente no primeiro trimestre.

Segundo o autarca, a filosofia é efectivamente penalizar o estacionamento das zonas mais centrais, onde a tarifa poderá ter um custo de 60 cêntimos na primeira hora, sendo agravada para um euro nas restantes, para que a pessoa que vai trabalhar e precisa de seis ou sete horas de estacionamento opte por estacionar no Parque Regional de Exposições, onde paga 50 cêntimos por um dia inteiro ou cinco euros por mês, e vir no Vaivém para o seu local de trabalho, exemplifica.

Em meados deste ano, a autarquia colocou em funcionamento um sistema urbano de transportes públicos gratuitos até ao centro da cidade para quem estacionasse no parque periférico (mil lugares disponíveis), mas os autocarros circulam vazios.

É um instrumento de mobilidade que está muito aquém das expectativas, reconhece Carlos Miguel, tendo em conta que a linha «Vaivém», apesar de dispor de 11 paragens percorridas de 10 em 10 minutos, tem uma média de 20 utilizadores ao dia.

A medida tem como objectivos criar maior rotatividade no estacionamento e libertar lugares para os moradores.

A autarquia vai distribuir cartões de residente, permitindo a cada morador dispor de um ou dois lugares [fixos] para estacionar a viatura no local da sua residência, mediante o pagamento de dez euros ao ano.

O plano de mobilidade tem associada a deslocalização da rodoviária do centro da cidade para o Parque Regional de Exposições, onde será construído o novo terminal pelo valor estimado de 1,3 milhões de euros.

Já encomendámos o projecto e estamos a trabalhar para conseguir financiamento para executar o projecto em 2008/2009, adiantou o autarca.

A autarquia quer acabar com as mais de 500 viaturas que estacionam nas imediações da Rodoviária, porque são pessoas que deixam aí o carro o dia inteiro para apanhar o transporte que as levará a Lisboa, devendo o actual espaço ser transformado em parque de estacionamento, com capacidade para 270 viaturas.

O novo regulamento de estacionamento deverá entrar em discussão pública ainda este mês e entra em vigor depois de votado pela Câmara, sendo uma peça fundamental do Plano Estratégico de Mobilidade (elaborado pelo Instituto Superior Técnico) aprovado este mês em sessão de Câmara.


Diário Digital / Lusa

Acabar com os carros em Londres...

MC, 18.09.07
Pequena notícia no Público de Domingo (com comentários meus entre [...]):

Acabar com os carros em Londres é a proposta de investigadores britânicos que publicaram há dias as suas conclusões na revista The Lancet [uma das mais famosas revistas científicas em medicina, especialmente em saúde pública]. Hoje em dia, sete de cada dez viagens de automóvel em Londres cobrem distâncias inferiores a oito quilómetros . Ora, a erradicação do automóvel da capital do Reino Unido e a sua substituição por bicicletas, marchas a pé e recurso aos transportes públicos se necessário - permitiria reduzir em 72 por cento as emissões de CO2 até 2030 [e obviamente de muitos outras emissões de impacto mais local]. Ainda na mesma revista, é feita um tipologia dos utilizadores de automóveis londrinos e calculam-se os benefícios para a saúde de uma tal mudança do estilo de vida. Coisas como gastar 33 mil calorias adicionais por ano - e para as mulheres, reduzir os riscos de cancro da mama em 25 por cento ou aumentar a esperança de vida em um a dois anos. E também, para os homens, ver o seu risco de morte prematura reduzida até 40 por centro e o risco de diabetes em 30 por cento.

Acabar com os carros em Londres?? Estas gentes do Norte da Europa tem cada ideia!

Entrevista a Hermann Knoflacher I

MC, 17.09.07
Aqui ficam alguns excertos de uma excelente entrevista a Hermann Knoflacher, professor de Transportes na Universidade Técnica de Viena, à revista Die Zeit :

Qual é a influência que a motorização tem na nossa sociedade?

Uma influência inimaginável. O carro é como um vírus , que se estabelece no cérebro e altera totalmente o código comportamental, o sistema de valores e a nossa percepção. Um homem normal caracterizaria o nosso habitat actual como totalmente maluco. Nós mudamo-nos mais ou menos voluntariamente para casas vedadas com vidros especiais, de modo a deixar o barulho, o pó e as emissões dos automóveis lá fora. Isto é uma inversão total de valores, que já nem nos salta à vista.

Como chegou a essa opinião?

(...) No carro precisamos apenas de um sexto da nossa energia corporal [para nos movimentarmos] e temos a impressão de ser imensamente rápidos e fortes. Isto é uma componente. A outra é partir-se do princípio no planeamento urbano, de que o carro deve ser levado a uma enorme proximidade de todas actividades. Assim destrói-se o nosso habitat, o transporte público, o comércio tradicional e por último as redes sociais, que foram construídas pelo homem no correr dos milénios.

O carro destrói a evolução?

Não, mas as conquistas humanas das últimas gerações foram destruídas pelo carro.

A era do automóvel representa o nosso declínio cultural?

Eu não diria isso assim, porque o declínio cultural  não é um verdadeiro problema na minha opinião.  Apenas quebra uma camada de evolução mais tardia. Muito piores são os futuros danos estruturais, que são trazidos pelo automóvel.

O andar de automóvel é um vício?

Com certeza! O automóvel apodera-se das pessoas. Os automobilistas distinguem-se mais dos homens do que os insectos.

O que quer dizer com isso?

Os insectos têm em comum com os homens, o facto de vencermos a mobilidade com a nossa energia. O automobilista não. E não existem insectos, que destruam o habitat dos seus descendentes por comodismo, ou que se movam tão rápido que se possam matar.

(...)

É um crítico das entidades de transportes e ao mesmo tempo planificador. Como é possível?

No início da minha carreira descobri que a ciência dos transportes estava baseada em meras suposições. As consequências para a sociedade ou o ambiente não eram então tomadas em conta. Ninguém se preocupava se haveria problemas de ruído ou emissões, se haveria mortes, se a economia se alterava ou se criaria desemprego.

(...)

Assumia-se que o aumento da motorização levaria uma melhoria na mobilidade. Entretanto sabe-se que o número de viagens de automóvel cresce, mas a soma das viagens efectuadas é a mesma, porque diminuem as viagens por transportes públicos e a pé ao mesmo tempo. A segunda suposição errada é aquela da poupança de tempo com um aumento da velocidade. Esta tese faz parte da base de muitas análises económicas no planeamento de transportes. Na realidade não há nenhuma poupança de tempo através de velocidades mais elevadas. Aumentam apenas as distâncias para o mesmo tempo de viagem.

Como se sabe isso?

Ao analisar-se criticamente o nosso orçamento temporal. Curiosamente o tempo gasto diariamente para mobilidade é mais ou menos constante em todo o globo. No entanto as distâncias envolvidas são diferentes.(...)

Eixo N-S, uma auto-estrada dentro de casa!

António C., 17.09.07
Antes de começarem as obras para o troço restante do Eixo N-S, pensava curioso, como seria possível passar uma estrada daquela dimensão, por um enredo habitacional tão denso.

De facto, a (auto)estrada vem sendo construída e os enormes viadutos cortam a freguesia do Lumiar, ficando vários prédios a escassas dezenas de metros da enorme estrutura.

Lembrei-me desta situação assim que vi o seguinte video enquanto procurava pelo youtube videos alusivos ao dia sem carros.

Sendo que provavelmente a calçada de Carriche ficará um pouco mais desanuviada, a verdade é que os residentes na zona ficam com uma auto-estrada praticamente dentro de casa.

Valerão a  pena todo estes esforços para escoar uma maior quantidade de automóveis, incitando infinitamente o seu uso? Afastar as populações do centro da cidade e condicionar as vidas dos que (ainda) decidiram ficar?

Amarramo-nos em nome daquele que é um falso símbolo de liberdade, o automóvel.