Foi hoje "inaugurado" (
por apenas 3 horas) em Lisboa um dos maiores buracos em Portugal. Foi já há seis anos que Santana Lopes meteu na cabeça que iria prolongar o túnel das Amoreiras até ao Marquês de Pombal. Supõe-se que a ideia seria melhorar a fluidez do trânsito.
Mobilidade: Aqui começa o absurdo. Enquanto todo o mundo desenvolvido opta por dificultar a entrada de automóveis nos centros das cidades através de portagens urbanas, parquímetros, faixas e ruas exclusivas para transportes públicos, zonas sem trânsito, etc... Lisboa prolonga uma auto-estrada até ao centro da cidade. A partir de hoje é possível chegar à Avenida Fontes Pereira de Melo sem passar por um único semáforo. Se isto não é uma promoção do transporte individual, não sei o que será. Santana Lopes teve ainda o descaramento hipócrita de afirmar, aquando do início das obras, que ao apelar ao uso do transporte público - de modo a reduzir as óbvias complicações no trânsito durante as obras - a Câmara estava a enviar um forte sinal aos cidadãos para que estes mudassem os seus hábitos deixando o automóvel em casa.
O estudo do tráfego foi também severamente criticado, entre outras coisas por usar contagens feitas num só dia.
Falta de Planeamento: A maioria dos lisboetas nunca se apercebeu que o concurso público foi lançado sem um plano concreto do buraco. Já as obras estavam a decorrer há largos meses e ainda se discutia se haveria saída na Av. Fontes Pereira de Melo, na Av. António Augusto Aguiar (não confundir com Joaquim António Aguiar onde começa o buraco) e para o parque de estacionamento.
Ambiente: Embora a necessidade de um estudo de impacto ambiental seja discutível (foi precisamente isso que levou o buraco a tribunal), neste caso seria fundamental devido às correntes de águas subterrâneas, tal como alertou Gonçalo Ribeiro Telles (que foi prontamente corrido da CML). Mas não é preciso ser especialista para perceber que a construção de um túnel que atravessa o vale de um lado ao outro vai ter um forte impacto na hidrologia do local e por consequência na estabilidade dos solos em toda a zona do Marquês.
Outro atentado ambiental foi o corte que foi necessário fazer a dezenas de árvores centenárias que havia no local.
Outros problemas ainda: ruído, destruição da paisagem urbana, poluição atmosférica.
Segurança: Há ainda a óbvia perigosidade de um túnel que tem o dobro da inclinação máxima recomendada. Em caso de acidente poderá haver um choque em cadeia, cujas vítimas dificilmente serão socorridas num curto espaço de tempo devido aos difíceis acessos. Vários bombeiros
apontaram para várias falhas de segurança. Isto a somar à curta distância (poucas dezenas de centímetros) entre este túnel e o do Metro. A Câmara insiste que é um túnel seguro, teimosamente confundido vigilância apertada do funcionamento com segurança. Curiosamente a circulação foi proibida a pesados por
motivos de segurança e a Câmara tem vindo a distribuir panfletos sobre os procedimentos em caso de acidente.
Oposição: Descontando o José Sá Fernandes, a oposição só soube tocar timidamente no ponto da segurança. Nunca se atreveu a questionar o impacto no ambiente e na mobilidade da cidade.
Os movimentos ambientalistas (Quercus, GAIA, PEV, Lisboa Verde, LPN, etc... ) ainda recolheram assinaturas para um referendo (não aprovado), organizaram uma manifestação, publicaram vários comunicados e tiveram várias reuniões, mas infelizmente o seu poder foi demasiado fraco.
Meios de Comunicação: Os jornalistas foram estranhamente servis. O expoente máximo terá sido há um mês quando se lia e dizia que o túnel tinha sido considerado um dos mais seguros da Europa. Só quem leu atentamente as notícias percebeu qual era a fonte: Santana Lopes, esse especialista em Engenharia Civil.
Ponto Alto da Imbecilidade: Na sua cega defesa do buraco Carmona Rodrigues tem insistido nos últimos dias que o ar dentro do buraco será menos poluído que cá fora. Será que foram instaladas condutas desde a Serra de Sintra?
Ler Mais: A ACA-M publicou um excelente
comunicado (mais factual e técnico que este post e com vários links com mais informação) sobre o buraco.