O Público de hoje cita um vasto estudo sobre o efeito da proximidade do trânsito no desenvolvimento dos pulmões das crianças. Os resultados são os que seriam de esperar, mas com a vantagem de ser um estudo ao longo do tempo (muito mais correcto e preciso do ponto de vista estatístico): défices respiratórios para os mais próximos das vias rodoviárias.
Já era tempo de a União Europeia obrigar os automóveis e os combustíveis a serem vendidos com avisos semelhantes ao do tabaco. A variedade da lista de possíveis avisos a incluir está garantida.
Pulmões das crianças que respiram a poluição do trânsito automóvel desenvolvem-se mal
Estudo feito na Califórnia ao longo de 13 anos alerta para as origens de problemas respiratórios e cardíacos sentidos na idade adulta
As crianças que vivem perto de estradas com muito trânsito automóvel têm problemas de desenvolvimento nos pulmões, concluiu o maior e mais prolongado estudo deste tipo, publicado on-line esta semana pela revista médica The Lancet. E quanto mais próximo das estradas movimentadas as crianças vivem, mais pronunciados são os problemas, concluiu a equipa de James Gauderman, da Universidade da Carolina do Sul (EUA).
Durante 13 anos, os cientistas acompanharam 3600 crianças da Califórnia. Os efeitos da poluição automóvel são mais notórias nas que vivem a 500 metros de uma via rápida desde os dez anos: aos 18, tinham uma função respiratória significativamente mais reduzida do que os que viviam a 1500 metros daquelas vias.
"Uma pessoa que tenha défices na função respiratória em criança tem grandes probabilidades de ter pulmões menos saudáveis toda a vida", explicou James Gauderman, citado pela Reuters.
A função respiratória é medida com base na quantidade de ar que uma pessoa consegue exalar depois de ter inspirado profundamente, e na rapidez com que o consegue fazer.
Perceber os efeitos da poluição sobre os pulmões durante este período de desenvolvimento acelerado (entre os dez e os 18 anos) era o principal objectivo do estudo, explica um comunicado da The Lancet.
Outros trabalhos permitiram já concluir que a exposição à poluição do trânsito pode causar efeitos adversos sobre o sistema respiratório e cardiovascular e conduzir a doenças como a asma.
Mas faltavam dados para perceber se a poluição poderia afectar o desenvolvimento dos pulmões durante a adolescência. "Esta questão é importante por causa da relação já estabelecida entre a diminuição da função respiratória e os níveis de morbilidade e de mortalidade na idade adulta", adianta o comunicado da revista.
Pensar sobre o crescimento das cidades
"Em muitas áreas urbanas, o crescimento populacional está a levar à construção de habitações e escolas perto de estradas movimentadas. Reduzir a exposição a poluentes relacionados com o tráfego automóvel poderia conduzir a ganhos substanciais na saúde pública", aconselham os cientistas.
Num comentário que acompanha o artigo sobre a investigação, Thomas Sandström (Hospital Universitário de Umeå, na Suécia) e Bert Brunekreef (Universidade de Utrecht, Holanda) apontam no mesmo sentido: "Estes novos dados levam-nos a colocar importantes questões para a sociedade, sobre a estrutura do sistema de transportes, os motores, combustíveis, a combustão e as poeiras que se levantam por causa do trânsito nas áreas urbanas."