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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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80 km/h de máxima na auto-estrada

MC, 20.12.06
80 de máximaO Governo Regional da Catalunha aprovou ontem uma proposta de redução da velocidade máxima de 120 para 80 km/h nas auto-estradas em zonas urbanas para diminuir a poluição em 30%.

O impacto da velocidade nas emissões é uma questão muito pouco conhecida. Todos sabem que a partir dos 60 ou 70km/h se gasta mais combustível com a velocidade, mas este aumento é constante. Com as emissões a história é muito diferente. Passar dos 120 para os 140 pode significar o dobro da poluição. Isto deve-se à incapacidade dos motores de fazer uma combustão correcta do combustível.

Claro que os valores dependem muito do carro, da temperatura, do combustível, etc... mas o fenómeno está lá sempre. A única referência que encontrei foi da Agência de Protecção Ambiental Americana que diz que aumentar a velocidade média do tráfego (em dada situação) de 55 milhas/h (88km/h) para 65 (104km/h) implica um aumento das emissões de 9.6% de NOx (óxidos de azoto), de 55.9% de compostos orgânicos voláteis e de 153% de CO (monóxido de carbono)!

Não é por acaso que o Plano Nacional para as Alterações Climáticas prevê a redução da velocidade média nas auto-estradas portuguesas de 120 para 118km/h (na altura foi hilariante reparar na quantidade de gente que não sabe a diferença entre velocidade máxima e média!!).

Vereadora da Mobilidade de Lisboa

MC, 18.12.06
A Vereadora da Mobilidade de Lisboa, Marina Ferreira, foi ontem entrevistada pelo Público. Ficaram algumas novidades/notícias interessantes para a mobilidade da capital. Destaco três.

- O funcionamento dos semáforos vai ser alterado para beneficiar peões. Esta medida é muito bem-vinda numa cidade onde há várias avenidas onde após uma longuíssima espera os peões não têm sequer o direito de atravessar a rua de uma só vez. Nas Avenidades da Liberdade, da República, Joaquim António de Aguiar, etc... o peão é forçado a esperar por nova oportunidade a meio da travessia (o Francis Obikwelu não conta).
- A EMEL vai ter mais 50 fiscais. Isto é especialmente importante numa altura em que a EMEL vai finalmente ser autorizada - já estava previsto na lei - a autuar todos os automóveis estacionados em local proibido, em segunda fila ou no passeio e não apenas aqueles que não pagaram parquímetro. Acaba assim a incongruência de quem estacionou bem mas não pagou ter uma probabilidade maior de pagar multa do que quem estacionou mal e também não pagou.
- A CML vai continuar a apostar em parques para residentes, o que retira carros das ruas e dá lugar a quem realmente precisa.

Algumas citações menos felizes

- "Às vezes venho de metro mas geralmente chego de carro. Venho de Alvalade. (...) Gosto imenso de andar de transportes públicos. Agora muitas vezes não consigo, como toda a gente." - Toda a gente?! Reparem que a senhora mora num local com Metro e que tanto o edíficio da CML na Baixa como o de Entrecampos têm Metro nas redondezas.
- "Vai", resposta a "O túnel do Marquês vai contribuir para melhorar o trânsito em Lisboa?"
- À pergunta "Defende portagens para aceder ao centro da cidade?", responde: "Não. Esta solução surgiu em Londres quando já estavam esgotados todos os outros mecanismos de controle do tráfego e os engarrafamentos eram brutais."
- "Não conheço bem a Circular das Colinas. (...) Não acho (que a circular seja a espinha dorsal da revitalização da Baixa). Na Baixa há três eixos que é preciso descomprimir: a Rua do Alecrim/Misericórdia, a Rua do Ouro/Prata e a zona ribeirinha." Há que explicar a quem não sabe, como a vereadora, que a circular das colinas é uma velha ideia de facilitar o trânsito em certas avenidas que circundam o centro histórico da cidade para desviar o trânsito que apenas quer atravessar o centro histórico.
- "Mas com carros, porque uma avenida não é 'pedonal" (sobre possíveis alterações às avenidas junto ao Tejo). Já agora , "pedonal" não é português.

Bilhetes na Holanda

MC, 08.12.06

Em 1980 a Holanda aproveitou uma tecnologia de ponta, o papel, para facilitar o uso dos transportes públicos no país.  Foi introduzido o Strippenkaart que pode ser usado em todos os transportes públicos de todas as cidades e vilas do país.
Todos mesmo! Autocarros urbanos ou de longo-curso, eléctricos, metros, comboios suburbanos ou de longo curso... até nos Inter-Cidades!
A ideia é muito simples. O cartão dobrável tem 15 ou 45 tiras. Conforme o número de zonas que os passageiros atravessam há que picar o número correspondente de tiras.

Tal como em muitas coisas, a melhoria da mobilidade não depende em grande parte de dinheiro. Imaginem-se no  centro de Lisboa e deslocarem-se a algum sítio longe do centro de Almada ou Cascais. Autocarro, metro, barco, comboio tudo com o mesmo bilhete... (eu não consigo!).
Novas tecnologias não têm por cá faltado: chips, bandas magnéticas, etc. O problema é simples e a sua resolução impagável: mesquinhez e falta de vontade política (governo, autoridades metropolitanas, câmaras e operadoras).

Resta acrescentar, em tom de brincadeira, que até a Holanda se vai converter e começar a usar um sistema de chip... mas nacional claro!
 

Sai um comboio para o meu bairro

MC, 05.12.06
O Público de hoje noticia um estudo do IST que critica o SATU de Oeiras pela sua performance ambiental. A questão é que apesar de ser eléctrico e não poluir localmente, a electricidade obviamente tem de ser produzida.

Agora o que me espantou foi o número de utentes diários: 600. Seiscentos. Sabendo que aquilo funciona 16 horas por dia, dá uns 37 utentes por hora. Trinta e sete. Nunca pensei que o comboiozinho tivesse muita adesão, mas admito que 37 é menos do que as minhas expectativas.

Para quem não sabe o é, o SATU é um comboio futurista construido em Oeiras, que liga o centro de Paço de Arcos ao Oeiras Parque (Centro Comercial), numa distância de 1150m. Custou milhões (vinte e três), desfigurou muitas ruas (por ter viadutos bem junto dos prédios) e agora tem 600 passageiros.

Melhor exemplo não há da falta de planeamento e da vontade de fazer obra vistosa dos nossos autarcas. Infelizmente há muitos exemplos semelhantes. Cada concelho, cada freguesia quer ter o seu sistema(zinho) de transportes independente de tudo o resto. Neste momento está a ser construido o metro da margem sul do Tejo. Um habitante de Almada ou Monte da Caparica que queira ocasionalmente ir ao centro de Lisboa poderá facilmente
1. comprar bilhete para o metro do sul
2. apanhar o metro,
3. comprar bilhete para o comboio da fertagus
4. apanhar o comboio
5. comprar um bilhete do metro de Lisboa
6. apanhar o metro
7. eventualmente apanhar mais um autocarro que o metro cobre mal a cidade


Em Lisboa o metro e o comboio estiveram durante décadas de costas viradas. As linhas de metro não chegavam ao comboio e vice-versa. Mesmo hoje, em Entrecampos onde eles se cruzam há 40 anos não é possível passar directamente de um para o outro.

Justiça seja feita ao Metro do Porto, que liga o centro da cidade ao centro das cidades suburbanas.


"O Império dos Automóveis"

MC, 02.12.06
O Vital Moreira escreveu uma excelente crónica no Público desta terça-feira, que está disponível no seu blog (secundário) Aba da Causa.
Um cheirinho: "Tomemos o caso da desordem automobilística em quase todas as cidades, especialmente em Lisboa. Duvido que, com a possível excepção da Grécia, haja na UE cidades tão dominadas pelos automóveis como as nossas."