Só mais um carro
Continuando a ideia de identificação da posse de automóvel com a riqueza do comprador, eis que nos chega mais uma imagem "pensada" por alguém algures num certo departamento de marketing da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Porque é a publicidade é importante? Decertp não é pelas cores ou pela sua contribuição para a economia (afinal nós precisamos mesmo de comprar tudo aquilo que ela nos recomenda, apesar de não o sabermos) mas porque assinala todas aquelas premissas e tendências não questionadas presentes na sociedade, que de tão tácitas correm sem qualquer crítica.
Ora, eu já noto uma mudança ligeira quanto ao uso do carro, pelo menos a nível dos discursos. A questão da extrema necessidade de ter um carro em meio urbano parece-me mais ou menos descontruída, ou em vias disso.
Bom, o irónico é a dita cuja estar num transporte público. Ei-la:
Como diz e bem o Miguel Cabeça, autor da foto:
Uma publicidade aos jogos da Santa Casa da Misericórdia em que aparece a palavra AUTOCARRO, e em cima do AUTO um bilhete da lotaria, deixando o resultado: CARRO :-) Mais um perpetuar da ideia de que os autocarros, bem como os transportes públicos são para adolescentes, velhos e pobres, e que o que é óptimo é ganhar a lotaria para poder comprar o carro e deixar de andar nestes transportes "degradantes". Eu até percebo a ideia de aproveitar o meio para adaptar a publicidade, como também sei que a publicidade não é da Carris, mas é nos autocarros da Carris que estão afixados. Tiro no pé?
A ver: o programa bioesfera centrou-se na qualidade do ambiente urbano. No começo do programa dá-se um grande destaque aos efeitos perniciosos do uso generalizado do automóvel nas cidades. Se há reconhecimento académico dos seus efeitos nocivos, porquê ainda o presente estado de coisas?
A FPCUB, em parceria com a Carris (a empresa que permite publicidade enganosa a automóveis enquanto adoptando o programa Menos Um Carro) desenvolveu uma proposta para acalmar o tráfego da capital. Daí resultou a Carta Ciclável de Lisboa. Podem sacá-la daqui.