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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Visão dum leitor, das terras sem popós

MC, 09.09.09

Como acho que a falta de conhecimento sobre outras realidades de mobilidade está a enviesar completamente o debate sobre mobilidade urbana em Portugal, e como já enchi este blogue com a minha visão sobre outras soluções, convidei o leitor C.A. a contar o que viu nas férias.

 

Eu fui de férias para o terceiro mundo.

Tenho este mau hábito de andar de bicicleta para poupar algum dinheiro, de forma a poder viajar nas férias. Aqui diz-se que ir para o Algarve é chique. Eu chamo a isso falta de imaginação ou de dinheiro, com tanto gasto em gasolina e portagens, sim porque o estacionamento é à borla desde que haja passeios. E nada como uma fila de trânsito de 6 horas até ao Algarve e tomar de assalto um pedaço de areia escaldante no meio de uma multidão... para relaxar.


Então este ano resolvi ir com a família ao Norte de Itália e à Eslovénia. Segundo o padrão português são povos muitos pobres. Vi muito poucos carros a circular nas cidades italianas que visitei, praticamente nenhum nos centros históricos e estranhamente muita gente a andar de bicicleta. Coitados, não devem ter onde cair mortos. Vestem-se de fato e gravata ou então de vestido e salto alto e depois não têm dinheiro para comprar um carro... Na memória tenho uma senhora extremamente bem vestida de salto a sair de uma loja chiquérrima em Pádua, mas à saida não tinha um BMW ou um jipe, mas uma bicicleta. Pobre coitada.
E aqueles idosos! Já têm idade para ter juizo. Mas será que não há um que não tenha uma bicicleta?
E são tão magrinhos coitados. Deve ser de andarem muito naquela porcaria, sim, porque homem que é homem tem que ter uma barriguinha...
O desperdício de rua para andar a pé ou de bicicleta é de doidos. Em vez de várias faixas para carros, aqueles cretinos obrigam as ruas a ser de sentido único e não se pode entrar nos centros históricos. Então como é que lá vamos?! E onde paramos? Vou pagar o parque, não?
Em Milão, aquela cidade tão atrasadinha, existem eléctricos para todo o lado e os carros nem podem andar nessas vias. Duas linhas de comboio até ao aeroporto quando aqui temos taxis! Estes sim são transportes de qualidade.
Veneza é um problema para os portugueses visitarem. Não há ruas para carros. Deve ser por isso que no meio de milhares de pessoas, nunca ouvi a nossa língua.
Os Eslovenos, que para o portuga, são terceiro mundo, sim porque nós somos primeiro, têm uma capital totalmente preenchida por faixas de bicicletas. Liubliana é estupidamente dedicada à mobilidade, carros, muito poucos, vê-se pessoas a pé por todo o lado, esplanadas nas ruas, a agradável sensação de estarmos num lugar maravilhoso, livre de poluição sonora e atmosférica.
Por momentos esquecemo-nos o quanto atrasadinhos somos. O quanto egocêntricos, sedentários e culturalmente limitados somos. Por momentos esquecemo-nos... até voltarmos.
É a este tipo de atitude e visão da vida que dificilmente chegaremos. O nosso dia a dia é sair da cama, entrar no carro, sair do carro, sentar à secretária, entrar no carro, sair do carro, deitar. E hipocritamente ir ao ginásio para fazer exercício, de preferência num que tenha vagas de estacionamento à porta. Para as pessoas que têm o estilo de vida que tive a felicidade de presenciar, a vida tem outra vertente, o contacto com a natureza, a liberdade em duas rodas ou a pé, o bem estar e saúde proporcionados pelo permanente exercicio. Nós, temos os anti-depressivos e medicamentos para o coração para resolver o nosso estilo de vida. Somos mestres e campeões na Europa a tomá-los.

 


O Ricardo Garcia, divulgado pela mão da Isabel Goulão, conta uma história que eu queria contar sobre os bilhetes de transportes em Lisboa. Os transportes públicos de Lisboa tinham até há tempos centenas de bilhetes diferentes, o que tornava qualquer viagem com mais de uma empresa numa verdadeira aventura.

Hoje todas as empresas têm os mesmos bilhetes, e o mesmo sistema... só que continuam incompatíveis na grande maioria dos casos! Para lá dos casos relatados no post, aconteceu-me exactamente o mesmo com a FerTagus.

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