Como se mata uma região? (II)
Agradeço ao Daniel Conde a recolha dos seguintes vídeos. Demonstram, em 1992, a revolta das populações face ao encerramento da ligação a Bragança, a construção do IP4 como solução alternativa e milagrosa, a incúria e falta de sentido cívico do governo de Cavaco Silva e da CP e os danos imensos causados à auto-estima das povoações.
Alguns dados:
Vítimas na linha do Tua desde 1889: 20
Vítimas no IP4 desde 1993 até 2004: 220
A rentabilidade de uma linha ferroviária não pode ser um critério para encerramento por várias razões. Não contabiliza os efeitos dinâmicos agregadores para a região: criação de emprego (muito mais do que uma qualquer auto-estrada, mesmo com portagens) sentido colectivo de pertença e valor, até ao nível do imaginário e das memórias, conservação de património e potencial turístico, transporte de mercadorias. Além do mais, a perspectiva maniqueísta de colocar a questão em termos de ligação ferroviária OU ligação rodoviária está errada; amba deverão ser complementares e não almejar a substiuírem-se.
Tal como afirmou o presidente da empresa espanhola que administra as respectivas vias de linhas estreita, a sua empresa não é rentável mas os ganhos são inúmeros. É a sociedade em si que ganha, não a empresa.
E mesmo que a questão fosse apenas de rentabilidade:
O metropolitano de Lisboa tem um passivo de 2,2% do PIB nacional de 2007, 3300 mihões de euros. Vai encerrar?
Os prejuízos operacionais da CP são de 135 milhões de euros enquanto que os da REFER são de 131 milhões.
O túnel do Marão vai custar 400 milhões de euros e além da questão da justiça, com a qualqu concordo, vai salvar vidas, segundo o primeiro-ministro. O emprego criado tem a duração da empreitada., menos de quatro anos. Tal como a boa nova chamada IP4 mostrou, há mortes lentas, sem cadáveres. O emprego criado tem a duração da empreitada. A pergunta que fica, face a tanta delapidação, é porque não também a ligação ferroviária?