Como se mata uma região? (I)
Os transportes estão cada vez mais associados a questões de justiça. A distribuição, valência e variedade de uma rede de transportes numa dada região contribui decisivamente para o seu desenvolvimento. E a manutenção dos mesmos em condições de qualidade é um vector de justiça e coesão territorial, devendo por isso ser um critério inegável da política de transportes de qualquer governo.
A relação entre aglomerados populacionais e uma rede de transportes é semelhante à que existe, em agronomia, entre um solo mais ou menos irrigado e as condições propícias a que uma dada cultura se desenvolva; se uma dada cultura precisar de água, o acesso à mesma será o factor determinante e decidirá entre a sua robustez ou secura. O mesmo acontece nas populações humanas.
Em todo o mundo, a proximidade a canais de transporte determina quais as povoações que podem crescer e aquelas que permanecerão atrasadas e aquelas que soçobrarão. É por isso que, naturalmente, as primeiras povoações humanas concentravam-se maioritariamente no litoral, em vales acastelados ou junto a rios.
Conclui-se então que o critério para um desenvolvimento regional justo é uma ramificação equitativa e multimodal da rede de transportes. É precisamente a existência de tais redes que por vezes está até na génese de novas aglomerações populacionais: ligue-se o aglomerado A ao aglomerado B e em breve novos residentes se ligarão no troço construído.
As povoações mais distantes das ramificações são portanto prejudicadas e em Portugal é esse o caso de muitas regiões do interior. Foi com tristeza, vergonha e revolta que assisti a uma tertúlia promovida em Bragança sobre as condições de fixação de população jovem no interior. Testemunhos de residentes no distrito chamaram a atenção para a perda da ligação ferroviária a Bragança em 1992, concomitante à construção do IP4.
Na altura, o encerramento da ligação ferroviária de Mirandela a Bragança foi justificado com a construção de um troço rodoviário e a falta de rentabilidade do troço ferroviário encerrado.
A construção da auto-estrada A4, putativo vector de desenvolvimento da região de Trás-os-Montes, o abandono da linha do Tua e a sua falta de rentabilidade como justificação para o seu encerramento voltam a ser os ingredientes; passados 17 anos, as promessas e as mentiras são muito semelhantes para haver coincidências.
O distrito de Bragança, entre 1991 e 2001, data dos censos, registou uma quebra demográfica de 5,7%. Por esses motivos, perdeu a capacidade de eleger mais um deputado nestas eleições legislativas. A sub-região de Trás-os-Montes é ainda a mais pobre da União Europeia a 27.