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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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A culpa nunca é do automobilista

MC, 01.04.09

Volto à foto que roubei no post anterior:

 

1. Se alguém visse uma mulher a (1) conduzir de bicicleta, (2) só com uma mão, (3) a falar ao telefone, (4) sem capacete, (5) um miúdo de bicicleta, (6) com o miúdo sem qualquer protecção, (7) estando o miúdo na mesma bicicleta numa rua de Lisboa, todos diriam que ela era inconsciente, porque é perigoso.

Mas olhando para a foto não parece assim tão perigoso, nem se vê ninguém escandalizado. Isto porque nenhum daqueles sete pontos são perigosos em si mesmo. O perigo é criado pelo trânsito automóvel, ou seja por alguém que não a mulher. É essencial que este facto tão óbvio entre na nossa maneira de pensar (e que deixemos de dizer que é perigoso)

 

2. Exactamente a mesma ideia se aplica à obrigação do uso de capacete pelo ciclista. A Ana do Cenas a Pedal tem feito vários posts interessantes sobre isto (por exemplo este), e eu resumiria a ideia a uma frase que apanhei por aí: I use the helmet so that you can drive like an idiot. Obrigar um ciclista a usar o capacete, é não querer entender que não é ele que causa o perigo. Há tempos circulou um texto com piada que perguntava se não deveríamos obrigar os peões a usar capacete. A questão parece ridícula, mas é exactamente igual à do ciclista.

 

3. Numa discussão nos comentários aqui no blog, um leitor dizia "Mas eu como cidadão não poluo o ambiente por utilizar um veículo eléctrico. Quem produz a electricidade com meios poluentes é que faz isso". Mais uma vez a culpa não é de quem escolhe andar de carro, mas de quem produziu a energia que está a ser usada.

 

4. Nas reacções à iniciativa do autocolante contra o estacionamento abusivo, tenho notado que frequentemente se diz que "não há estacionamento e por isso estaciona-se no passeio".  Isto é, aceita-se que quem criou a necessidade (por se deslocar de automóvel) de ocupar um espaço público, pode empurrar o seu problema para as costas dos outros. Mas o mesmo raciocínio não é aplicado a quem rouba por necessidade, a quem toca bateria às 4 da manhã, etc.

 

Moral da história: se alguma vez cometer um crime, seja fiscal, criminal, ambiental, conjugal, etc. é bom que o faça ao volante. A sociedade não me atribuirá as culpas.

 


Deixei o exemplo do crime mais grave que é perdoado aos automobilistas, a sinistralidade, para o fim, porque a Ana o trata com alguma piada:

O JN disse «carro atropela e mata homem em bicicleta». Não sei se o carro será acusado de homicídio por negligência, se será detido, não sei. Confesso que estou curiosa acerca da condutora do carro. “Guns don’t kill people, people do.”

Parte dois aqui.

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