Dois artigos interessantes
Eu costumo enviar os artigos para o fim dos posts, mas acho que estes dois merecem destaque. Aconselho a leitura deles, mas para quem não tem tempo, aqui ficam os destaques.
1. Bons investimentos públicos do Rui Rodrigues do maquinistas.org (obrigado Mário)
A cidade americana de Houston é uma referência, como um exemplo a não seguir, por ter graves problemas de mobilidade, e está a pagar muito caro por ter baseado a sua circulação apenas no automóvel.
Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a União Internacional de Transporte Público (UITP) dá como exemplo a comparação entre as cidades de Singapura e Houston, que possuem aproximadamente a mesma população e rendimento per capita. Por ano, Singapura gasta menos 10 mil milhões de dólares para transportar os seus habitantes que a cidade de Houston, o que representa cerca de menos de 3000 dólares por habitante.
Esta diferença, em parte, também se explica devido à diferença da densidade populacional mas, mais importante, deve-se ao facto de que em Singapura 52,75% dos seus habitantes utilizam o transporte público, enquanto que, em Houston, 95,5 %, utilizam o veículo privado.
Na Europa, o transporte público consome quatro vezes menos energia que o transporte individual e, no Japão, esse valor é 10 vezes inferior. Por outro lado, segundo estudos realizados pela APTA (American Public Transport Association) o transporte público cria duas a três vezes mais postos de trabalho que o privado
(...)
Nas famílias portuguesas, os gastos em combustíveis atingem entre 76 a 125 Euros por mês. (...) Concluiu-se que, num país como o nosso, com poucos recursos económicos, dirigiu-se o maior esforço para o modo de transporte mais caro, mais poluente e que maior número de mortes, feridos e prejuízos provoca na sociedade.
2. Revolução na mobilidade urbana em Espanha no El Pais (em castelhano) (obrigado pedro santos)
Refere-se vários exemplos de mudanças que já aconteceram em Espanha, mas insiste que é preciso uma autêntica revolução - e que a necessidade desta é cada vez mais premente e consensual. O mais engraçado queixar-se que a Espanha está sempre na cauda da Europa em termos de mobilidade, que as coisas só são feitas muito depois, que a ditadura do automóvel e dos seus lobbies continuam a predominar... claramente o autor nunca veio a Portugal. Deixaria de dizer que Espanha está na cauda da Europa.
Uma coisa que me parece estar implícita, e que eu já insisti várias vezes: para uma melhor mobilidade urbana não é apenas lutar pelos transportes públicos, é lutar também contra o automóvel (algo que é quase um tabu em Portugal). Isto porque não se pode ter boas alternativas enquanto a ditadura do automóvel perdurar, porque o automóvel tem um enorme impacto negativo sobre as suas alternativas (autocarro, peões, bicicleta).
Aconselho a reportagem rádio (em alemão, mas com uma amável tradução e transcrição do Jorge Tiago e Heidi Koenig nos comentários ao post!) da Deutschland Radio, a gozar literalmente com a obsessão do nosso primeiro-ministro pelas auto-estradas. Mostra o absurdo de haver um país pobre, com vários problemas estruturais, com uma das melhor rede de auto-estradas do mundo, que tem planeado a construcção de mais mil e tal kms nos próximos anos.
(obrigado Patrick)