Casta superior
Tenho sido por vezes criticado por me "esquecer" de que dentro de cada carro vai uma pessoa, sempre que digo que algo que está feito para carros em vez de pessoas, ou que algo põe os carros à frente das pessoas.
Claro que eu sei que um carro não têm personalidade - se bem que alguém, que mais tarde veio a morrer de acidente de viação, já os retratou como tendo - o que me revolta é ver que a pessoa, que não tem o volante na mão, é constantemente preterida em favor da outra, seja em termos de planeamento urbano, de código da estrada, de comportamentos das autoridades ou de comportamentos de todos nós em geral. É como se as pessoas dentro do automóvel pertencessem a uma casta superior.
Nestes últimos dias em Lisboa, apercebi-me que NUNCA se buzina contra alguém que está a fazer as manobras de estacionamento numa rua de uma faixa só, bloqueando por isso todo trânsito, ou que NUNCA se buzina contra alguém que está a estacionar em plena faixa de rodagem (seja em primeira ou segunda fila), ou seja contra alguém que vai bloquear por completo uma das faixas atrapalhando o trânsito em toda a zona. Por outro lado, buzina-se contra um peão que se demora a atravessar, contra um peão que atravessa fora da passadeira, contra um ciclista que circular no local indicado mas que segue apenas a 20 ou 30km/h em vez dos 70 ou 80km/h dos automóveis. É que tanto em termos legais, como em termos de incómodo causados a terceiros, não há dúvida nenhuma que as situações acima são bem piores.
Alguma explicação que não seja a da casta superior?
A ler este post n'O Avesso do Avesso, bem a propósito, sobre o "status" da bicicleta e do automóvel.