Em Portugal há uma estranha repugnância por existir comboio dentro da cidade. Parece que quanto mais longe do centro melhor. Em Lisboa e durante décadas a estação principal era a do Rossio - ainda hoje o edifício diz Estação Central - bem no centro. A honra coube mais tarde a Santa Apolónia (menos central) e de há 10 anos para cá domina a Estação do Oriente, que praticamente nem está integrada no tecido urbano da cidade! Ainda recentemente foi defendido que a estação do TGV deveria ser fora de Lisboa!!
No Porto São Bento ainda se vai aguentando, mas só em Campanhã é que se pode apanhar os InterCidades e Alfas.
E o que se passa em cidades europeias do mesmo tamanho? Barcelona, Nápoles, Varsóvia, Viena, Hamburgo, Sevilha? Bem dentro da cidade. Praga, Amesterdão, Copenhaga, Estocolmo, Bruxelas, Munique, Colónia, Glasgow? Em poucos minutos chega-se ao centro histórico a pé.
Esta alergia ao comboio no centro só é compreensível por vir de gente que só sabe andar no seu popó. Gente que não percebe que "
é fácil lá chegar em 20 minutos de metro" não é assim tão fácil, porque é mais uma espera, mais um horário a fixar e a conjugar, mais uma mudança, mais um bilhete. Basta entrar no InterCidades Lisboa-Porto para ver que é nas cidades onde a estação é mais central, que há mais passageiros. Em Santarém não se vê ninguém, no apeadeiro que é suposto servir Leiria (que também é bem "
fácil" de alcançar) menos ainda.
É impressionante pensar que há mais de um século houve fundos para levar o comboio ao Rossio, e hoje que o país é mil vezes mais rico, só há fundos para levar o automóvel para o centro.. o comboio que se amanhe. E assim se mata o comboio.
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