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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Ferrovia vs Rodovia em Portugal

MC, 22.06.17

Portugal é o campeão europeu quando se trata em investir no automóvel em detrimento do comboio. No gráfico abaixo temos o número de quilómetros de autoestrada por cada km de ferrovia nos vários países cobertos pelo Eurostat.

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Fonte: Eurostat, dados de 2015 (ou os mais recentes quando não existe 2015. Dados para AE na Grécia do NationMaster (Eurostat não tem).
Chipre, Malta não foram incluídas, por serem pequenos estados insulares.

O lado "verde" do apoio ao abate de carros explicado às crianças

MC, 15.07.14

O governo parece querer repescar o triste programa de apoio ao abate de carros antigos (mais de 10 anos), para incentivar a comprar de carros ditos "mais verdes". Como é que este programa funciona?

 

Decides vender o teu carro para passares a andar a pé? O Estado não te ajuda.

Decides vender o teu carro para passares a usar os transprotes públicos? O Estado não te ajuda.

Decides vender o teu carro para passares a andar de bicicleta? O Estado não te ajuda.

Decides vender o teu carro para continuares a andar de carro? O Estado paga-te 3500€ (o que pagaria 3000 viagens de autocarro na cidade, ou 20 bicicletas) se quiseres um popó eléctrico, 2500€ para um popó híbrido, 1000€ para um popó com emissões de CO2 ligeiramente abaixo da média.

 

Relembro que em Bruxelas quem abate o seu automóvel recebe passes de transportes públicos durante 2 anos ou bicicletas.

Auto-estradas? Somos os campeões em qualquer estatística

MC, 27.11.12

Portugal não tem só a região com mais auto-estradas da Europa, o maior aumento de km de auto-estradas na Europa, a rede de auto-estradas que mais cobre cidades pequenas em toda a Europa, auto-estradas paralelas tão próximas que dá para acenar aos automobilistas na auto-estrada ao lado, etc. há muita outra coisa da qual nos podemos orgulhar.

Talvez soubessem que a maior ponte rodoviária na Europa é em Portugal, a Ponte Vasco da Gama. Mas certamente não sabiam que a segunda maior na Europa, também é em Portugal, a ponte das Lezírias. O resto do TOP10 tem algumas pontes dinamarqueses, suecas e holandesas (países com muitas ilhas como é sabido) e mais uma portuguesa, a Ponte Salgueiro Maia.

 

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Para inspiração deixo (mais) um artigo do NYTimes sobre o famoso viaduto (e auto-estrada) de Cheonggyecheon no centro de Seul, que foi pura e simplesmente desmantelado há anos, e não consta que se tenham arrependido disso.

Gaspar e Companhia, cobrai multas senhores!

MC, 16.10.12

Ligo a rádio de manhã: aumento de impostos e cortes em prestações sociais.

Abro a janela: em poucos segundos, contabilizo centenas ou milhares de euros por cubrar em multas.

Se o governo quer aumentar a sua receita, porquê virar-se contra os trabalhadores ou quem tem um negócio? Porque não penaliza comportamentos anti-sociais, e muitos até criminosos?

Portugal prevê arrecadar apenas 90 milhões de euros em multas de trânsito este ano, mas o Ayuntamento de Madrid sozinho pensa cegar aos 175. A Holanda, onde até é mais difícil topar infrações, cobra 40 vezes mais multas por habitante que Portugal.

É difícil cobrar multas em Portugal? Que se associe o seu pagamento às outras contribuições pagas ao/pelo Estado. Um exemplo, quem não pagou uma multa, verá esse valor descontando na devolução do IRS.

Sim, estou a defender uma caça à multa generalizada. Entre isso e penalizar quem trabalha, não tenho dúvidas na escolha.

 

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Para ficarmos no tema da política e dos números, a recomendação de hoje vai para a comparação entre a evolução da ferrovia em Portugal e na Espanha, feita pelo A Nossa Terrinha.

Adeus shoppings do subúrbio, olá cidades humanas

MC, 30.05.12

De entre os países desenvolvidos, Portugal e os Estados Unidos são daqueles onde o automóvel tem um maior peso na sociedade. As cidades e mesmo alguns bairros, estão cercados por mais e mais auto-estradas, o comércio local tem menos peso que os shoppings onde só se chega de carro, as cidades são parques de estacionamento e zonas de atravessamento de trânsito. há mais carros a passar do que pessoas, etc.

Mas há cada vez mais bons sinais de mudança nos dois países. Num artigo do NY Times (que já passou no nosso Facebook) mostra-se que nos últimos 15 anos, os americanos estão a procurar mais o centro da cidade para viver, e menos os subúrbios. Prova disso é o valor das casas, que subiu mais no centro.

De Portugal tem havido histórias de hipermercados a fechar e de falta de vontade em abrir mais shoppings. Esta poderia ser uma história da crise generalizada, mas hoje o Diário Económico conta que a procura de espaços comerciais no centro de Lisboa e Porto  (especial destaque para o Chiado) tem vindo a aumentar, apesar dos preços serem claramente altos.

Excelentes notícias!

 

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E da cidade mais europeia da América, mais uma notícia europeia: Nova Iorque também vai ter um sistema de bicicletas públicas partilhadas.

A E16 deles e as nossas A1, A8 e a A17

MC, 29.03.12

 

Esta é a estrada E16:

É a principal estrada a ligar a capital à segunda cidade do país mais desenvolvido do mundo, a Noruega.

 

Esta é a A1:

É a auto-estrada que liga Lisboa ao Porto. A foto foi tirada da A17, que conjuntamente com a A8, forma outra auto-estrada, paralela à A1, que liga Lisboa ao Porto.

 

 

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Como complemento, um excelente artigo do A Nossa Terrinha sobre as auto-estradas e (a falta de) desenvolvimento e (aumento do) êxodo rural em Portugal.

Governo abandona o futuro

MC, 22.03.12

Governo abandona a alta velocidade "definitivamente" conta hoje o Público.

Os maiores desafios do século XXI vão ser a globalização, a energia e o ambiente. Por todo o mundo têm surgido, que nem cogumelos, novos projectos de ferrovia de alta-velocidade mesmo em países com os EUA e a China, tradicionalmente apoiantes da opção rodoviária. Falamos de um transporte rápido, que não está dependente de uma fonte de energia que se aproxima dos seus limites, que é o mais eficiente energeticamente, e que é por isso a melhor solução do ponto de vista ambiental e económico, num mundo onde a energia barata acabou.

A Galiza, com menos cidades grandes que Portugal, vai ter várias linhas. A China, bem mais pobre que Portugal, o mesmo. Por cá, uma ferrovia decente é considerada um luxo. Por cá, o futuro é um luxo.

 

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A notícia de hoje é um pouco mais positiva. Santarém arrancou com um projecto de bicicletas públicas partilhadas. Parabéns!

Caça à multa ou ao disparate? II

MC, 24.02.12

Quem já foi de carro a Espanha sabe bem que os carros de matrícula portuguesa têm um comportamento completamente diferente antes e depois da fronteira. Ao contrário do que se gosta de dizer, o comportamento ao volante depende muito da dissuasão, e não tanto da cultura. Temos dificuldade em lidar com multas, e daí convencemo-nos que elas não têm qualquer efeito dissuasor.

Há tempos já mostrei que a ideia que havia uma caça à multa permanente em Portugal, era um total disparate. O número de multas de velocidade passadas por mil condutores na Holanda é 40 vezes maior do que em Portugal. Hoje, a nossa imprensa puxa ao sensacionalismo, chocando-se com o valor das multas cobradas. O valor das multas cobradas em 2011 terá sido 85,3 milhões de euros, quando em 2010 foi de 47,7 milhões. Então e aqui ao lado? Em 2012, a câmara municipal de Madrid - estamos só a falar da câmara municipal de Madrid - espera cobrar 175,9 milhões de euros em multa, mais do dobro que Portugal inteiro!

E por pessoa? 85,3 milhões de euros, dá oito euritos e pouco a cada português. Na Itália, onde são cobrados 2 mil milhões de euros por ano, são 35 euros por cada italiano. E é melhor ficar pela Espanha e pela Itália, porque se formos mais para Norte...

 

Em Portugal, o carro ainda é um aristocrata intocável que passa ao lado das leis e do civismo.

 

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Como sugestão de leitura, repesco um post antigo do A Nossa Terrinha, sobre as honras que o Doutor Carro merece em Coimbra.

Palavras Sábias

TMC, 21.11.11

Manuel Gomes Guerreiro foi secretário de estado da Secretaria de Estado do Ambiente do II Governo Constituticional entre 1976 e 1978.

 

A 22 de Dezembro de 1976 concedeu uma entrevista ao Expresso em que aborda a qualidade ambiental da cidade de Lisboa e a relação populacional que mantém com o resto do país. As suas recomendações e reflexões avisadas informam-nos do quão diferente poderia ser actualmente a cidade e o país.

 

P. Está de acordo com a deterioração a que chegou a cidade de Lisboa? Lixo, sujidade, poluição, etc.

 

R. O lixo na rua, a publicidade de objectos e de ideias nas paredes, os automóveis atravancando os passeios, as mercadorias invadindo ruas e acessos ao metropolitano, os mercados a céu aberto, os papéis a monte e a esmo, os detritos, a sujidade grosseira, tudo isto num ambiente ruidoso que impressiona e magoa.

 

[...] O ruído é outra característica de Lisboa que agride todos os seus habitantes a toda a hora do dia e até da noite normalmente aliado a uma poluição do ar proveniente dos carros movidos a gasolina. Esta situação cria uma enorme dificuldade ao peão para percorrer a pé certas zonas da cidade, aquelas onde deveria ser mais fácil, em especial nesta quadra natalícia que além de tudo deveria ser de bom convívio, de alegria, de solidariedade e de compreensão.

É tempo da cidade de Lisboa definir zonas francas para o peão.

 

A cidade de Lisboa não pode ser nem é uma Brasília fria e distante: é uma cidade aconchegada, de características mediterrânicas, onde as pessoas se

conhecem e convivem; onde na rua se encontram os amigos que num instante resumem a sua vida na esperança de ouvir uma palavra amiga, um incitamento, uma prova de afecto, compreensão e solidariedade que permita recomeçar recomeçar com ânimo a luta diária que a todos a vida obriga.

Em especial na Baixa deve haver uma solução de modo a que permita entregar ao peão zonas bem delimitadas, não acessíveis à máquina poluidora ruidosa e demolidora. O comércio não seria afectado pelo que se tem visto noutras paragens.

 

Além destas zonas inteiramente entregues aos peões haveria necessidade de criar corredores verdes ligando certas zonas da cidade entre si que permitiriam o acesso rápido e agradável de pessoas a pé, de qualquer idade. O acesso à Baixa pombalina poderia tornar-se um passeio despreocupado e atraente. Há quanto tempo se fala em ligar desta forma o Príncipe Real com a Avenida da Liberdade pelo Jardim Botânico e Parque Mayer?

 

A cidade de Lisboa não é monumental, mas é humana. É uma cidade onde o homem trabalha, vive e convive como se toda ela fosse a sua casa. Há que preparar para se manter nesta linha; há que a entregar aos seus habitantes para que a ocupem, circulem e nela vivam com à vontade, alegria e despreocupação.

 

 

P. Perante esta (triste) situação qual a política que a Secretaria de Estado tem desenhada para 1977. Projectos, iniciativas talvez.

 

R. Embora nascida há pouco mais de 12 meses, esta Secretaria de Estado tem procurado conhecer, estudar e sugerir soluções para a cidade em colaboração com a CML e neste momento com o Comissário do Governo para a região de Lisboa, lugar há pouco criado. [...] A Comissão Nacional do Ambiente comemora todos os anos o dia Mundial do Ambiente com várias iniciativas, todas elas apontadas para entregar a cidade, em especial a Baixa, à sua população e em especial à sua juventude. Esta aproveita a oportunidade para cirandar em lugares que normalmente lhe são vedados, a pé ou de bicicleta, realizando jogos, exercícios e espectáculos.

 

Há uma outra iniciativa que esta Secretaria de Estado procura levar a cabo em breve. Refiro-me a cursos de reciclagem de jardinamento onde se estude, discuta e apresente soluções para o tratamento das árvores da cidade, dos bosquetes e dos arruamentos. Repare-se que são elementos indispensáveis à criação da paisagem urbana, retirando-lhe a frieza do betão e da cantaria. Contudo, até hoje sofrem mutilações de tal ordem que mais ficam a parecer grotescos seres, sem beleza nem utilidade, constituindo exemplos indecorosos do procedimento displicente do homem perante a natureza que lhe devia merecer respeito e até admiração.

 

Na verdade, estuda-se um ordenamento para toda a região metropolitana de Lisboa de modo a criar não só condições favoráveis à instalação do homem e das suas actividades, mas também de modo a preservar valores paisagísticos existentes como quintas e áreas arborizadas, solos de elevada capacidade agrícola como é o caso do vale de Loures, onde até já se chegou ao ponto de construir em aluviões.

 

[...] O problema urbanístico e social de Lisboa está em permanente pressão, o que dificulta a sua resolução correcta. Esta deveria iniciar-se pelas cabeceiras do imenso rio humano que começa no interior deprimido, de Bragança a Faro, e desemboca no mar, junto do Tejo. Enquanto o interior não estiver em equilíbrio sócio-económico com o litoral; enquanto no primeiro se nasça e no segundo se morra; enquanto os mais elevados índices de vida e de qualidade de vida se situarem no litoral, haverá sempre uma forte corrente migratória para Lisboa criando problemas que, se até hoje foram graves, tenderão a agravar-se com a impossibilidade de demandarem terras tropicais.

 

A verdade é que o problema não é novo, o que aumenta a nossa preocupação. Será que o não sabemos ou não podemos resolver? No século XVI, Sá de Miranda, escrevendo a António Pereira, queixava-se já de que Lisboa regorgitava de pessoas enquanto que, escrevia, “ao cheiro desta canela o reino se despovoa”. Acabou-se a canela mas mantém-se a pobreza e o desencanto do interior. É de esperar que a regionalização prevista na Constituição e no Plano do Governo nos venham salvar, criando um país estabilizado, sem assimetrias injustas e sem a enorme e absurda macrocefalia instalada em Lisboa.