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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

E também não, um carro em movimento não ocupa apenas 6m²

MC, 27.07.17

Se parado um automóvel já precisa de muito espaço urbano em exclusividade, a circular a coisa ainda fica pior. Não, um carro a circular não ocupa apenas os seus 8m², porque precisa de distância aos carros em seu redor, seja atrás, frente ou dos lados.
Na imagem estão dois exemplos onde até há MAIS automóveis do que a média das nossas cidades: à espera de um semáforo, e a circular numa via-rápida com trânsito intenso mas fluído. Na primeira estão 35 viaturas em 1240m², na segunda 33 em 4830m². São 35m² por automóvel na primeira e 136m² na segunda em situações, insisto, onde a densidade de automóveis é maior que o resto.
Quando alguém se queixar dos passeios serem "largos", ou exigir mais vias para a circulação automóvel, lembrem-se quanto do precioso espaço urbano é preciso para apenas um carro!

Image may contain: text and outdoor
 
 
 

Outro minuto em Groningen, a cidade-modelo da mobilidade

MC, 26.11.13

Veneza é a cidade europeia onde o automóvel é mais... desincentivado, mas não por escolha própria. Esse título cabe a Groningen, uma cidade estudantil no norte da Holanda, onde as pessoas são reis da cidade através da quase inexistência de estacionamento automóvel à superfície e fortíssimas medidas de acalmia de tráfego.

Num dos meus posts preferidos aqui do blog, o António deixava um vídeo de um minuto num cruzamento numa praça central de Groningen. Hoje fica o meu minuto passado em Groningen, noutro cruzamento da cidade. E tal como no outro, este cruzamento também não é numa zona pedonal.

Apesar do frio (o vídeo foi feito em junho e há só se vêem casacos pesados), e da chuva constante (no dia do vídeo o chão está molhado e há vários guarda-chuvas), é uma cidade cheia de vida e comércio. São as cidades que são menos convidativas ao automóvel, as que acabam por ser mais humanas e ter mais vida, não o contrário.
É uma cidade para todos: vêem-se bebés a serem transportados em bicicletas e cadeiras de rodas a passar - e isto foi mero acaso, apenas gravei o vídeo uma vez.
Repare-se também como tudo flui sem precisar de semáforos ou regras rígidas de trânsito. Peões, bicicletas, aceleras e até um coche (!), todos se cruzam sem problema.
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Para não destoar, a leitura recomendada de hoje é um vídeo que conta um projecto de país ingleses que fecham ruas do bairro durante umas horas para que os crianças possam brincar e socializar livremente na rua, como era o hábito há umas décadas, no Copenhagenhize.

Em Alfama, joga-se à bola na rua

MC, 22.07.12
A foto está com uma péssima qualidade, mas não engana: em Alfama os miúdos jogam à bola na rua. 
O que têm os miúdos de Alfama de diferente dos miúdos de outros bairros de Lisboa, ou de qualquer cidade portuguesa? Também têm televisão, facebooks, playstations, etc. Têm tudo o que supostamente faz com que os miúdos de hoje fiquem fechados sozinhos em casa, mas mesmo assim insistem em jogar à bola na rua com os amigos.
Têm uma coisa que os outros não têm. Tal como os de Veneza, moram num sítio onde o espaço público pertence às pessoas e não aos carros.
E isto explica por que os outros miúdos não brincam também. Não é uma consequência das novas tecnologias, foi porque os pais decidiram que o automóvel era mais importante.
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A ler: um artigo belga (via ASPO-Portugal) sobre outra estranha prioridade da ditadura do automóvel; pôr os combustíveis acima da alimentação. De acordo com o artigo, em 2020, se se cumprir as metas para o uso de bio-combustíveis, metade dos terrenos agrícolas belgas servirão o automóvel: Nourrir avant de fournir des carburants

Mais um espaço verde convertido em estacionamento

MC, 14.02.12

Desengane-se quem achar que um Estádio Universitário é um espaço dedicado ao lazer e ao desporto, pelo menos no que toca a Lisboa. Já poucos se devem lembrar, mas há uma década o parque de estacionamento em frente à Cantina Velha - mesmo à frente da saída do metro Cidade Universitária - era um bosque denso, onde havia gente a fazer jogging. Agora é isto: 

E será que serve muita gente? Haverá ali umas poucas centenas de lugares - tanto como um metropolitano cheio.

Mas o automóvel é um monstro devorador de espaço urbano insaciável, que quer sempre mais. O terreno, da parte esquerda desta foto,

é a nova vítima. Foi convertido há semanas em estacionamento. Em vez de espaço para desporto, temos espaço para meia-dúzia de carros. O mesmo aconteceu há poucos anos, nas traseiras do Hospital Santa Maria (mesmo em frente). Um bosque foi arrancado para ser estacionamento. 

O automóvel precisa sempre de mais e mais espaço. Um imenso espaço para circular, um imenso espaço para estacionar. Para levar uma ou duas pessoas apenas. Um dia destes, quando menos notarmos, a nossa cidade será mais uma Houston.

 

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O que acontecerá na Inglaterra? A descrição de um edifício novo no principal campus do Imperial College de Londres, elucida-nos com a seguinte frase: 
The two basement levels provide parking spaces for 30 cars and secure storage for 600 bicycles, satisfying the requirement for the entire campus. 

Pagar 372 milhões pelo que é público

MC, 23.01.12

As esplanadas, os contentores, uma banca na rua, etc. são tudo exemplos de ocupação do espaço público que é paga por quem dela usufrui. Pagar pelo estacionamento de um automóvel no espaço público não é, assim, uma aberração como os carrocratas nos querem fazer crer, mas um pagamento justo pela privatização de algo público que é feito em tantas outras situações. É acima de tudo uma ferramenta indispensável para uma boa gestão do espaço público que é um bem escasso numa cidade. Se as esplanadas fossem gratuitas, todos os cafés e restaurantes ocupariam abusivamente o espaço à sua frente. Estacionamento pago garante que o espaço não seja ocupado ad aeternum por alguém, mas que haja rotação e possibilidade de todos o usarem.

Hoje descobri o valor de outra ocupação por algo público... o ar. Ou melhor, uma pequeníssima parte do espectro electromagnético (as frequências das emissões rádio), pela qual as três operadoras de telemóvel pagaram 372 milhões de euros! O ar é de todos, mas se o seu uso fosse gratuito, seria impossível ver televisão ou telefonar.

 

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E para nos lembrar a importância dum espaço público livre de automóvel, o A Nossa Terrinha compara algumas praças em localidades portugueses e espanholas.

O carro é anti-social I

MC, 13.11.10

O carro é um objecto altamente anti-social, por ser a principal causa de morte entre jovens, por transformar cidades em redes de auto-estradas sem vida, e por muito mais.

Para começar esta série de postas, nada melhor que o Donald Appleyard e o livro que publicou em 1981, o Livable Streets, um ano antes de ser assassinado por um carro. Este urbanista estudou várias ruas de São Fransico que se assemelhavam o mais possível, com uma excepção: a intensidade do trânsito. Os principais resultados resumem-se nestas duas figuras (clicar para ver em grande).

 

A figura de cima é uma rua com pouco trânsito, a de baixo com muito. Os pontos representam locais onde ele viu pessoas a falarem e as linhas representam conhecimentos na rua. Em cima as pessoas têm 3 amigos na rua e 6,3 conhecidos. Em baixo apenas 0,9 e 3,1.

Foi ainda perguntado aos habitantes qual era a sua zona de conforto, onde é que se sentiam em casa. Com pouco trânsito houve quem chegasse a responder a rua toda, com trânsito intenso alguns ficaram-se pela própria casa.

É claro que no segundo caso haverá mais casos de solidão, mais sentimento de insegurança tanto na rua como em casa, menos compreensão para com os vizinhos, mais crianças fechadas em casa, etc.

 

 

O StreetFilms tem como sempre um excelente vídeo sobre o trabalho de Donald Appleyard

 

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O blog CidadaniaLx fala-nos do "Largo do Carro Santo" na Baixa Pombalina.

"Mais de metade do espaço urbano ainda é para carros", no Público

MC, 24.10.10

Ontem foi o DN, hoje é o Público que tem uma série de artigos sobre a ditadura do automóvel. Sendo que a semana da mobilidade já passou há um mês, a publicação destas reportagens nos principais jornais "fora de época" é um excelente sinal de que este é um tema que começa a preocupar a todos.

A preocupação que a manchete espelha, "mais de metade do espaço urbano ainda é para carros" (sublinhado meu), não é ainda aparentemente partilhada pelos municípios portugueses. Não é que não haja boas intenções e boas notícias, mas as boas medidas nunca se atrevem a no carro, ainda estamos na fase de lhe dar mais e mais espaço urbano. Em Lisboa, descontando o aumento dos passeios na Av. Duque de Ávila, temos as novas ciclovias construídas no passeio que praticamente não tocam no espaço do popó, temos a proposta de usar os logradouros (traseiras dos prédios e afins) para construir mais estacionamento, temos o aumento da rede viária, não há qualquer intenção de reduzir o estacionamento à superfície que domina Lisboa como não acontece em mais nenhum lugar da Europa, etc.

 

(Os textos também estão disponíveis aqui)

 

Entrevista Os automóveis são os donos das cidades

"o veículo privado, que pouco a pouco se fez dono das cidades. E os planificadores passaram a desenhar as cidades a pensar neles. Na maioria das cidades médias e grandes, no Sul da Europa, cerca de 70 por cento do espaço público é para o veículo privado"

 

Portugal já tem uma rede nacional de Agenda 21 Local, mas há pouco trabalho para mostrar

 

Para cada cidade europeia há uma solução à medida

Malmo: "Nas ruas da cidade foram instalados sensores que garantem aos ciclistas prioridade em cerca de 30 cruzamentos, reduzindo o número de vezes em que são obrigados a parar ou a esperar pelo sinal verde."

 

Países da Europa Central com melhores transportes públicos

 

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Sugestão de hoje, como a cidade de Londres tem "poupado" dinheiro ao investir na bicicleta, no Um pé no Porto e outro no Pedal.

O que está errado na imagem?

TMC, 21.09.10

Esta é a imagem que a autarquia de Lisboa tem afixado em vários pontos da cidade, assinalando a semana de mobilidade. Não quero discutir a ideia de que a semana da mobilidade serve como uma semana de excepção ou de propaganda que posteriormente a própria autarquia não cumpre.

 

 

Haverá alguma coisa de errado na imagem?


Talvez a figura do transporte de crianças devesse ser um transporte público. Mas nem é por aí. Sem querer ser mais papista que o papa, a questão da imagem poder transmitir uma mensagem errada do que deve ser a aposta na mobilidade nas cidades relaciona-se com a presença do carro eléctrico na imagem (identificável através de uma enorme tomada). Substituir 10% do parque automóvel comum de Lisboa por automóveis eléctricos resolveria alguns problemas de mobilidade, mas não todos. Isto, por exemplo, continuaria a acontecer. Porque a mobilidade não é só uma questão de racionalizar o uso para a melhoria do ambiente; é também uma racionalização do espaço, e nisso o automóvel eléctrico continuará a ser tão desajeitado como o automóvel com motor de combustão. Confundir que a mobilidade sustentável é apenas ambiente poderá inclusivé levar a um sobrestímulo da compra de automóveis eléctricos que tornaria a mobilidade em Lisboa pior do que antes. Pode gerar-se uma febre que ponha em risco a aposta na mudança modal para transportes públicos e modos suaves.