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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Auto-estradas? Somos os campeões em qualquer estatística

MC, 27.11.12

Portugal não tem só a região com mais auto-estradas da Europa, o maior aumento de km de auto-estradas na Europa, a rede de auto-estradas que mais cobre cidades pequenas em toda a Europa, auto-estradas paralelas tão próximas que dá para acenar aos automobilistas na auto-estrada ao lado, etc. há muita outra coisa da qual nos podemos orgulhar.

Talvez soubessem que a maior ponte rodoviária na Europa é em Portugal, a Ponte Vasco da Gama. Mas certamente não sabiam que a segunda maior na Europa, também é em Portugal, a ponte das Lezírias. O resto do TOP10 tem algumas pontes dinamarqueses, suecas e holandesas (países com muitas ilhas como é sabido) e mais uma portuguesa, a Ponte Salgueiro Maia.

 

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Para inspiração deixo (mais) um artigo do NYTimes sobre o famoso viaduto (e auto-estrada) de Cheonggyecheon no centro de Seul, que foi pura e simplesmente desmantelado há anos, e não consta que se tenham arrependido disso.

A E16 deles e as nossas A1, A8 e a A17

MC, 29.03.12

 

Esta é a estrada E16:

É a principal estrada a ligar a capital à segunda cidade do país mais desenvolvido do mundo, a Noruega.

 

Esta é a A1:

É a auto-estrada que liga Lisboa ao Porto. A foto foi tirada da A17, que conjuntamente com a A8, forma outra auto-estrada, paralela à A1, que liga Lisboa ao Porto.

 

 

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Como complemento, um excelente artigo do A Nossa Terrinha sobre as auto-estradas e (a falta de) desenvolvimento e (aumento do) êxodo rural em Portugal.

Portugal, país pobre que move mundos e fundos pelo automóvel

MC, 15.01.10

Apesar de Portugal ser apenas o 18º ou 19º país mais rico da UE, não me para de espantar os imensos recursos que parece ter quando está em causa o automóvel. Ele é a zona da Europa com mais auto-estradas, terceiro lugar em número de carros por pessoa, maior crescimento da rede de auto-estradas, etc.

Há pouco tempo referi a compensação que em Portugal é paga a quem se desloca em trabalho na sua própria viatura, um valor tabelado em Diário da República, que é de 0,40€ por km.

Numas buscas no google, tirei o valor que mais vezes encontrei para vários países:

 

Inglaterra: 0,40 libras por milha, 0,28€ por km

França: 0,50€ por km

Espanha: 0,32€ por km

Holanda: 0,19€ por km

(Na Alemanha e Itália as ajudas de custos dependem aparentemente do automóvel).

 

Apesar dos custos de manutenção serem à partida mais baixos por cá, dos preços dos combustíveis estarem abaixo da média, Portugal consegue canalizar mais dinheiro para quem anda de carro do que muitos países europeus.

 


Estão aí mais duas cicloficinas (reparação gratuita de bicicletas!) em Lisboa e agora também no Porto:

Lisboa: Domingo 17 às 15h no Jardim Fernando Pessoa (entre Av. Madrid, Av. Roma e Av. João XXI)

Porto: 5ª-feira dia 21, na CASA VIVA Praça do Marquês nº 167

Mais demagogia

TMC, 12.01.10

A diferença no afã de investimento público deste govern para os anteriores é a verborreia justificativa. Compreende-se, uma vez que mais auto-estradas e acessos tornam-se cada vez mais suspeitos num país habituado a projectos tão visionários.  De resto, todos os governos têm partilhado a mesma paixão pelo asfalto e a ilusão sinonímica entre "desenvolvimento" e "acessos". Falta-nos imaginação.

 

Começa-se a ler ingenuamente uma notícia com esperanças de uma visão nova para o interior e a sua desertificação e saem-nos pérolas destas:

 

[...]] toda a vida ter visto a região do Pinhal ser esquecida, fazer esta adjudicação significa que a minha vida política não foi em vão.

 

Parece portanto que o principal problema do Pinhal Interior é não ter acessos e ter sido, por isso, esquecido. A receita para o interior está dada: alarguem os IPs para auto-estradas e levem-nos  até às cidades do interior e para várias aldeias que o desenvolvimento chegará num ápice. Claro que isto também é uma coincidência e põe-me logo a pensar no que seria Portugal daqui a uns anos se um certo ministro das obras públicas tivesse ido para uma empresa como a CP ou a REFER em vez de ter aterrado numa empresa especializada em estradas e pontes. As nossas ligações ferroviárias definham, e claro que nem são consideradas como soluções.

 

É a fragilidade óbvia desta "solução" para o interior e a facilidade com que ela vinga que me assusta. Fico com a impressão que a sociedade portuguesa não é capaz de questionar estas escolhas de desenvolvimento para o seu território apesar delas cheirarem cada vez pior e serem cada vez mais mal desculpadas.

 


É um círculo vicioso: convidam, através do mercado imobiliário e acesso gratuitos, as pessoas a saírem de uma Lisboa cada vez mais desagradável; a circulação automóvel desenvolve-se e vem na sua maioria de concelhos límitrofes e aos poucos deixa de haver alguém para defender, enquanto afectado, a qualidade de vida de um certo bairro: boas iniciativas como esta vão voltar a esbarrar no que substituiu os habitantes de Lisboa.

 


A votação para o Orçamento Participativo da cidade de Lisboa acaba dia 15 e notou-se muita revolta contra o protagonismo do automóvel. Pessoalmente, fiz algumas propostas em torno da defesa do peão (o ano passado ganharam as bicicletas) e não queria por isso deixar de apelar ao voto numa delas e noutras que considero muito pertinentes:

 

1) Pedonalização da Rua Garret

2) Alargamento dos passeios da Rua do Arsenal

3) Descongestionamento da circulação pedonal no Chiado e Camões

 

Só há um voto. A escolha é vossa mas votem!

 

 

As Auto-Estradas Urbanas Esvaziam as Cidades

MC, 09.12.09

Pegando na posta do TMC, deixo aqui a principal conclusão de um estudo do economista Nathaniel Baum-Snow da Brown University sobre a fuga para os subúrbios nas cidades americanas causa pela construção de auto-estradas. O estudo mostra que por cada auto-estrada radial construída numa cidade, a sua população decresce 18% face aos valores que teria sem a sua construção. Embora o resultado se aplique a cidades americanas - cuja lógica urbana e de mobilidade é totalmente diferente da europeia - não há aparentemente nenhuma razão para que o resultado seja muito diferente por cá.

As causa são óbvias, o melhor acesso ao centro torna os subúrbios mais apetecíveis. E as consequências também o são: mais congestionamentos, mais custos de mobilidade, mais poluição, mais problemas de gestão do espaço público no centro (estacionamento), cidades mais vazias logo menos humanas e mais inseguras, pior cobertura dos serviços sociais (hospitais, escolas), etc.

E é muito importante que nos lembremos disto sempre que se fala em construir mais uma auto-estrada. Aumentar o IC19 ou construir uma ponte para o Barreiro, não só prejudica a cidade no curto prazo por aumento do tráfego, mas no longo prazo por esvaziamento dela. E Lisboa e Porto já são um péssimo exemplo nesta dispersão. Embora Lisboa e Porto sejam a 20ª e a 56ª maiores áreas urbanas na Europa, Lisboa tem apenas o 47º centro mais populoso na Europa e o Porto nem aparece no Top100.

 

 


O bananalogic e o A Nossa Terrinha mostram muito bem como as ciclovias mal planeadas podem prejudicar os ciclistas urbanos, o primeiro com o exemplo da ciclovia em Campolide e o segundo em Oeiras. Têm aparecido muitíssimos exemplos destes por todos o país, fruto da pressão de mostrar obra feita, do desconhecimento técnico sobre ciclovias, da falta de coragem de incomodar o automóvel e da incompreensão de quem as ciclovias não são sempre uma boa solução.

Auto-estradas Urbanas

TMC, 07.12.09

Uma das consequências mais danosas da implementação maciça do automóvel nas cidades foi a reorientação do planeamento das estruturas de acordo com a sua lógica; uma reorientação que sacrificou muitos dos outros elementos da cidade, nomeadamente o peão e o espaço público.

 

Toda a potencialidade que um determinado terreno tem para assumir uma função, seja um jardim, um parque, um bairro habitacional, comércio, escolas, etc é reduzida apenas a uma função quando se constrói. Voltar atrás é muito difícil porque na cidade não se apaga uma estrutura como se apaga uma assinatura. Mas enquanto se assumir que é legítimo obedecer à necessidade voraz de espaço do automóvel, não questionamos que a potencialidade de um espaço seja frequentemente redireccionada para novas estradas.

 

O ciclo perpetua-se da seguinte maneira: 1) criam-se vias para os automóveis poderem circular 2) facilita-se a aquisição e a guarita do automóvel, através de fiscalização inadequada e de estacionamento quase gratuito 3) numa certa escala de tempo as vias entopem e não escoam 3) obedece-se à procura, mantendo-se a ilusão que automóvel éé sempre sinónimo de ganho de tempo através da velocidade e, voilá, 1) outra vez

 

Já o quase esquecimento do peão é, quanto a mim, muito mais misterioso porque é a forma mais básica de locomoção do ser humano. Andar a pé é inevitável e embora alguns sonhos do urbanismo moderno imaginassem a vida no futuro equivalendo a cidade a um gigantesco drive-in, a medida da negligência do peão nas nossas estruturas só demonstra o quão infecciosa é hoje a presença do automóvel na cabeça dos que planeiam as cidades.

 

Esta negligência do andar a pé está hoje presente nas ditas auto-estradas urbanas: estruturas híbridas e monstruosas que rasgam o tecido urbano, já de si caótico; não são estradas nem avenidas, são apenas um erro crasso de planeamento e a vontade de continuar o paradigma da velocidade: se há congestionamento, criem-se mais acessos, para lá de tudo o que existe e servindo apenas e só o automóvel. 

 

Um exemplo, tirado do blogue Discovering Urbanism e que é delicioso porque mostra precisamente a tal inevitabilidade do andar a pé. A cidade é Brasília, o planeamento é muito moderno mas, teimosamente, lá surge o peão, esse rebelde e que teima em caminhar e criar os seus próprios trilhos, para lá daqueles delineados para o automóvel. A ilusão da velocidade promove o esquecimento do corpo mas é impossível desligarmo-nos dele.

 

 

 

Um peão que circule ao lado das velocidades permitidas aos automóveis nas vias principais não tem uma percepção favorável da sua segurança nem as condições necessárias para andar. Mesmo que seja esse o melhor caminho entre dois pontos e para as suas escolhas de locomoção (o automóvel não é universal).

 

 


Qual é a maneira mais simples  e elegante de criar, simultaneamente, barreiras anti-ruído, ar mais saudável, clima de proximidade e ainda desacelaração de tráfego? Será um sistema inteligente em tempo real geo-referenciado ou qualquer outra parafernália tecnológica? Árvores. Muitas. Uma distância não são dois pontos, é também o preenchimento dos intervalos.

Auto-estrada de borla como apoio social

MC, 09.11.09

"O país atravessa uma crise profunda e prolongada cujo fim está ainda distante e que atingiu particularmente a Região Norte. Não aceitamos que, neste contexto de crise, se agravem os custos para os utilizadores das auto-estradas", João Semedo do Bloco de Esquerda ontem ao Público estando em causa uma auto-estrada Porto-Viana do Castelo.  Ainda segundo a notícia o Bloco "alertou" o Governo sobre as "graves consequências sociais económicas" que resultarão da concretização desta medida e pretendeu "estimular" a luta contra a mesma.

Resumindo, o Bloco está preocupado com as consequências sociais sobre os portugueses que são donos de um automóvel, que o utilizam em longas deslocações e que moram numa das regiões mais desenvolvidas do país, e quer portanto que o resto do país lhes pague a portagem.

 


Em Lisboa, a Lisboa e-Nova organiza um encontro sobre O Estacionamento Pago como Meio de Gestão da Mobilidade e Tráfego com a presença do Tiago Farias do IST nesta quinta-feira dia 12.

Dos leitores: "wiki" das ciclovias de Lisboa e auto-estradas paralelas

MC, 20.10.09

1. O leitor F.S. depois de não encontrar nenhuma informação online sobre as ciclovias existentes em Lisboa, decidiu ele próprio criar um mapa público com as ciclovias existentes. O mapa está em ciclovias.pt.vu e todos as contribuições são bem-vindas. É só enviar um pedido de acesso para

Adenda: um leitor deixou um pdf da CMLisboa com o plano das ciclovias.

 

2. O leitor J.M envia uma foto que mostra o absurdo do alcatrão em Portugal. Circulando numa das auto-estradas que ligam Lisboa a Porto, tirou a uma fotografia à sua auto-estrada paralela! Sim, elas estão tão próximas que dá para dizer adeus.

 

Não esquecer que está a ser construida uma terceira auto-estrada paralela. No local da foto ainda não se sabe se será a 2 ou a 3km destas duas.

 


Fotos a ver no CidadaniaLx: avenidas centrais de Lisboa transformadas em perfil de via-rápida.

E ainda há quem se espante...

MC, 16.10.09

Uma semana depois da abertura de mais uma auto-estrada em Lisboa, a TSF diz que "ao contrário das expectativas"  o "caos de trânsito no IC-19 continua apesar da nova A-16". Nas última duas décadas foram inauguradas centenas de quilómetros auto-estradas e vias-rápidas na Grande Lisboa. Foram feitas dezenas de túneis e alargadas vias. O trânsito continua um caos, apesar do número de habitantes não ter variado.

Aparentemente ainda há muita gente que não percebeu que esta é a receita errada.

 


A ler: TGV sobre a trapalhada que é o serviço da CP.

Vá, não acham que estão a exagerar?

TMC, 13.10.09
 
 

 

 


Segundo este fantástico estudo, o governo português, via Estradas de Portugal, não está mesmo a exagerar. O que não investimos em educação, ciência e saúde e que delapidámos no Plano Rodoviário Nacional, reflectir-se-á daqui a menos 30 anos no aumento de riqueza. Donde é que virá ela? Não sei, mas os especialistas garantem-nos que ela vem, por isso mal posso esperar. Pelos vistos não há limites.