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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Adeus shoppings do subúrbio, olá cidades humanas

MC, 30.05.12

De entre os países desenvolvidos, Portugal e os Estados Unidos são daqueles onde o automóvel tem um maior peso na sociedade. As cidades e mesmo alguns bairros, estão cercados por mais e mais auto-estradas, o comércio local tem menos peso que os shoppings onde só se chega de carro, as cidades são parques de estacionamento e zonas de atravessamento de trânsito. há mais carros a passar do que pessoas, etc.

Mas há cada vez mais bons sinais de mudança nos dois países. Num artigo do NY Times (que já passou no nosso Facebook) mostra-se que nos últimos 15 anos, os americanos estão a procurar mais o centro da cidade para viver, e menos os subúrbios. Prova disso é o valor das casas, que subiu mais no centro.

De Portugal tem havido histórias de hipermercados a fechar e de falta de vontade em abrir mais shoppings. Esta poderia ser uma história da crise generalizada, mas hoje o Diário Económico conta que a procura de espaços comerciais no centro de Lisboa e Porto  (especial destaque para o Chiado) tem vindo a aumentar, apesar dos preços serem claramente altos.

Excelentes notícias!

 

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E da cidade mais europeia da América, mais uma notícia europeia: Nova Iorque também vai ter um sistema de bicicletas públicas partilhadas.

Brussels Express

MC, 23.05.12
O ponto central deste documentário de 18 minutos é uma companhia de estafetas em bicicleta em Bruxelas (tal como a Camisola Amarela de Lisboa, e a HandBikeHand do Porto), mas ele acaba por falar de todo o trânsito na cidade, da maneira como a bicicleta era visto como algo marginal - incluindo a habitual "sim, gosto de passear ao domingo" - e foi entrando na cabeça das pessoas, como a cidade é irracionalmente dominada por automóveis, etc. 
E como Bruxelas também é uma cidade de várias colinas (até há uma cena de um estafeta a descer uma colina com a bicicleta no elevador), este documentário poderia ser sobre Lisboa ou Porto.
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A ler, o estudo Infrastructure and cyclist safety feito pelo Transport Research Laboratory do Reino Unido.
Um cheirinho:

Of all interventions to increase cycle safety, the greatest benefits come from reducing motor  vehicle speeds. Interventions that achieve this are also likely to result in casualty reductions for all classes of road user. This may be achieved by a variety of methods, including physical traffic calming; urban design that changes the appearance and pedestrian use of a street; and, possibly, the wider use of 20 mph speed limits.  
Most cyclist injuries in multi-vehicle collisions take place at junctions. Reducing the speed of  traffic through junctions appears to be an effective approach to reducing cycle casualties, and  physical calming methods are a reliable means of achieving such a reduction. 
Providing segregated networks may reduce risks to cyclists, although evidence suggests that the  points at which segregated networks intersect with highways can be relatively high-risk, sometimes of sufficient magnitude to offset any safety benefits of removing cyclists from the  carriageway. 

O preço justo para o estacionamento II

MC, 22.05.12

Tenho insistido várias vezes que o estacionamento automóvel não deve ter um tratamento especial no que toca ao seu preço. Se o preço de um bem essencial como uma casa segue uma lógica de mercado - quanto mais desejadas for, mais cara é - porque haveremos de tratar o estacionamento de uma maneira mais favorável? Uma casa no centro da cidade é muito mais cara, apenas pela sua simples localização. O estacionamento não deve tornar as nossas praças, o nosso espaço público, em parques de estacionamento, mas deve ser restrito a garagens - tal como é proibir acampar ou construir casas no meio do Rossio - e seguir uma lógica de mercado.

Nova Iorque é dos melhores exemplos desta política, e uma notícia de ontem mostra bem como estamos a desbaratar o nosso precioso espaço público para estacionar caixas de lata: em Nova Iorque há um lugar de estacionamento à venda por um milhão de dólares!

 

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Link recomendado de hoje, um texto no Boinb Boing sobre o custo que o estacionamento grátis acarreta: Free Parking costs a Fortune.

Alertar a vítima e apenas a vítima

MC, 16.05.12

 

 

Na "ciclovia" ao longo do rio Tejo em Lisboa, reparei que havia o seguinte desenho em vários pontos:


 

Sempre que a "ciclovia" se cruza com o trânsito, o ciclista que conduz um veículo de 15Kg, é alertado do perigo eminente. E do lado do condutor, que conduz um veículo 100 vezes mais pesado, logo 100 vezes mais perigoso e 100 vezes menos ágil e é por isso uma potencial arma em movimento? Nada. Absolutamente nada.

É mais um caso da habitual inversão de valores, que põe a responsabilidade do lado da potencial vítima em vez de o colocar no potencial agressor. Tal como em alguns países islâmicos se obriga as mulheres a usar burqa para não serem violadas.

 

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Repesco aqui um post antigo do De Bicicleta no Porto para quem torce o nariz a dinheiro gasto em infra-estruturas para bicicletas: a DR Educação do Centro gastou 138 mil euros só para tapar o sol aos automóveis.

 

 

Miguel Barroso: "Sobre o real custo da hipermobilidade automóvel"

Menos Um Carro, 03.05.12

Voltamos a ter o prazer de ter um texto escrito por alguém de fora, logo melhorzito que os nossos. O texto de hoje é do Miguel Barroso, autor do inspirador Lisbon Cycle Chic (que está a organizar o segundo encontro Cycle Chic em Lisboa no dia 19 de Maio) e um membro activo da FPCUB.

Obrigado Miguel!

 

Sobre o real custo da hipermobilidade automóvel

 

Para quem diz que os automóvel e os combustíveis estão sujeitos a muitos impostos,  vejam esta reportagem, e comecem a somar os nºs...

Não há IA nem ISP juntos que paguem tamanha factura!... E isto é apenas uma ponta do véu - os custos conjuntos de construção e manutenção das Ex-SCUTS e AEs, cujo tráfego é cada vez menor, são simplesmente assustadores. Juntem a isto todos os nós viários, variantes, viadutos e afins, construídos nos arredores (e no interior!!!) das cidades. Não defendendo o TGV, que nos dias de hoje é uma carta fora do baralho, vejam quantos seriam possíveis de construir com estes montantes aqui falados.

Sim, a mobilidade automóvel é brutalmente financiada pelo estado! 

E as redes de transportes colectivos saem penalizadas, pois a "fuga" para o transporte individual resultante deste financiamento, traduziu-se em menos utilizadores dos transportes públicos, e por conseguinte, menor sustentabilidade económica destes...

É urgente inverter esta lógica, trazer seriedade a estas negociações, e tentar minimizar o estrago que já foi feito (temos o país rasgado por autoestradas sobredimensionadas e em quantidade exagerada, cuja manutenção é impossível de comportar). A reportagem já não é nova, e não sei em que ponto estará esta situação agora. 

Para o comum cidadão, o real custo da mobilidade automóvel está longe de ser compreendida... Todos continuam a protestar, pois é cada vez mais caro, mas na realidade, esse custo é ainda uma fracção do custo global - o resto, continua a ser pago pelo erário público, ou seja, somos todos a pagar . A tendência será para que os utilizadores do automóvel paguem uma fatia cada vez maior dessa factura global.

Claro que serão sempre necessárias infraestruturas rodoviárias - a questão aqui reside na quantidade pornográfica que foi construida nas últimas décadas. O país foi desfigurado em nome de um suposto progresso, em nome de um modelo de desenvolvimento distorcido e com contornos financeiros pouco claros e muito perversos.