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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Primeiro o ovo ou a galinha? A carro-dependência ou a sociedade do automóvel?

MC, 27.05.11

Dizem-me frequentemente que as pessoas necessitam do automóvel, porque a sociedade a isso obriga. É preciso o carro para ir trabalhar, é preciso o carro para ir às compras, etc. Sabemos bem que esta necessidade é muitas vezes meramente aparente, e que muita gente a usa para auto-justificar o seu abuso do automóvel. Este blogue está cheio de exemplos disso, sendo que talvez o melhor de todos seja relatado por este brilhante post do A Nossa Terrinha. Resumidamente, diz-se que é a sociedade do automóvel que força a carro-dependência.

Ora, isto é não ter alguma perspicácia sobre o funcionamento da economia. Se no imediato a procura (os consumidores) têm que se adaptar à oferta, no longo-prazo ou seja nas grandes transformações, é a oferta que se adapta à procura. Hoje ouvimos música com MP3s em vez de cassetes, mas isso não foi porque alguém decidiu forçar-nos a comprar iPods em vez de walkmans. Sim, no imediato, se eu entrar numa loja de eletrónica vou ser forçado a comprar um MP3, mas a mudança não aconteceu porque a indústria eletrónica mudou a sua produção por acaso. Os walkman desapareceram e vieram os iPods porque os consumidores preferiam ter um sistema mais compacto e de melhor qualidade. A indústria foi forçada a adaptar-se - com enormes custos aliás.

O mesmo se passa com a sociedade do automóvel. Foi a carro-dependência, a vontade de centrar a vida das cidades no automóvel, que levou ao nascimento dos shoppings junto à auto-estrada, ao enfraquecimento do comércio local, à transformação das cidades em parques de estacionamento sem vida, ao abandono dos centros onde é difícil estacionar e a mudança para os subúrbios com garagens e parques de estacionamento, à deslocação de postos de trabalho da cidade para as bermas das auto-estradas.

A nossa sociedade do automóvel não é uma fatalidade dos tempos modernos, aí estão Londres, Estocolmo, Amesterdão, e todas as cidades do Norte europeu desenvolvido para provar o contrário. Esta sociedade é meramente fruto da nossa cultura sedentária, ostentativa e novo-rica.

 

Felizmente há cada vez mais razões para sorrir. As cadeias dos hipermercados investem no comércio de rua, abrem-se salas de cinema na cidade, a procura de casas no centro histórico (onde não se pode estacionar) cresce, o comércio tradicional renasce com mais carácter, cada vez há mais bicicletas na rua, etc.

 

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O Independent fala-nos até no Peak Car, o ponto onde o carro chegou ao máximo da importância e daqui para a frente só decresce. Exemplo: cada vez há menos jovens britânicos a tirar a carta.

O pior de Lisboa

MC, 20.05.11

A CML aprovou há dias a proibição de circulação de carros muito poluentes (Euro 1) na Baixa, medida demagógica sobre a qual já falei aqui. Há algo que me aflige bem mais no centro histórica da cidade, que não será certamente a poluição, nem a falta de ciclovias ou de estações de metro. Nem é a falta de fiscalização do estacionamento ilegal ou legal, nem fiscalização do respeito pelos peões ou o respeito dos limites de velocidade.

O que me deixa chocado no centro da cidade é isto:

 

 

Ontem participei numa corrida/gincana nocturna com centenas de pessoas, e era ridículo ver aquele mar de gente a tentar esgueirar-se pelos pouco centímetrozitos que têm os passeios no centro. A grande maioria dos passeios nem espaço tem para uma pessoa poder caminhar normalmente, quanto mais um casal, uma cadeira de rodas, um idoso, um carrinho de bebé. Estes passeios são tão pequenos, que uma amiga lhes chama "os para-choques dos prédios", porque é esse o único propósito que têm: evitar que os carros não colidam com os prédios. Isto numa zona com duas linhas de metro, dezenas de autocarros, e um parque de estacionamento em cada esquina.

São ruas com traçado antigo, do século XVIII, dirão alguns. O problema não é esse, porque a rua teria espaço para carros e peões, bastaria que a CML quisesse que Lisboa fosse uma cidade em vez de um parque de estacionamento, aproveitando aqueles dois metros à esquerda como passeio em vez de estacionamento. São decisões do século XXI, não do século XVIII, que criam o problema. E choca-me que as pessoas passem ali sem estranhar, e que me avisem (palavras ou businadelas) que estou a caminhar fora dos centímetros reservados aos peões. Todos aceitam esta mentalidade do automóvel antes da pessoa. Todos os problemas começam aqui.

Se houvesse passeios, dignos desse nome, a cidade seria bem mais amiga dos peões e dos transportes, em vez de convidar o automóvel a entrar, disponibilizando-lhes milhares de estacionamentos. Até para quem está preocupado com a poluição seria melhor.

 

 

Graças às revoluções no mundo árabe, a televisão tem mostrado imensas imagens de cidades árabes. Tenho reparado que nem aí se vêm o triste espéctaculo de Lisboa. Tal como não se vê na Bolívia ou na Espanha, já para não falar do norte da Europa. 

 

 

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O "A Nossa Terrinha" tem quatro excelentes posts sobre isto, cheios de fotos que dizem tudo: 1, 2, 3 e 4.

 

 

Duas histórias do Portugal carro-dependente

MC, 04.05.11

1. Uma amiga estrangeira a visitar Lisboa, ficou numa casa de uma colega, que mora a "10 minutos a pé do Colombo" (para quem não sabe, o Colombo tem uma estação de metro). O facto de a colega portuguesa trabalhar no Saldanha, a apenas 5+1 estações de metro de distância, e usar exclusivamente o carro, já deixava adivinhar o que vinha.

Pouco depois de combinar um café na Baixa, ela volta a ligar aflita a perguntar se eu tinha carro. Não tendo eu carro, ela não poderia ir ter à Baixa por falta de tempo. É que a portuguesa carro-dependente lhe garantiu que de Benfica à Baixa era uma hora de transportes públicos! (São 10 paragens de metro, na mesma linha, 14 minutos segundo o Google Maps).

É impressionante como tanta gente faz um esforço intelectual para se convencer que o automóvel é a única alternativa.

 

2. Uma leitora conta que ao comprar um telemóvel, perguntou a opinião ao vendedor. O vendedor disse-lhe que muita gente se queixava dos telemóveis com ecrã tátil em vez de teclado, porque demoravam mais tempo a escrever mensagens quando guiavam.........

 

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O A Nossa Terrinha conta mais uma história do Portugal carro-dependente, de carros que ganham vida.

Exemplo

TMC, 03.05.11

A leitora Catarina G avisou-nos de que, na sequência desta posta (na verdade, é só uma imagem), a Fundação Calouste Gulbenkian lhe enviou a seguinte resposta:

 

Exma. Senhora

D. Catarina G,

 

Acusamos a recepção e agradecemos o seu e-mail abaixo, no qual nos chama a atenção para o nosso comportamento pouco ambiental em relação ao anúncio da disponibilidade do parque de estacionamento.

Porque pensamos que o seu comentário é pertinente, gostaríamos de lhe dizer, em primeira mão, que iremos modificar o nosso meio de actuação em futuras iniciativas do Programa Gulbenkian Ambiente (PGA), deixando de anunciar a disponibilidade de parque de estacionamento.

No entanto, relativamente a todas as outras actividades e iniciativas da Fundação, promovidas por outros Serviços e/ou Programas, será mais difícil, mas iremos levantar internamente o debate.

Bem haja pelo seu contributo para promover melhores atitudes ambientais.

Com os nossos melhores cumprimentos.

 

P’lo Programa Gulbenkian Ambiente

 

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FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

Programa Gulbenkian Ambiente

Av. de Berna, nº 45-A

1067-001 LISBOA

P O R T U G A L

 

www.gulbenkian.pt/ambiente

 

 


 A cidade de Paris lançou uma página que permite aos utilizadores saberem o melhor trajecto ciclável entre dois pontos da cidade. Espera-se que a adesão a este meio de transporte fique assim ainda mais facilitada e que os cépticos possam confirmar por eles próprios outra forma de descobrir a cidade das luzes. A página informa-nos das características de cada percurso em termos de duração, cumprimento, existência de estruturas cicláveis e partes mais ou menos declivosas; é também possível introduzir os percursos mais frequentes que fazemos e ficarmos a saber as suas características.

Preço do petróleo em euros

MC, 02.05.11

Como a nossa imprensa é um bocadito preguiçosa, nunca falando no petróleo na moeda que nós usamos na realidade, aqui fica a evolução do preço do Brent em euros (dados do BCE).

 

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Paradoxalmente este aumento só vai ajudar a promover o automóvel em Portugal, devido ao status que dá. O A Nossa Terrinha tem uma história incrível sobre isso.