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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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A primeira cidade sustentável e inteligente da Europa?

TMC, 30.06.10

Portugal vai ter em Paredes a primeira cidade sustentável e inteligente da Europa. Vai?

 

Segundo a imprensa, é o caso. Terá o DN ido a reboque do empolamento necessário a este tipo de eventos e criado pelos assessores das empresas promotoras? Aparentemente, não há razões explícitas que digam porque será a futura cidade "sustentável e inteligente". No jornal i, parece haver contudo algumas razões:

 

[...] a multinacional prevê desenvolver milhões de sensores para esta cidade inteligente, um projecto único no mundo. É aquilo a que chama de "smart connected communities". "O que teremos é a próxima geração da internet, que é a internet das coisas e teremos tudo interconectado"

 

Nesta cidade haverá informação em rede e toda a comunidade estará ligada em tempo real. E deu um exemplo: "Poderemos ter um médico por telepresença e isso também é melhorar a qualidade de vida das pessoas."

 

Atenção. Não estou contra este investimento. Os números são ambiciosos e prometedores: 12 mil empresas, 20 mil empregos, um investimento até 2015 de 10 mil milhões de euros e um modelo de negócio integrado que pode vir a significar 5% do PIB.

 

O que questiono é a relativa e imediata equivalência com que o assunto é mediatizado e a habitual confusão entre tecnologia moderna e "inteligência" de cidades ou de outros artefactos.

 

Uma cidade não precisa de ser criada de raiz para ser inteligente. Tampouco de uma febre tecnológica que a conduza a melhores destinos. Nem a reconstrução de algumas das suas partes, por ser mais recente, implica mais inteligência e sustentabilidade. Pelo contrário. Foi precisamente a trapalhada da construção de subúrbios desagregados e da sua conectividade à cidade já existente que tornaram Lisboa e Porto pouco sustentáveis e inteligentes. Foi a incúria de arquitectos e urbanistas que criaram uma cultura de residências e edifícios sem qualquer sustentabilidade e respeito pelos usos do espaço. Temos a ideia habitual de que na história humana acumulamos mais conhecimento ao longo dos anos, o que não deixa de ser verdade. Mas esse conhecimento, usado para a resolução de problemas, aumenta por sua vez a magnitude e a complexidade dos problemas criados pela introdução das novas soluções, que nunca são definitivas.

 

O que estou a tentar dizer é que já existem soluções para tornar as cidades mais sustentáveis e inteligentes. Não tenho nada contra a tecnologia mas acho excessivo estarmos sempre a usá-la como se fosse uma panaceia para todos os males do mundo. Não é e não faz sentido estarmos a esperar apenas por mais soluções tecnológicas para os problemas actuais.

 

Concretizando:

 

- A arquitectura bioclimática é hoje uma das soluções arquitectónicas que se baseia no enquadramento do edifício com o lugar e as redondezas. Este nome pomposo é só um chavão para aquilo que os nossos antepassados, por serem obrigados a usarem os recursos da melhor maneira possível, usavam nas suas casas. Um exemplo simples são as portadas das janelas das casas alentejanas, cuja cor, estrutura e materiais permitem uma gestão da temperatura consoante a época do ano. Hoje constrói-se à toa e os problemas de clima interior são remediados  pelo ar condicionado. Ver, a este respeito, a comunicação sobre Arquitectura Tradicional e Sustentabilidade.

 

- O bairro de Vauban em Freiburg, Alemanha, é livre de carros. Ver aqui imagens e aqui um testemunho. Isto porque a sua estrutura, compacta, também proporciona a rejeição do automóvel. As lojas de bens essenciais estão perto, não havendo por isso a necessidade de criar deslocações desnecessárias a centros comerciais. Tudo isto é...inteligente e exequível sem tecnologias impossíveis ou onerosas. E no entanto, em Portugal os subúrbios expandem-se na dependência do automóvel e dos seus centros históricos com tectos. O estacionamento é com frequência gratuito ou muito barato.

Não há portagens grátis

MC, 25.06.10

Com alguns avanços e recuos, começa finalmente a instalar-se a ideia de que as SCUTs devem acabar. Cobrar portagens ou aumentar impostos sobre os combustíveis é me mais ou menos indiferente, o que é importante é que este custo enorme (mais de 600 milhões por ano) para o Estado seja cobrado a quem o usa.

E é aqui que oiço as coisas mais disparatadas por aí. Parece que a opção é entre ter portagens ou ser gratuito, como se alguma alma caridosa pagasse os 600 milhões. A verdadeira opção é ser pago por quem tem carro e usa auto-estrada, ou por todos nós. Colocando as coisas nos verdadeiros termos, a resposta parece-me óbvia.

 


A ler na BBC: a Nokia lançou um kit para recarregar o telemóvel com o dínamo da bicicleta!

Qual o transporte mais eficiente à face da Terra?

MC, 03.06.10

via Boston Biker

A escala vertical mede a eficiência energética (energia gasta por cada km percorrido por cada gama transportada) de cada transporte. A bicicleta deixa a concorrência a milhas! Repare-se que o caminhar de um homem, um sistema de locomoção primitivo e aparentemente ineficiente - por não ser contínuo, mete-se uma perna à frente, para-se, passa-se a outra para a frente, etc. - fica ligeiramente em melhor posição do que o automóvel!

Atenção ao ler o gráfico, ele mostra o total do peso transportado. Quando andamos de carro o objectivo é transportar as pessoas dentro dele, a deslocação do carro é apenas um meio para atingir o fim. O gráfico diz-nos que mesmo imaginando que tínhamos como objectivo transportar toda uma tonelada, o sistema da bicicleta seria mais eficiente. Se o objectivo for apenas transportar a pessoa, a derrota do carro é ainda mais humilhante.


Foto roubada ao Uma bike pela cidade:

Carros, as vacas sagradas das alterações climáticas

MC, 02.06.10

 

Fonte: AEA
A União Europeia há vários anos que tem política ativas na redução da emissão de gases do efeito de estufa. Foi a principal defensora do protocolo de Kyoto, onde se comprometeu (na altura a 15) a reduzir as suas emissões de 2008-2012 em 8% face a 1990. Como se vê na parte de cima do gráfico, a Europa reduziu 11% das suas emissões em 2008 face a 1990. Esta redução teve obviamente um custo, nova legislação, nova tecnologia, indústrias que tiveram de ser convertidas, novos hábitos, etc. De lembrar que a economia cresceu mais de 40% neste período, de modo que a redução de 11% é realmente um sucesso.
O transporte rodoviário é no meio disto tudo uma vaca sagrada na Europa. Este setor aumentou as suas emissões em 26%. Em 1990 era responsável por 12,8% do total, em 2008 por 18,2%. A UE ficou-se por meros objectivos de melhoria de eficiência (e mesmo estes foram sendo retirados por enorme pressão da indústria), nunca tendo havido a intenção de reduzir o transporte rodoviário. Bem pelo contrário, o apoio a construção de infra-estruturas rodoviárias continua a merecer milhões em apoios comunitários todos os dias.

 

 

E não, o carro eléctrico (mesmo com electrões provenientes somente! da energia eólica) não é uma solução para isto.

 

 


 

A comprar esta semana em Lisboa, a Time Out dedicada à bicicleta na cidade.