Estremoz foi considerada "Cidade de Excelência" ao ganhar o Prémio Projecto Urbano - Reabilitação, com o projecto para o Rossio do Marquês de Pombal e largos adjacentes, dos arquitectos Adalberto Dias e Graça Nieto.
O Rossio do Marquês de Pombal, lugar de troca de bens, serviços e cultura desde o século XVI, é uma das maiores e mais belas praças portuguesas, circunscrita por edifícios notáveis e de grande escala, como o Convento dos Congregados, onde funciona a Câmara Municipal, ou o Convento das Maltezas, que deu lugar ao Centro Ciência Viva .
Contudo, "apesar do seu carácter de cidade, da sua formação histórica e dos seus espaços e edifícios de referência (é hoje) um território fragmentado", referem os arquitectos, que identificaram os seguintes problemas na própria praça e na relação com a envolvente: "Excesso de espaço viário sobre o pedonal, uma grande ruptura provocada pelo caminho-de-ferro , fragmentação e dispersão do espaço público, descaracterização de espaços de encontro e sociabilidade, demasiadas frentes de estacionamento, escassez do espaço pedonal de relacionamento com o edificado." O mercado semanal, que cria uma ocupação quase espontânea na praça e provoca grande afluência de pessoas e veículos, tem contribuído para esta desqualificação por transformar o local num espaço expectante e de estacionamento automóvel.
"De forma a resolver as continuidades perdidas e articular os elementos dispersos desta realidade urbana, a proposta de requalificação desenha uma nova rede de relações conceptuais e materiais: repõem-se eixos visuais e perspécticos, criam-se novos espaços em conjugação com outra mobilidade menos dependente do automóvel, ligando de maneira coerente e contínua os três grandes momentos da cidade de cota baixa e estável, o Rossio do Marquês de Pombal, a Praça Luís de Camões e Pelourinho, e o Largo do Gadanho", assinalam os responsáveis pelo projecto ganhador, que já tinha vencido o anterior concurso de ideias aberto pelo município para o reequacionamento do mesmo local histórico.
A equipa multidisciplinar procurou com o desenho urbano e arquitectónico uma hierarquização e separação clara entre a estrutura viária e os espaços da praça, rede- senhando espaços de estar, eixos viários e ligações.
"Estas ligações, aliadas à Rota do Comércio Tradicional, permitem a afirmação de uma nova gama de espaços de referência e enquadramento de edifícios simbólicos e monumentais", acrescentam os arquitectos, que também deram especial atenção aos sistemas ecológicos de suporte, para assegurar a infiltração e escoamento hídrico. A título de exemplo, os conjuntos arbóreos do centro da cidade integram um corredor de continuidade no sistema húmido do território, pelo que foi proposto o reforço das árvores existentes e a criação de novos jardins.
Os meus parabéns a toda a equipa que projectou as novas configurações dos terreiros de Estremoz. É muito importante que a restrição ao automóvel nas cidades seja reconhecida e institucionalizado como um factor de desenvolvimento. Note-se que o paradigma é retirar liberdade ao automóvel ao mesmo tempo que se confere mais espaço ao peão, às pessoas, priveligiando a sociaiblidade, os encontros e as trocas.
Este tipo de urbanismo começa a ganhar força em Portugal mas, por óbvias restrições políticas e económicas, vai-se exercendo fora dos grandes centros urbanos; é neles que o automóvel ainda impera e a qualidade de vida soçobra. Está na hora de fazer as malas e premiar cidades como Estremoz com a nossa presença.