Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Mais uma prova da nossa bizarra obsessão pelo carro II

MC, 30.07.08

No Jornal de Negócio saiu um artigo de Avelino Jesus, onde este se deu ao trabalho de juntar várias estatísticas para mostrar a nossa bizarra obsessão por auto-estradas e o automóvel. Aqui ficam algumas:

 

  • Desde 1990 fomos o 2º país que mais multiplicou a sua rede.
  • 2,3% da nossa rede de estradas é auto-estrada, mas a média da UE é apenas de 1,2%.
  • Estes 2,3% são aliás o terceiro valor mais alto na UE.
  • Portugal representa 1,3% do PIB europeu e 1,4% da carga movimentada, mas as nossas auto-estradas representam 3,2% do total europeu!
  • Na OCDE (o que inclui EUA, Canadá, Japão,etc...) somos o segundo país com mais auto-estradas por PIB.
  • Temos mais auto-estradas por habitante, e por área de território do que a média europeia.
  • Em 15 anos o transporte de pessoas em automóvel cresceu 139% em Portugal e apenas 31% na UE15.  Em transporte colectivo cresceu 0,5% bem menos do que os 12,8% na UE15.

 


Notícia recomendada: os ciclistas na Austrália poupam 140 milhões de euros ao Estado em termos de encargos com a saúde. ("via" Taborda)

Seria curioso comparar isto, os custos de saúde causado pelos automobilistas (poluição, sinistralidade, sedentarismo) e com quanto dinheiro é que o Estado financia uns e outros.

Andar de carro é coisa de pobre

MC, 29.07.08

Um casal jovem amigo nunca teve automóvel, nem sente falta dele.

Ele trabalha, ela trabalha, não têm falta de dinheiro, têm até dois filhos bebés (o argumento supostamente mais forte para a "absoluta necessidade" do automóvel). E não são fanáticos ambientalistas nem acérrimos defensores de uma cidade sem automóveis

 

São pura e simplesmente um casal sueco, que mora em Estocolmo. Vive num país onde ter automóvel não dá status, onde não há uma cultura sedentária, onde as cidades são pensadas para as pessoas, e onde há menos 20% de automóveis por habitante do que em Portugal apesar das óbvias diferenças de rendimento.

 


Leitura recomendada: as tristes prioridades de uma comissão de moradores de um bairro lisboeta. Ler também o segundo comentário. (Por acaso, e para quem não conhece a zona, é um bairro onde as poucas garagens de estacionamento que havia nos prédios foram convertidos em lojas e oficinas para dar algum lucro aos proprietários... alguns dos quais exigem agora estacionamento da câmara. Mas mesmo que assim não fosse, aquele texto é triste.)

Sintra é para carros não para pessoas III

MC, 25.07.08

Fotografia tirada a 100m da saída da Estação de comboio de Sintra,

na rua que se toma em direcção ao centro da vila e por onde passam

centenas de turistas todos os dias.

 

A esquina desta casa é um pouco mais proeminente que as restantes da rua. Com um passeio deste tamanho é impossível irem duas pessoas lado a lado, passar um carrinho de bebé, passar uma cadeira de rodas, passar uma pessoa de bengala. Para resolver este absurdo bastaria abolir um único lugar de estacionamento. Só posso concluir que para a Câmara de Sintra (que por sinal, é a poucos metros do local) o direito desse automobilista está acima de todos esses peões.

 

Este caso levanta uma questão, as perdas em termos de turismo graças ao monopólio do automóvel nas nossas cidades. Alguém duvida que cidades como Amesterdão, Munique, Copenhaga, Estocolmo, Praga, etc... teriam muito menos receitas turísticas se fossem cidades com tanto trânsito, tanto barulho e tão desagradáveis para andar a pé como Lisboa ou Porto? E não falo só na vinda de turistas falo nos consumos deles também, nas esplanadas que pouco existem por cá, no comércio no centro da cidade que morre para o comércio dos shoppings nas auto-estradas.

 

Sintra é para carros não para pessoas

Sintra é para carros não para pessoas II

 


Página recomendada: Ecopassenger faz uma análise detalhada dos custos ambientais consoante o tipo de transporte usado em deslocações entre cidades europeias.

O carro eléctrico é menos inimigo do ambiente que os convencionais

MC, 24.07.08

Obviamente que o carro eléctrico não é "emissões zero" como se diz tanto por aí, mas de acordo com umas estimativas do Francisco Ferreira da Quercus (publicadas na mailing list Ambio), o impacto ambiental será menor. Aqui ficam alguns dados (alguns dos quais eu já tinha referido nos posts anteriores)

 

Menores desvantagens ambientais (recuso-me determinantemente a chamar-lhe vantagens ambientais):

  • qualidade do ar: não há poluição local, controlo de emissões mais fáceis (por serem localizados), menos óxidos de enxofre e partículas
  • menos ruído
  • CO2 (de acordo com a produção eléctrica em Portugal) por cada 100km
    Veículo eléctrico maior dimensão         7050g
    Veículo eléctrico menor dimensão        4700g
    Toyota Prius                                       10400g
    Veículo médio adquirido em Portugal   14300g
  • sistema de reaproveitamento de energia nas travagens (como nos híbridos), e consumo zero quando está parado

Nada disto invalida as minhas críticas anteriores. Um passageiro de um autocarro (mesmo a diesel) tem um impacto ambiental - já para não referir todas as outras externalidades - bem menor do que um automobilista num carro eléctrico. Logo é um absurdo económico e ambiental promover o segundo em comparação com o primeiro, como está a ser feito.

 

Apesar do custo do veículo eléctrico ser bem maior, o custo operacional nas deslocações acaba por ser 8 vezes menor em comparação com o carro convencional (em parte por que a electricidade é financiada e o petróleo taxado). O Mário Alves levanta aqui um problema bem conhecido na economia, o paradoxo de Jevons, que diz que o aumento de eficiência no uso de um recurso pode até levar a um aumento do seu uso. Neste caso, por os veículos eléctricos serem energeticamente mais eficientes, logo mais baratos em termos operacionais, podem levar a um aumento tão grande do uso do automóvel que as emissões de CO2 podem aumentar. Mesmo que não aumentem, é claro que um custo por km mais baixo leva a um maior uso, logo é totalmente errado afirmar que a mudança de motor convencional para motor eléctrico reduz para metade as emissões de CO2.

E como sempre, o que me custa mais, é pensar nos custos não-ambientais do automóvel que aumentarão certamente...

 

Posts sobre os veículos eléctricos

Carro beneficiado face ao transporte público!

Mais um "sonho"

De onde vem a electricidade para isto tudo? 

Porque razão os peões deve(ria)m desrespeitar as regras VIII

MC, 21.07.08

 

As nossas cidades são em muitos casos pedaços de bairros rodeados por vias-rápidas, em vez de um contínuo urbano. Para o peão ir ao vizinho da frente resta-lhe a possibilidade de usar estas horrendas passagens aéreas... É preciso caminhar até elas (normalmente só há uma de km a km) e atravessá-las, o que pode ser bem chato como se vê acima. O que seria feito num minuto numa cidade humana, demora um quarto de hora com estes "amigos do fluxo automóvel". As vias-rápidas (desde "avenidas" a auto-estradas mesmo) acabam por servir assim de barreira à coesão social e urbana da cidade, tornando-a mais desumana.

Estas passagens são mais um exemplo de como o peão é totalmente desprezado em nome da circulação automóvel. Ironicamente, e como sempre, não é quem está na origem do conflito de espaço que é sacrificado e forçado a respeitar os outros, é o peão que não causa congestionamento nem necessita de grandes viadutos que se lixa.

O caso da fotografia é particularmente aberrante, porque está numa zona cheia de enormes viadutos, mas não parece ter havido um milésimo dos fundos necessários a essas obras, para aqui criar uma solução mais amiga do peão.

Pior, a passagem aérea não atravessa uma auto-estrada, atravessa uma estrada a 100m de uma rotunda (a foto é tirada da rotunda). Ou seja as velocidades ali não são altas. Porque não criar umas lombas e uma passadeira? Por que é que o peão é forçado a dar aquela volta toda, em vez de ser o trânsito a parar por 10 segundos?

 

Eu ali não teria dúvidas... era atravessar a direito.

 


Eu não dou grande significado a estatísticas isoladas de uma medição mensal, logo com pouca significância estatística, mas aparentemente a circulação automóvel já se está a reduzir. O JNegócios diz que em Junho houve menos 60 mil carros a entrar em Lisboa.

Bicycle Tube

MC, 20.07.08

Uma ideia curiosa referida no artigo que mencionei atrás: tubos transparentes para protecção das ciclovias. Isto num país onde a meteorologia é realmente um problema para a bicicleta mas onde ela é mesmo usada, a Noruega.

 

Aparentemente já existe numa pequena parte da cidade, com enorme sucesso.

 

Quanto à parte estética... o que será pior um tubo transparente, ou túneis, viadutos, muros divisórios de betão, placas de sinalização tipo auto-estrada, vias-rápidas de várias faixas e carradas e carradas de semáforos como existem bem no centro das nossas cidades?

A cidade vista do selim

MC, 20.07.08

A ler este interessante artigo sobre a adaptação da cidade ao tráfego de bicicletas, sugerido pelo José M. Sousa do Futuro Comprometido, apercebi-me da necessidade de pôr as autoridades e os automobilistas a conhecerem a cidade vista de um selim.

Para o automobilista a bicicleta é aquele empecilho que por vezes o atrasa durante uns segundos, e pouco mais que isso. Eu já nem me refiro ao equívoco de quem não percebe que é o automóvel que causa congestionamento e não a bicicleta, mas à total ignorância no que se refere às dificuldades que o desenho urbano, o trânsito automóvel e o comportamento dos automobilistas causam aos ciclistas. Se tivessem a mínima noção, duvido que alguém refilasse fosse o que fosse com o ciclista... aliás nunca o vi a acontecer nos países onde a bicicleta é um transporte comum.

Que tal obrigar os automobilistas, taxistas e responsáveis autárquicos a uma deslocação anual de bicicleta na cidade?

 

P.S. Agora que releio o post receio que quem nunca se deslocou de bicicleta numa cidade minimamente preparada para tal, não perceba o que eu queria dizer.

 


Notícia recomendada: já há muitas horas que o governo não anunciava mais "investimento" em "acessibilidades", já tinha saudades. Mais 23 milhões, desta vez para o Minho.

Carro beneficiado face ao transporte público!

MC, 19.07.08

Já depois de ter escrito o post sobre a obsessão do primeiro-ministro pelos automóveis eléctricos, o governo veio emitir um comunicado a corrigir as palavras do primeiro-ministro. Afinal os automóveis eléctricos não estão apenas isentos de 70% do Imposto Automóvel, estão sim totalmente isentos.

Pior, também estão isentos do imposto de circulação (o antigo imposto municipal)!

Pior ainda, por andar a electricidade, também estão a ser financiados indirectamente porque a electricidade em Portugal está abaixo do seu valor normal de mercado (lembram-se das confusões com a ERS?).

 

São assim três vantagens financeiras dadas pelos Estado ao automóvel eléctrico, mas que o mesmo Estado não dá a quem anda de transporte público (autocarro)! E isto apesar de um passageiro de um autocarro a gasóleo ter um impacto ambiental e energético claramente menor do que um automobilista num carro eléctrico, apesar de causar menos sinistralidade, necessitar de menos infra-estruturas, ocupar menos espaço urbano, promover um estilo de vida mais saudável, dar mais vida humana à cidade, causa menos congestionamento, e poupar em tantos outros custos que o transporte privado tem.

O sistema de incentivos económicos sobre as externalidades destes dois meios de transporte estão claramente invertidos.

 


Notícia recomendada: o Bloco de Esquerda apresentou algumas propostas de alteração ao código da estrada em benefício do peão e da bicicleta. Como já aqui tantas vezes escrevi, o nosso código tem um tratamento discriminatório sobre o peão e o ciclistas que não existe na maioria dos códigos europeus.

Projecto de Lei disponível aqui.

Quanto o Estado esvazia as cidades e promove o automóvel

MC, 14.07.08

O Estado deveria ser o primeiro a manter os seus serviços junto das populações, a facilitar o acesso a eles, a promover vilas e cidades com vida. Infelizmente não é o que acontece, e ao Estado não lhe falta o pudor para colocar entidades no meio do nada, de partir do princípio que todos andamos de popó e que é de popó que queremos lá chegar. Veja-se o Tribunal de Sintra, no meio de um monte afastado da vila, mas com um enorme parque de estacionamento. Veja-se o IPO de Lisboa que esteve para ser levado para uns terrenos algures no Concelho de Oeiras, onde a qualidade dos acessos em transportes públicos seriam terrivelmente piores do que os que há na localização actual do IPO. Hoje surge mais uma triste notícia, a Loja do Cidadão de Alcochete vai ser no Freeport, um mega centro comercial fora de Alcochete.

Continuamos a caminhar para o modelo americano de cidades vazias, constituídas por cruzamentos de auto-estradas. Modelo este que já está em retrocesso nos EUA.


Mais boas notícias do aumento de crude: as empresas começam a relocalizar as suas produções junto dos consumidores, neste caso uma empresa alemã que volta a produzir em Portugal o que entretanto fabricava na China. (via Pedalófilo)

Mais um "sonho"

MC, 09.07.08

(post actualizado)

 

Depois do "sonho" do carro a hidrogénio há umas semanas, desta vez temos outro com direito a presença do primeiro-ministro. Depois do governo ter lançado em apenas três anos mais 1200km de auto-estradas, o dobro do que o país tem em ferrovia dupla, a obsessão do primeiro-ministro pelo automóvel está a tornar-se patológica.

Foi apresentada a parceria com a Nissa-Renault para a comercialização de carros eléctricos em Portugal, tendo ficando bastante claro que esta obsessão vai sair cara ao país.

1. O Governo teve que pedir autorização a Bruxelas para apoios extraordinários.

2. O primeiro-ministro disse hoje que estes automóveis terão um desconto de 70% no imposto automóvel, isto é, estarão isentos da sua componente ambiental, porque supostamente não emitem gases poluentes (um perfeito disparate repetido por todos os órgãos de comunicação, segundo dados da DGEG 71% da electricidade produzida em Portugal em 2006 teve origem fóssil).

3. Garantiu que o governo ainda abriria mais os cordões à bolsa se os popós eléctricos mesmo assim ainda fossem caros. Disse nomeadamente que o governo proporcionará "as condições para que o consumidor de um veículo eléctrico não tenha qualquer desvantagem em preços", para lá do desconto nos impostos.

4. O Imposto sobre os produtos petrolíferos serve para financiar (em parte) custos associados ao transporte privado (estradas, polícia, etc...). O carro eléctrico fica em princípio isento de ISP, mas será que não deveria ter as mesmas obrigações?

 

Repito, o automóvel eléctrico é menos mal-vindo que o automóvel convencional. As emissões de CO2 são aparentemente menores, não há emissão de poluição com impacto local (ozono, partículas, etc...), a fonte primária de energia pode ser renovável logo não condenada a desaparecer como o petróleo, não causa ruído, etc... Contudo não vejo o mínimo de energia e dinheiro investidos na solução que é na verdade ambiental e economicamente sustentável, os transportes públicos. Porque não temos um primeiro-ministro a anunciar uma frota de autocarros eléctricos, em vez de automóveis?

Aliás, talvez Sócrates não saiba, mas o comboio, o metro, os trolleys e os eléctricos movem-se a electricidade há décadas!

 


Leitura recomendada, um post sobre o mesmo assunto no supergreenme.


E como já tínhamos saudades de mais "acessibilidades" (=IPs e auto-estradas) o Governo anunciou esta semana mais 197 milhões de euros para alcatrão. Mais uma vez, uma das desculpas é a "diminuição da sinistralidade"... pois.

Pág. 1/2