Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

O espírito olímpico e a ditadura do automóvel

MC, 13.03.08
Os Jogos Olímpicos sempre foram celebrados como um acontecimento de paz e humanismo, como um mês durante o qual as guerras e outras "pequenas" desavenças entre os povos são postas de lado e apenas o saudável espírito desportivo impera.
Na Grécia Antiga, as intermináveis guerras entre os estados paravam para que os jogos decorressem.
No século XX, apenas dois anos depois da sangrenta Primeira Guerra, os povos reencontraram-se em 1920 para celebrar o desporto. A Alemanha e o Japão não puderam participar em 1948 mas em 1952 - apenas 7 anos depois do holocausto e da destruição de meio mundo - estes dois países voltaram a juntar-se ao espírito olímpico. Durante a Guerra Fria (descontando 1980 e 1984, por boicote e não por impedimento) os dois grandes blocos esqueciam os seus conflitos e participavam juntos nos Jogos.

Em 2008 cada mês há novas ameaças e declarações de atletas e representações que não vão participar devido à... poluição automóvel em Pequim. Ou seja, os Jogos Olímpicos conseguiram superar guerras, mas a ditadura do automóvel é mais forte que isso.

O "pesadelo" alemão I

MC, 12.03.08
Do nosso "correspondente" na Alemanha:

Vivo há 12 anos na Alemanha. Há 4 anos mudei-me para Dresden, a capital da Saxónia, na parte leste da Alemanha. Poucos meses depois de me ter mudado para esta cidade saiu um estudo efectuado a nível nacional que revelava as condições para ciclistas nas maiores cidades alemãs. Para o meu espanto, Dresden encontrava-se em penúltimo lugar de uma lista de dezenas de cidades.
Há muito que estou para relatar sobre as “péssimas” condições com que se deparam os ciclistas por estes lados. Finalmente tomei a iniciativa de juntar algumas imagens e escrever algumas linhas sobre o “pesadelo” de Dresden.
Praticamente todos os eixos rodoviários de maior importância da cidade possuem vias especialmente reservadas para ciclistas. A seguinte imagem que saquei do googlemaps mostra a avenida que liga o norte com o sul da cidade, uma das mais movimentadas (ironicamente a foto não mostra praticamente trânsito nenhum). Ao longo de Kms existem faixas reservadas para bicicletas (indicadas na foto com setas). Nas horas de ponta a utilização destas por ciclistas chega a ser tanta, que a distância entre duas biciletas pode ser menos que um metro (experiência própria).

Para continuar, decidi sacar mais duas imagens do googlemaps que mostram dois cruzamentos relativamente típicos para Dresden. Encontram-se numa zona universitária (e fazem parte do meu percurso diário para o trabalho). Repare-se na quantidade de faixas (grande parte delas vermelhas) para bicicletas e nas imensas possibilidades de ligações entre elas.


A próxima fotografia foi tirada no cruzamento que se vê na última imagem. Indicado com a seta nr.1 vê-se um exemplo de sinalização destinada a ciclistas. Em toda a cidade podem-se encontrar este tipo de sinalização, não só para esclarecer situações de prioridade ou de outras regras de trânsito, mas também indicando os percursos mais curtos para se chegar a certos locais (sim, porque os percursos que se realizam com automóveis raramente são os mais curtos). Presente por todo lado está a semaforização para ciclistas (seta 2 na foto). Acho muito interessante os semáforos para ciclistas passarem de vermelho para verde com alguns segundos de antecedência respectivamente aos semáforos para o trânsito automóvel. Imagino que seja para possibilitar aos automobilistas aperceberem-se da presença de ciclistas antes de acelerarem.

Isto sim, é mobilidade sustentável II

MC, 11.03.08


Três em um!
1. Transporte público
2. eléctrico e portanto localmente não-poluente (a poluição fica afastada das populações)
3. com suporte para bicicletas, para os passageiros que queiram usar a bicicleta como complemento aos TPs para percursos mais pequenos ou em zonas/horários com pouca cobertura dos TPs.
(retirado do Green Idea Factory)

Desculpabilização dos automobilistas

MC, 11.03.08
É impressionante como os automobilistas são desresponsabilizados pela sociedade de todos os custos das suas escolhas, e das centenas de mortos e milhares de feridos graves que causam todos os anos (reler esta testemunho).
Hoje morreram quatro pessoas numa passagem de nível porque o condutor decidiu desrespeitar as cancelas e atravessar a linha de comboio. A notícia na Antena1 começava há pouco com a frase "A REFER não tenciona fazer obras nas passagem de nível onde hoje morreram quatro pessoas". O ónus do problema é quase empurrado para a REFER, que aparentemente teria alguma obrigação de fazer uma ponte, porque o comboio está ali a atrapalhar o trânsito rodoviário, e não é posto no condutor que não soube respeitar o mínimo dos mínimos! E já agora, porque é que não haveria de ser a Estradas de Portugal a construir uma ponte para que os automóveis não atrapalhem o comboio?

ONGAs contra a nova travessia rodoviária em Lisboa

MC, 11.03.08
Notícia no DD:
Ambientalistas contra nova ponte rodoviária do Tejo
Quatro associações ambientalistas manifestaram hoje a sua oposição à construção de uma terceira travessia rodoviária do Tejo em Lisboa, considerando-a «desnecessária, cara e com impactes ambientais excessivos».

Em comunicado hoje divulgado, a Quercus, a LPN, a SPEA e o GEOTA consideram que a terceira travessia não é um facto consumado, uma ideia que considera estar a ser promovida pela comunicação social «com a conivência do governo».
«Somos em princípio favoráveis à concretização de novas travessias ferroviárias, na medida do necessário, desde que com objectivos claros, optimizando as infraestruturas existentes e numa lógica de sistema integrado de transportes da Área Metropolitana», referem.
As associações opõem-se à construção «no futuro próximo» de uma terceira travessia rodoviária do Tejo em Lisboa, «em qualquer localização», uma vez que a consideram «desnecessária, cara, com impactes ambientais excessivos e mesmo contraproducente para a mobilidade» na Área Metropolitana de Lisboa (AML).
«A construção de tal travessia seria um investimento avultado e com impactes gravosos, que tudo indica ter uma relação custo-benefício muito negativa. Além disso, tal decisão é ilegal, na ausência de uma avaliação de impactes» ambientais, acrescentam no comunicado.
Argumento a argumento, os ambientalistas desmontam as justificações do Governo sobre este investimento, dizendo que a travessia não serve para satisfazer a procura gerada pelo novo aeroporto de Alcochete, tendo em conta que a ponte Vasco da Gama «tem capacidade excedentária» que pode comportar esses novos movimentos.
«Embora o estudo do LNEC [Laboratório Nacional De Engenharia] comparando Ota e Alcochete dê como adquirida uma nova travessia rodoviária, não fundamenta de todo esta pretensão, já que não considerou nem o seu custo, nem o seu impacte no ambiente e ordenamento, nem o conjunto do sistema de transportes da AML. É portanto tendencioso e sem fundamento tentar justificar a nova travessia rodoviária com o aeroporto», defendem.
Os ambientalistas também recusam a justificação de a nova travessia melhorar o acesso a Lisboa, invocando os estudos que «comprovam» que a construção de rodovias radiais de acesso a Lisboa contribuem para aumentar os movimentos pendulares e não resolvem o congestionamento dos acessos.
A melhoria da mobilidade na área Lisboa, segundo estas associações, deve ser conseguida apostando no transporte colectivo e não no transporte individual, nomeadamente criando um verdadeiro título inter-modal que cubra eficazmente todos os meios de transporte urbanos e suburbanos.

Subscrevo tudo. O comunicado completo pode ser lido neste link da Quercus.

Carro, o monstro sedento de espaço urbano II

MC, 09.03.08
Hermann Knoflacher, especialista em Transportes na Universidade Técnica de Viena e de quem eu já aqui publiquei uma entrevista (a segunda parte da tradução está em "águas de bacalhau"), inventou um dispositivo para mostrar a irracionalidade do automóvel nas cidades, o Gehzeug, algo como o "andomóvel"... uma estrutura de 4,30m por 1,70m para pendurar aos ombros como se vê na foto.
Imaginem que um dia de manhã todos nos lembrávamos de levar esta estrutura de madeira tipo mochila. Que todos quereríamos ir ao café, às compras, ir trabalhar, passear, com aquele caixote pendurado. Seria bem difícil cruzarmo-nos com alguém fosse em ruas estreitas ou largas. Agora imaginem que consideraríamos o direito de andar com o caixote pendurado como um direito inalienável, que exigiríamos que a cidade fosse redesenhada para a nossa extravagância e que houvesse locais para largar os caixotes quando entrássemos em algum edifício.
Ridículo, não é?
Mas é aproximadamente isso que fazem 500 mil pessoas todos os dias em Lisboa, e outros bons milhões em todas as cidades do mundo (excepto Veneza!!).

Texto da página do Instituto para Planeamento dos Transportes e Engenharia de Tráfego da Univ. Técnica de Viena (tradução minha):
Os engarrafamentos não se devem à falta de capacidade das ruas, os engarrafamentos acontecem porque os automóveis necessitam de muito espaço e porque são frequentemente usados desnecessariamente. Se os peões exigissem os mesmos direitos, puderiam assegurar o mesmo espaço individual que os automobilistas caminhando com uma estrutura de madeira de  4,30 x 1,70 m („Gehzeug“) pendurada. As consequências seriam engarrafamentos inimagináveis de peões. Para evitar isso seriam necessário alargar os passeios e destruir edifícios - o gozo de andar de  "andomóvel"  levaria a enormes áreas livres. Teríamos chegado à mesma situação, que hoje já conhecemos devido aos automóveis.

Carro, o monstro sedento de espaço urbano

MC, 08.03.08
A foto está péssima, mas tentem ter uma ideia do número de automóveis estacionados ao longo de todo o lado direito, e o número de bicicletas concentradas em alguns pontos do lado esquerda, até ao fim da rua.



Eu contei-os: 17 veículos e 150 bicicletas. Do lado esquerdo há 8 vezes mais pessoas a deixar o seu veículo e mesmo assim ocupam menos espaço. Já nem falo do espaço que ocuparia uma paragem de autocarro que sirva o mesmo número de pessoas.
E então?
E então sobra mais espaço para...



parques infantis ou...



esplanadas!
Ou alguém tem a mínima dúvida que estes dois espaços no centro das nossas cidades serviriam de estacionamento??

Pág. 1/2