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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Ciclovias?

MC, 30.01.08
Quando se fala em bicicletas na cidade e em como promovê-las pensa-se quase automaticamente em ciclovias. Muitos queixam-se que há pouquíssimas ciclovias nas cidades portuguesas e defendem que isto seria a principal razão para haver tão poucos ciclistas por cá.
É curioso notar - para quem não está por dentro do assunto - que a defesa das ciclovias aconteça normalmente por quem tem pouca ou nenhuma experiência de usar a bicicleta na cidade, havendo até muitos opositores às ciclovias entre os ciclistas com mais experiência (na eterna discussão deste tema na mailing list da Massa Crítica/Bicicletada houve até quem propusesse uma declaração da experiência tida com o transporte bicicleta sempre que se desse a opinião) .
São dois os principais argumentos
- As ciclovias dão uma sensação totalmente falsa de segurança, porque elas na realidade aumentam a sinistralidade
- Ao segregar as bicicletas do resto do tráfego está-se a alimentar a ideia de que as bicicletas não são tráfego e a fomentar comportamentos do tipo "sai-me da frente!" (quando na realidade são os automóveis e não as bicicletas que causam congestionamento e velocidades baixas).

A propósito disto recomendo o excelente post do Frederico - com muitos quilómetros de bicicleta em Lisboa - no Vou de Bicicleta cheio de estatísticas e exemplos em vez de wishful thinking e argumentos no ar. Há ainda este texto do Mário Alves (especialista em mobilidade) sobre os perigos de segregar as bicicletas do trânsito.

Já agora reparem que a rua na foto deste post, e apesar de ser uma rua importante num bairro residencial na Holanda, não tem ciclovias. É mais um mito urbano que a maioria das ruas na Holanda têm ciclovia.

Mais:
Não use a ciclovia!(Brasil)
A associação alemã de ciclistas defende que os ciclistas circulem na rua
El carril-bici es el opio del pueblo ciclista

Cidades mais Humanas

MC, 28.01.08
Aqui fica um copy-paste de um interessante relato de quem trocou o carro pela bicicleta em Lisboa e se apercebeu o que andava a perder por viver dentro de um caixote de metal de uma tonelada, em termos de contacto humano e de vivência da cidade:

É curioso como a nossa vida pode, de repende, mudar. A sério !! Ter abraçado este projecto naturalmente que me mudou um pouco. Menos stress, menos gastos, mais amigos (como os 4 empresário que ontem me convidaram para almoçar, para falarem das suas experiências como utilizadores diários da bicicleta :)
(...)
Até a forma como me reencontro com as pessoas na cidade mudou, tal como esta sexta-feira, em que ouvi alguém a chamar-me no Marquês de Pombal: " stôr, stôr". Eram os alunos da EPCG, acabadínhos de sair da escola e eu, a caminho da Baixa para dar aulas. Já agora, 16 minutos do Bairro de Santos (Rêgo) ao Marquês. De carro não fazia melhor, a esta hora do dia (17:00h).
E é fantástico como, às 22:00h, quando "despego" do centro de formação, a Rua Augusta, a Rua do Carmo e a Rua Garret têm um fascínio que me passou despercebido todos estes anos.

Missas, Casamentos, Enterros e Comunhões Drive-in

MC, 28.01.08
A propósito do namoro drive-in, da praia drive-in, arte drive-in, manifestações drive-in e outras aberrações, já me tinha interrogado sobre qual seria o próximo disparate drive-in. Na altura e na minha total ingenuidade tinha referido a hipótese de missas drive-in.
Já existem nos EUA há 50 anos:


Bem podiam pedir ao senhor que em vez de pernas e um coração, lhes desse umas rodas e um motor de combustão.
Para mais rituais religiosos (e um clube de strip) drive-in ver este post - não recomendável a quem acredita no bom-senso dos humanos.

Comodismo

MC, 24.01.08
É habitual contarem-me histórias de pessoas que vão ao café do bairro ou comprar tabaco do outro lado da rua de carro. É curioso então lembrarmo-nos que a cidade foi historicamente dos peões e não dos carros, que o que hoje nos parece um percurso a pé infindável era algo bem comum. Por exemplo Cais Sodré- Picoas (3km) ou Graça-Praça de Londres (3/4km) parece-nos um absurdo, mas era exactamente o que a minha avó e o meu pai faziam em miúdos no dia-a-dia.
Eu não quero obrigar ninguém a andar a pé, nem tenho nada contra o comodismo dos outros, excepto quando interfere na qualidade de vida de todos... e é esse claramente o caso do carro na cidade.

Toca a andar a pé, gente!

P.S. E não me venham com a história do progresso. As duas "capitais do mundo", Londres e Nova Iorque, são cidades de peões.

Cada condutor inglês custa 512€ em saúde em comparação com um ciclista

MC, 22.01.08
Ora aqui está mais um número a provar os enormes custos que a ditadura do automóvel traz à sociedade. Um estudo da Cycling England, uma organização semi-governamental, indica que por cada automobilista que deixe o automóvel e passe a usar a bicicleta há uma poupança de 382 libras em custos de saúde.
Lembre-se disso da próxima vez que pensar que os impostos sobre os combustíveis são altos.

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel IX

MC, 21.01.08
Quase tão grave como o crime nas cidades é o nosso medo dele, o nosso sentimento de insegurança. Ter um grande receio de sair de casa e de passar onde e quando nos apetecer é como viver numa prisão eterna.
As estatísticas bem podem dizer que há poucos roubos ou ataques violentos por cada mil habitantes, que isso não diminui o medo de estar em locais com poucas pessoas. Todos nos sentimos melhor e mais seguros em ruas com muito movimento pedonal do que em ruas desertas. Isto sente-se particularmente nos arredores das grandes cidades, bairros completamente desumanizados onde só há circulação automóvel e ninguém anda a pé.
Ainda recentemente numa ida ocasional a Oeiras à noite, apercebi-me que quase ninguém ia a pé da estação até casa quando a distância já era um pouco maior. E percebe-se porquê. As ruas estão desertas, só passam carros e mais carros, que obviamente não nos dão o mínimo sentimento de segurança.

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel I

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel II

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel III

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel IV

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel V

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel VI

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel VII

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel VIII

RTP Sinistralidade rodoviária

MC, 19.01.08
Também na nova página da RTP, encontrei o último Em Reportagem (link mms://) sobre sinistralidade automóvel. Alguns pontos que me ficaram:
  • Um automobilistas a ser apanhado a 171km/h na auto-estrada e a pagar apenas 120€ de multa!! O homem ia exceder o limite em 51km/h, tinha mais do dobro da energia cinética que o máximo permitido, teria um espaço de travagem mais do que duas vezes maior do que os 120, um potencial homicida por negligência e paga apenas dois tanques cheios? Estas multas são para rir, especialmente porque todos sabemos que há uma probabilidade baixíssima de sermos apanhados. Em cada 100 vezes que se excedem a velocidade é se apanhado 1 ou 2, ou seja a multa por cada infracção é na prática 1€ ou 2€
  • O mui nobre presidente da ACP, Carlos Barbosa, atribui as principais culpas da sinistralidade ao Governo, por permitir que o ensino da condução em Portugal estar caduco! Já não há pachorra para tanta hipocrisia. Será que ninguém sabe que desrespeitar as regras de trânsito é um perigo? Basta passar a fronteira para ver que os condutores portugueses sabem perfeitamente conduzir, só que do lado de cá esquecem-se. E mesmo se a educação fosse o principal problema, e se  amanhã os novos condutores fossem perfeitos, iríamos esperar 50 anos até os actuais terem morrido?
  • Um especialista holandês faz o contra-ponto logo a seguir, dizendo que o essencial é o sentimento de impunidade e a credibilidade da mensagem das autoridades. Todos os condutores em qualquer país acham que só acontece aos outros, por isso sem uma ameaça credível contra o desrespeito das regras, nada feito.
  • Num caso relatado de um jovem (meu conhecido aliás, mas quem é que não conhece um caso assim?) que morreu ao ver-se envolvido numa corrida de street racing quando circulava na auto-estrada, ficamos a saber que o juiz absolveu o homicida alegadamente por ser jovem e a base da família. Estas aberrações não consigo compreender, e são mais um exemplo do que aqui escrevo tantas vezes. Porque é que as infracções ao volante, neste caso um crime de sangue, são tão desculpáveis? (Aliás, seguramente que o leitor ficou chocado por eu usar a palavra homicida mas de facto é um homicida como outro qualquer, a única diferença - lá está onde quero chegar - é que tinha um volante na mão).

RTP Energia

MC, 19.01.08
A RTP reformulou a sua página e disponibiliza agora ainda mais programas online, do que já fazia. Pude então ver alguns programas que me tinham passado ao lado, nomeadamente o último Balanço & Contas (link mms://) sobre o problema petrolífero com dois empresários da área. Sublinho empresários, não são eco-xiitas (como diz o Paulinho das Feiras). Alguns pontos interessantes que eles focaram:
  • A enorme dependência portuguesa do petróleo impede-nos em grande parte de uma crescimento económico mais forte, devido ao aumento das nossas despesas
  • A nossa carro-dependência é claramente cultural, porque apesar de uma fiscalidade automóvel elevada temos um enorme número de automóveis por habitante
  • O desordenamento do território tem enormes custos para o país, porque há milhões a queimar combustível num longo movimento pendular de manhã e ao fim da tarde
  • A Holanda fez uma forte aposta nos biocombustíveis, nomeadamente através de plantações na Indonésia (sua ex-colónia) até que se apercebeu que as emissões acabavam por ser maiores dada a desflorestação, os custos ambientais do processamento e transporte, etc... do que com os combustíveis normais
  • Como prova da irracionalidade dos transportes em Portugal, foi referido o consumo de combustíveis cujo nível é quase independente do preço, ou como foi dito "os portugueses não largam o seu carro"
  • Temos metade da eficiência energética da UE, ou seja para o mesmo nível de produção gastamos duas vezes mais energia [não sei bem que definição foi usada aqui, apenas cito o que ouvi]
  • Desde o choque petrolífero dos anos 70, a Europa Ocidental reduziu aproximadamente para metade o seu consumo de combustível e nós quase duplicámos

World Carfree News

MC, 18.01.08

Aproveito o facto de ter sido publicado um pequeno resumo meu deste post, para fazer publicidade ao World Carfree News, um pequeno boletim electrónico mensal da World Carfree Network com (boas e más) notícias e curiosidades sobre um mundo que se quer mais carfree.


Na última edição ficamos por exemplo a saber que a Saab foi ameaçada de um processo judicial se continuar a fazer publicidade verde enganosa aos seus carros, e que o programa de bicicletas públicas em Barcelona continua a ser um enorme sucesso havendo agora planos para o estender aos subúrbios.

Inscrições e arquivo aqui.

Mais 69 mil automóveis diariamente para Lisboa

MC, 18.01.08
Cá está a prova que a minha indignação para com a nova ponte sobre o Tejo era fundada. Segundo o JN a nova ponte trará mais 69 mil automóveis a entrar diariamente em Lisboa,  isto a acrescentar aos 500 mil que já entram todos os dias, e que há muito já rebentaram as costuras da cidade.
António Costa não se opõe, como deveria, fortemente à ponte, argumentando que apesar de não gostar da ideia não pode ser egoísta face aos anseios da população do Barreiro. Então e se amanhã Cacilhas, Trafaria, Monte da Caparica, Seixal e Montijo também quiserem uma ponte, seria ser egoísta dizer que não? António Costa defende sim a mitigação deste 69 mil (curioso número...) construindo mais vias circulares. Mas esta gente não aprende? Nos últimos 20 anos construiram-se literalmente dezenas de vias-rápidas pela cidade e arredores, e haverá alguém que diga que a cidade tenha ficado a ganhar com isso dados os enormes custos que acarretaram e acarretam?

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