Já
aqui provei - para mim a palavra "provar" é muito forte, mas acho que os números não deixam margem para dúvida - que uma "boa" rede de auto-estradas é perfeitamente dispensável para o desenvolvimento de um país. Trata-se de um luxo cujo único objectivo plausível é o conforto de andar de carro, mas este conforto que sai bem caro ao país, em custos imediatos, em oportunidades perdidas noutros investimentos, em custos ambientais, em dependência energética e défice da balança comercial, em sinistralidade, etc... Não posso deixar então de apontar algumas medidas recentes deste governo, que provam o quão actuais são as críticas à política do betão.
No fim deste Verão o governo anunciou a construção de mais uma circular em auto-estrada em torno de Lisboa. Isto está altamente "justificado" porque Lisboa ainda "só" tem duas circulares e meia, ou seja CREL, CRIL e 2ª Circular. São quarenta quilómetros de cara expropriação.
A semana passada
foi a vez da auto-estrada Amarante-Bragança, 130km, onde já há uma IP, onde já há uma auto-estrada paralela 30km a Norte e onde vai ser esventrada a bela Serra do Marão com um túnel; uma IP de Macedo a Celorico, algo como 100km; uma IP de Pópulo (junto a Vila Real) a Miranda do Douro paralela à nova auto-estrada. Estas três custarão 1.200.000.000 de euros.
Esta semana foi
anunciada a ligação da A23 à A6, por Portalegre. Algo como 90km.
Paralelamente 28 autarquias (Público de 2ª feira) estão a pedir uma
esmolinha para a ferrovia, a reactivação dos 28km da linha de Barca de Alva, que se torna especialmente atractiva numa altura em que Espanha pensa em reactivar a linha do lado de lá da fronteira, podendo-se assim criar uma ligação do Norte a Salamanca.
O custo será 0,1% das auto-estradas anunciadas dois parágrafos acima.
E é isto que temos. Uma afectação de recursos aberrante e totalmente desproporcionada.
P.S.
Aqui gozei com o discurso pró-betão, porque não consegui encontrar um depoimento real. Graças à notícia das auto-estradas de 1200 milhões tenho umas
pérolas para mostrar.
Governo sublinha importância de infra-estruturas para desencravar Interior do País
(...)
Para o governante [primeiro-ministro], este conjunto de acessibilidades vai promover a competitividade e desenvolvimento de Bragança, Guarda e Vila Real. “É um acto de justiça para estas regiões que estavam a ficar para trás”, sublinhou José Sócrates.
Segundo o primeiro-ministro, as acessibilidades rodoviárias na região eram “uma condicionante gravíssima ao processo de desenvolvimento e competitividade”, pelo que as concessões agora lançadas são essenciais para a prosperidade do Interior. “Sem estas vias é difícil competir pela localização das empresas e fixação de quadros qualificados, contribuindo para a riqueza do próprio País”
Ha, ha, ha! Falem com os habitantes da Irlanda, da Noruega e depois com os portugueses do interior (de Amarante, Montemor-o-Novo, Estremoz, etc..) que há muitos anos têm auto-estrada e veremos quem é que está desencravado...
P.S. (3 de Dezembro) Três dias deste post, mais um anúncio de alcatrão do Governo. 94km de auto-estrada entre Sines e Beja, que com outros 30km de IP na zona de Sines custarão 270 milhões de euros. O objectivo é "potenciar o desenvolvimento"...