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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Lisboa é para carros não para pessoas - Prova #103

MC, 30.10.07

A Graça é dos bairros mais eclécticos e vivos de Lisboa. Na Rua da Graça, a sua rua central, há uma imensa multidão a passar para trás e para a frente a qualquer hora do dia. Nessa rua há um grande supermercado, vários mini-mercados, dezenas de lojas e cafés. É também a ligação do bairro a Sapadores, onde param todos os autocarros.
Só um pequeno pormenor : há zonas onde o passeio nem 70 centímetros tem. Não passam duas pessoas, nem um carrinho de bebé, nem um idoso de bengala. É impossível fazer o troço que se vê na foto sem pisar o alcatrão.
Resolver o problema é simples: colocar semáforos para que só haja um sentido de cada vez ou desviar um dos sentidos pela paralela Rua da Sra da Glória. Mas isso incomoda o trânsito, o que é chato.

Bicicletas públicas em Lisboa

MC, 30.10.07
Consta por aí que a CML está a negociar com a empresa que disponibiliza as bicicletas públicas em Paris, a instalação de uma rede semelhante em Lisboa.
Imagine usar uma bicicleta para fazer uns dois ou três quilómetros depois do comboio sem ter que a carregar, para evitar a espera de um autocarro, para ir "ali ao lado" bem mais rápido do que a pé ou de carro em qualquer ponto da cidade!
Lisboa juntar-se-ia assim à infindável lista de cidades europeias (inclusive Aveiro) com este sistema. Curiosamente há uma semana em Paris, aquando da greve dos transportes, foram as bicicletas públicas (fabricadas pela Órbita) que safaram grande parte dos problemas.

Nota: não sei que sistema está previsto para Lisboa, mas custa-me a acreditar que seja semelhante ao de Aveiro (que por sua vez é copiado dos primeiros programas de bicicletas públicas que houve no Norte da Europa). Os últimos sistemas (como o de Paris e Bruxelas) a serem instalados incluem inscrição, registo da conta bancária, etc.. para evitar abusos.

Recomendo ainda o blog Bike Sharing que fala sobre programas... de bike sharing.

Adenda: no Bike Sharing fiquei a saber que São Francisco também se vai juntar a Bruxelas na lista de cidades "não-planas" com programas de bicicletas públicas.

A culpa é dos outros

MC, 29.10.07
Uma das maiores dificuldades em convencer o grande público da necessidade das restrições ao automóvel é o "síndrome a-culpa-é-dos-outros".  Não vamos reduzir a velocidade, porque o culpado dos acidentes não sou eu que ando depressa mas dos que andam devagarinho e atrapalham. Não vamos restringir os automóveis na cidade porque eu não atrapalho, são os autocarros que entopem. A falta de estacionamento não é culpa de quem abusa do automóvel, mas dos políticos que não fazem mais parques.

Não vos vou chatear com contra-argumentos pela N-ésima vez. Só um dado curioso: quando questionados sobre as suas capacidades como condutores, uma enorme maioria considera que está acima da média! O estudo mais citado é o Svenson (1981) onde 80% dos condutores dizem pertencer aos 30% melhores (números tirados da wikipedia)!! Mas só 30% é que podem estar nos 30% melhores!! Ou seja, pelo menos 5 em cada 8 anda enganado!


Menos Carros = Menos Pessoas? VI

MC, 27.10.07
Regresso a um dos argumentos contra a restrição da entrada de automóveis no centro da cidade. Defendem muitos - baseando-se em wishful thoughts, e não em dados reais - que isto levaria ao afastamento das pessoas, dos empregos e do comércio, matando de certa maneira a cidade.
aqui escrevi que em Londres aconteceu exactamente o oposto, mas há também exemplos disso em países mais pobres. Refiro-me concretamente a Bogotá, capital da Colômbia, que nem Metro tem, onde houve uma forte aposta por parte do antigo presidente da Câmara Enrique Peñalosa em afastar os automóveis da cidade, criar melhores condições para os peões e criar os seus famosos autocarros expresso, etc...
Neste video (encontrado no Cenas a Pedal) ficamos a saber que foram eliminados dezenas de milhar de estacionamentos à superfície, o que num primeiro momento levou à ira dos comerciantes. Na realidade, além da óbvia melhoria na qualidade de vida, houve um aumento do preços dos imóveis (sinal de que há mais procura), o crime diminui e as vendas no comércio subiram.
Um outro sinal de que estas políticas são agora bem acolhidas, é que ainda não houve um retrocesso apesar de Peñalosa ter perdido a Câmara há 6 anos.

Conduzir pode agravar seriamente a saúde de quem está próximo

MC, 26.10.07
Há uns meses sugeri por brincadeira que os automóveis e a sua publicidade devesse incluir mensagens como a do tabaco para alertar para os problemas que o seu uso e abuso provoca. Entretanto a Noruega proibiu o uso de "expressões verdes" na publicidade automóvel, e houve uma publicidade da Shell com flores a sair de uma chaminé que foi proibida na Holanda. Anteontem o Parlamento Europeu aprovou uma lei obrigando toda a publicidade automóvel a dedicar 20% do seu espaço com um aviso sobre as emissões de CO2.


Volante = trono

MC, 26.10.07
Já aqui escrevi várias vezes (aqui, aqui, aqui e aqui) sobre o estranho fenómeno dos portugueses se sentirem reis a partir do momento que têm um volante na mão. É daí que vem grande parte dos nossos problemas em termos de sinistralidade, de excesso de trânsito, de má qualidade de vida nas cidades, de ruído, de ocupação do espaço público, etc... Qualquer ameaça a este poder ditatorial é ferozmente combatida como se de uma questão de perigo de vida se tratasse. Um exemplo que ainda não referi é o facto de o automobilista se considerar superior ao peão, e principalmente ao transporte público (apesar de num autocarro haver 50 vezes mais pessoas).
Hoje na página da RTP temos mais um excelente exemplo disto. Trata do número de infracções de trânsito que os funcionários portugueses da ONU (por terem imunidade) cometem em Nova Iorque. Ficam num honroso segundo lugar em todo o mundo ocidental!

De acordo com o comportamento registado entre os diplomatas de 146 países nas Nações Unidas e nos consulados em Nova Iorque, no que respeita ao cumprimento das regras de trânsito, constata-se que entre 1997 e 2005 os diplomatas portugueses foram os que mais infracções cometeram mas beneficiando de imunidade, entre os ocidentais (68º lugar), bastante pior situados do que os espanhóis (52º) e só à frente dos franceses (78º).
(estudo descoberto no Ondas3)

Campus Universitário à Portuguesa!

António C., 25.10.07
Quando estava no meu 3º ano da Universidade, um professor durante uma aula perguntou quantos de nós usávamos regularmente o carro para nos dirigirmos até à Universidade.

Mais de metade levantou o braço.

Os abusos da utilização massiva do automóvel pela população Universitária, resultam em zonas totalmente descaracterizadas onde impera o estacionamento selvagem em cima dos passeios,  em segunda fila ou em qualquer lugar que dê para deixar o tão estimado carrinho.

Qualquer baldio é um parque, qualquer zona que poderia ser de lazer é ocupada por automóveis. Já conheci vários estudantes de muitos países europeus e muitos se mostravam surpreendidos quando lhes dizia que mais de metade dos meus colegas se deslocavam diariamente de carro para irem à Universidade. Afinal de contas quem é o pai desnaturado que não oferece um carro ao filho assim que este entra na universidade?
Familías, mais ou menos ricas à parte, vejam-se algumas fotos de duas zonas universitárias em Lisboa:



Vemos aqui a zona da antiga Escola Secundária da Cidade Universitária. Para quando restringir toda esta zona a lugares marcados e pagos?  Sim, deve ser uma situação  temporária, no entanto o terreno está a ser usado e ninguém é compensado por isso.

Pior mesmo é a situação que se vive no Instituto Superior Técnico:





O que será que podemos esperar de alunos de uma Universidade como o Instituto Superior Técnico onde se leccionam cursos de Arquitectura e Eng Civil, e onde existem diversos departamentos de estudos territoriais, mobilidade e transportes?

Será normal desenhar lugares de estacionamento em cima da calçada? Surreal? Não. É mesmo assim o parque dos automóveis no Instituto Superior Técnico, uma zona muito bem servida de transportes públicos, e onde existem ainda alguns parques subterrâneos.

Já agora deixo uma questão, não faria sentido aumentar a idade da autorização para tirar a carta de condução para 21 anos e oferecer transportes (ainda) mais baratos aos estudantes universitários?  Tendo em vista, claro, uma menor dependência futura deste meio de transporte.

Pico do Petróleo, há quem diga que já passou

MC, 24.10.07

O oil peak é um ponto no tempo em que a produção de petróleo chega ao seu valor máximo. Daí em diante a produção mundial será decrescente. É óbvio que este ponto tem que existir, porque o petróleo é um recurso não-renovável .
Um indício de que ele pode estar próximo é o facto de haver cada vez mais planos para extrair petróleo de locais onde a sua extracção era considerada demasiado difícil até há pouco tempo.
O Energy Watch Group publicou um relatório onde é afirmado que este ponto já passou em 2006. Daqui em diante a quantidade de petróleo nos mercados será sempre menor, e a humanidade vai ter que reduzir o seu consumo à força.
A originalidade deste estudo é não ser baseado em suposições quanto às reservas existentes (que são sempre incertas) mas no padrão de produção de petróleo em vários países no passado. Por exemplo, no gráfico vêem-se os picos do petróleo de vários países produtores, tendo sido o primeiro, o da Áustria, já no longínquo 1955.

Um dado curioso a reter (e isto é um facto, não uma suposição) é que o pico nas descobertas de petróleo já passou há 40 anos, ou seja nunca se descobriu tantas reservas de petróleo como nos anos 60.

As três linhas secretas de metro de Lisboa

MC, 24.10.07
E se eu lhe dissesse que há uma linha de Metro que faz Alcântara - Campolide - Sete Rios - Campo Pequeno - Areeiro - Chelas - Oriente, outra Damaia - Benfica - Sete Rios - ... - Oriente e ainda Cais Sodré - Santos - Alcântara - Belém - Algés?
Se calhar já percebeu que são as três linhas da CP no centro da cidade, mas a cidade vive como se só as outras 4 linhas do Metro existissem. Muitas pessoas nem se apercebe que há ali um excelente transporte público, especialmente para ir para o Oriente sem ter que ir  "dar a volta" pela linha vermelha.
A razão para esta separação é óbvia: durante décadas os diferentes transportes públicos viveram de costas voltadas sem a mínima integração. O comboio acabava onde não havia metro e vice-versa.
A situação está gradualmente a mudar mas ainda hoje estas 3 linhas existem apenas numa lógica suburbana, isto é não é suposto alguém querer-se movimentar em Lisboa usando-as. Os bilhetes têm preço de deslocamento suburbano longo, o passe não inclui estas linhas (não existe sequer uma opção mais cara que inclua apenas as linhas dentro de Lisboa), os bilhetes não estão integrados com o metro e o autocarro, os mapas do Metro não as incluem apesar de serem um excelente complemento, etc...
O mais estúpido é que a infraestrutura existe!! Os milhões e milhões estão lá, mas não são aproveitados.

Multas de estacionamento mais altas s.f.f.

MC, 23.10.07

Dado o eterno problema do estacionamento ilegal nas cidades portuguesas (que é quase diariamente referido nos blogues sobre Lisboa), julgo ser necessário lançar o debate sobre o valor da multa que considero demasiado baixa por três razões.


1. Custo de fiscalização
Basta somar dois mais dois para perceber que os custos de fiscalização (policiamento, equipamento, administrativos, reboque, cobrança, etc...) excedem largamente as receitas cobradas através da multa e o eventual reboque. E isto acontece admitindo que as multas são todas cobradas, o que obviamente não se sucede. O mínimo dos mínimos do tolerável seria que este custo recaisse sobre os prevaricadores e não sobre as vítimas, a saber os peões, os utentes dos transportes públicos e os automobilistas cumpridores.
2. Dissuasão
Num Estado de Direito a multa deve ser encarada como uma meio de dissuasão para possíveis incumprimentos à lei, e não como uma penalização ou uma vingança. Nesse sentido não faz sentido argumentar que quem estaciona mal não é um criminoso que mereça uma punição alta. Sejamos honestos: qual é a dissuasão que é induzida por uma multa de 30€ que é passada em 1% dos incumprimentos?
3. Estacionar nos locais próprios e não pagar sai mais barato que o parquímetro
Faça as contas! Nunca pagar o parquímetro e pagar as ocasionais multas (uns 30 euros uma vez por mês) é bem menos do que pagar regularmente o parquímetro. Há aqui portanto um incentivo a não cumprir a lei e por consequência a aumentar os custos de fiscalização e o incómodo provocado a terceiros.

Por curiosidade, a multa em Londres é de 100 libras, mais de 140 euros.

(Adaptado do meu post no CidadaniaLx)

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