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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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"Bicing" em Barcelona

MC, 31.03.07
 A semana passada foi inaugurado um novo sistema de aluguer de bicicletas "bicing" em Barcelona. Por 6 euros anuais e 30 cêntimos por cada meia hora, os utilizadores registados podem pegar numa bicicleta num dos postos de aluguer, deslocar-se e largá-la noutro posto qualquer. Um excelente complemento aos transportes públicos! O sistema começou com 14 postos, mas vai ser progressivamente alargado até 100 postos.
A grande vantagem deste sistema em comparação com o da BUGA de Aveiro (julgo que tenha sido Copenhaga a primeira cidade a usá-lo), é que sendo o registo obrigatório, é muito mais fácil controlar roubos, estragos e abusos. Na Holanda existe exactamente o mesmo sistema (chamado OV-fiets, ou seja bicicleta-transporte-público) associado a uma centena de estações de comboio. Em Bruxelas o CycloCity não requer registo, mas o pagamento é sempre feito com cartões bancários. O crime não compensa: se a bicicleta não aparece o sistema vai à conta bancária do último utilizador.
Em Lisboa gastou-se mais de 20 milhões de euros a construir um túnel ridículo. Em Barcelona é a Câmara que vai receber mais de 20 milhões (ao longo de dez anos) da empresa a quem foi concessionado este serviço amigo do ambiente e da cidade.

Linhas de comboio VS Auto-estradas

MC, 30.03.07
Mais uma interessante informação recolhida do Eurostat: a evolução do número de quilómetros das linhas de comboios e de auto-estradas em Portugal nas últimas décadas.
comboio vs estrada
Sabendo que o comboio é um meio de transporte bem mais amigo do ambiente do que os transportes rodoviários, é mais um péssimo sinal de que nos estamos a afastar de uma mobilidade mais sustentável. E não é só o transportes de pessoas que está em causa, mas o de mercadorias.
Vale sempre a pena lembrar que a maior cidade da Europa sem comboio é.... Viseu.

O Imposto Automóvel e a Esmola

MC, 29.03.07
O novo imposto automóvel (ler este post) voltou a lançar alguma polémica esta semana. Alguém descobriu que com as alterações que penalizam os veículos mais poluentes, o imposto pode descer sobre um carro topo de gama e subir para um mais barato. É o velho e cego argumento  de apoiar os "pobres" a comprar carro.
A explicação para tal disparidade é simples: o carro topo de gama, por ser mais caro, pode ter mais tecnologia que reduza as emissões. Então mas se assim é o tal carro e a produção da tal tecnologia só deve ser apoiado. Ou melhor menos penalizado.
Que se penalize os carros grandes porque ocupam mais espaço urbano, porque são em geral mais perigosos para terceiros, etc... faria todo o sentido. Agora um pobre, que é pobre, e que deve ter o direito à solidariedade de todos não é de certeza alguém que compra automóveis em primeira mão! Tal como diz a constituição todos devem ter direito a habitação condigna,  alimentação, educação e saúde. Agora a um automóvel novo?! Será que ainda veremos a velha canção do Sérgio Godinho transformada em "O paz, a pão, a habitação, a saúde, a educação, e o carro novo"?
Em Portugal há mecanismos para a redistribuição da riqueza: IRS mais alto para os salários mais altos, saúde e educação "gratuitas", vários subsídios para outras necessidades fundamentais. Se isso tem sido suficiente? Claro que não! Que se suba o IRS, que se crie um imposto sobre as grandes fortunas, que haja realmente igualdade de oportunidades para todos, que a educação, a saúde e a habitação sejam realmente para todos. Mas um imposto de automóvel para os pobrezinhos???

Padre acelera

MC, 29.03.07
A imprensa descobriu (ler aqui e aqui) a semana passada um padre tuning no concelho de Santa Comba Dão (será maldição?). O pároco tem um carro de ralis com 150cv comprado na Alemanha porque não havia o modelo em Portugal. Parece que leva a juventude para uns peões de vez em quando e diz que gosta de dar os seus 210km/h agradecendo a Deus nunca ter sido multado. A multa deve ser coisa do diabo e não uma penalização que um estado de direito impõe como instrumento dissuasor contra comportamentos prejudiciais para a sociedade.
O melhor são as desculpas deste suposto defensor do amor e paz entre os filhos de deus. Argumenta que assim está mais perto dos jovens e que os horários das suas missas são muito apertados. Conhecendo bem as estradas do concelho (onde há apenas uma IP em mau estado) fica a dúvida do local onde o padre dá os tais 210.

P.S. A ACA-M já escreveu (comunicado de 22/03/2007) aos seus superiores a pedir ajuda.

Escola Secundária de Santarém promove a bicicleta

MC, 22.03.07
(Notícia apanhada na mailing-list da bicicletada e publicada no Seminário O Mirante)

Cinquenta bicicletas foram postas à disposição dos alunos do 10.º, 11.º e 12.º anos da Escola Secundária Dr. Ginestal Machado, em Santarém, para que possam ir de bicicleta almoçar a casa e regressar à escola. Fomentar a actividade física saudável e menos poluente e contribuir para uma cidade mais dinâmica, jovem e com maior consciencialização dos automobilistas face aos velocípedes, é o objectivo. O protocolo, designado de “Al-moços sobre rodas”, foi assinado quinta-feira entre a presidente do conselho directivo da escola, Henriqueta Carolo, e a vereadora da Câmara de Santarém, Lígia Batalha (PSD). A autarquia adquiriu as bicicletas.
(...)
Nessa quinta-feira, 50 estudantes, com Henriqueta Carolo e Lígia Batalha à cabeça do pelotão, desfilaram em torno da escola. Já sem as condutoras mais “velhas”, o “pelotão deslocou-se” à câmara para entregar um manifesto pelo ambiente e pela segurança nas estradas. Para Raquel Vieira, acabada de chegar da voltinha pela cidade, a iniciativa tem interesse e até põe a hipótese de passar a ir almoçar a casa de bicicleta, apesar de ser do oitavo ano. “Moro junto ao Modelo e até gostava de experimentar mas penso que devia ser melhor andar individualmente do que em conjunto para haver menos confusão”, opina.

Uma excelente iniciativa que poderia ser seguida por todas as escolas secundárias do país. Claro que a maioria dos estudantes deve ter uma bicicleta em casa que poderia usar, mas partindo a iniciativa da escola e havendo um grupo tão grande de bicicletas, é muito mais fácil quebrar as barreiras psicológicas que ainda existem contra o uso da bicicleta para pequenas deslocações.

Um número para pensar: cinquenta bicicletas todo-o-terreno podem facilmente ser compradas por 50€ cada, ou seja estamos a falar de um investimento de 2500€. Preço de um automóvel barato 10000€.

Carris reduz emissões de gases poluentes

MC, 20.03.07
 Notícia do DN de domingo:

A Carris terá reduzido as suas emissões de gases poluentes nos últimos três anos, devido à renovação da frota de autocarros e eléctricos. Segundo o último relatório de sustentabilidade da transportadora lisboeta, as emissões de monóxido de carbono (CO) diminuíram 46%, assim como todos os restantes poluentes atmosféricos - menos 31% de óxidos de azoto, 48% de hidrocarbonetos e 49% de partículas.

As emissões de dióxido de carbono (CO2) terão diminuído 10%, segundo uma estimativa da Carris, uma "vez que são directamente proporcionais ao consumo de gasóleo", que terá diminuído em cerca de cinco litros por cada cem quilómetros com a nova frota, afirma o documento.
(...)
Outra razão para a diminuição da emissão de gases poluentes é a utilização de combustíveis alternativos, em curso na Carris desde 1998. Actualmente, a transportadora lisboeta dispõe de 18 autocarros a operar com mistura de biodiesel - biocombustível obtido a partir de óleos vegetais - e 40 movidos a gás natural. Deste modo, o consumo de gasóleo também desceu - foram consumidos menos 1,9 milhões de litros em 2005 em relação ao ano anterior.

Simultaneamente, a Carris realizou programas de formação aos condutores, com o objectivo de "melhorar o desempenho na condução, em termos económicos e defensivos, consciencializando os seus trabalhadores para os problemas ambientais", refere o relatório.

Utilizador Pagador ou Os 1315€ Que Me Roubaram

MC, 19.03.07
Há um princípio fundamental em economia (infelizmente maltratado) chamado utilizador-pagador ", que ganha o nome de poluidor-pagador " quando o aspecto central do utilizador é o facto de ele poluir.  A ideia central é que o preço de um serviço/bem a ser usado/comprado deve espelhar o custo total desse serviço/bem. Assim ao optar entre diferentes alternativas o utilizador vai ter em conta não apenas as vantagens que cada uma traz, mas também os custos para a sociedade de cada uma. Não faz sentido uma televisão ser tão barata como uma maçã, porque a produção da primeira acarreta obviamente mais custos. Se houver dois modos de produzir o mesmo produto, e imaginando que a única diferença é um dos modos ser amigo do ambiente e o outro poluidor, então o produto produzido através do método mais verde deve ser mais barato para que os consumidores tomem a decisão mais correcta para a sociedade.
Como é óbvio este princípio não se tem aplicado em plenitude no caso dos transportes. Por um lado é verdade que o transporte rodoviário privado para lá do seu custo (preço do automóvel e combustíveis) é altamente taxado (imposto automóvel, impostos sobre combustíveis, portagens, etc...) comparado com os transportes públicos (subsídios do estado) e as bicicletas (apenas se paga a bicicleta). Mas por outro é claro que esta taxação não é suficiente para cobrir todos os custos que a sociedade têm devido à utilização do automóvel: ambiente, construção e manutenção de estradas, fiscalização do trânsito, vítimas de acidentes, doenças causadas pela poluição, stress, ocupação do espaço urbano, instituições como os tribunais e a DGV para regular o trânsito, o sistema de seguros, o sistema de inspecções obrigatórias, etc...
Esta conversa toda vem a propósito dum relatório da Agência Europeia do Ambiente sobre os subsídios a cada tipo de transporte (notícia no DD). Segundo a notícia «"o transporte rodoviário - o principal contribuidor para os problemas ambientais dentro do sector dos transportes -" é o principal beneficiado pelos subsídios, destaca o documento». O transporte rodoviário recebe a nível europeu 125 mil milhões de euros por ano dos estados, ou 253€ de cada europeu. O mais escandaloso é que os custos que não são pagos pelos utilizadores em particular, mas pagos por todos, ascendem a 650 mil milhões de euros! Ou seja 1315€ por cada um de nós!! Assim dificilmente caminharemos para uma mobilidade sustentável.

Portugueses ao Volante

MC, 19.03.07
Li há muitos anos um comentário de um alemão residente em Lisboa que nunca me esqueci: "os portugueses são um povo mais simpático que os alemães. Excepto quando lhes passam um volante para as mãos". Não encontro nenhuma explicação para tal, mas é um facto: um português ao volante sente-se acima de tudo. Acima de qualquer lei, qualquer ética, qualquer necessidade de respeito para com os outros. O sentar-se ao volante dá-lhe os poderes de um rei absolutista.
Apanhei a seguinte cena ao fim da tarde de sexta-feira passada:
Carros em segunda fila com estacionamento livre
Numa avenida lisboeta cheia de trânsito, e apesar de haver lugares vagos para estacionar a 3 metros, dois automobilistas - que permaneciam sentados no seu trono - teimavam em estacionar numa das faixas de rodagem, com óbvio prejuízo para todo os outros. A cena prolongou-se durante tempos e tempos até que vagou um terceiro lugar. Então sim, os magnânimos automobilistas, dispuseram-se a retirar as suas viaturas.
Será que alguma vez se pode esperar que esta gentalha tenho o mínimo de respeito pelos peões, pelos ciclistas ou pelos transportes públicos? Será que há esperança que compreendam que é impossível todos usarmos o automóvel nas cidades? E que o trânsito mata a vida das cidades, provoca acidentes por vezes mortais e destroi o ambiente?

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