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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Tão pobre que nem tinha dinheiro para a portagem

MC, 24.11.09

A imagem do automóvel como bem de primeiríssima necessidade não cessa de me surpreender. Na "À Mesa com a Crise", a última edição da Reportagem TSF (um excelente programa radiofónico) o tema é a crise, o desemprego e a pobreza. Dir-se-ia que se falaria de pessoas com fome, sem dinheiro para cuidados de saúde, pessoas em desespero. Sim fala-se nisso, mas há várias referências a automóveis. A certa altura, uma funcionária de uma instituição de caridade relata "... começam a não ter dinheiro para as portagens, até nos diziam «nós depois até já íamos pela estrada nacional, mas já nem pela estrada nacional conseguíamos ir porque não tínhamos gasolina e ficámos confinados a 4 paredes»".

E não se fala só em pessoas com vergonha em admitir que têm fome ou que não têm dinheiro. Há uma mulher que fala na vergonha de ter o carro avariado: "dávamos desculpas às pessoas para não dizer que tínhamos a carrinha avariada".

O que dirão estas pessoas de mim, que não tenho carro há 11 anos? O que dirão elas de muitíssimas pessoas que nem a carta têm? Seremos etíopes à espera da ajuda da Madonna? Estarei eu confinado a 4 paredes? Será que deverei ter vergonha de dizer que não tenho carro?

Mas não são só as próprias pessoas que o referem. São os funcionários das instituições de solidariedade que acham este aspecto suficientemente importante ao ponto de acrescentarem isto à sua descrição das situações de pobreza. É a jornalista que escolheu estas citações entre as várias horas de gravações audio que tinha, onde haveria certamente alguém sem dinheiro para uma operação ou a viver à custa de ajudas há longo tempo.

 

Como já escrevi em tempos, será que ainda veremos a velha canção do Sérgio Godinho transformada em "O paz, a pão, a habitação, a saúde, a educação, e o carro novo"?

 


A ler: The Politics of Happiness sobre Bogotá no Cidade-Ideal.

2 comentários

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    Anónimo 25.11.2009

    Provavelmente não me fiz entender no meu comentário.

    1- a escola é a 500 m de casa e trabalho a 6 km de casa (tudo em Lisboa). a bicicleta é o meio de transporte mais lento neste caso (o regresso é sempre a subir).

    2 - Os transportes que apanho são sempre imunes a carros (andar um pouco a pé, metro e electrico numa via reservada).

    3 - quando levo a criancinha à porta da escola de pópó é porque fica em caminho e é nos dias que levo carro porque tenho que o ir buscar no regresso (continua a justificação do tempo). Algumas vezes o carro fica num estacionamento residencial, ainda dentro do bairro e fazemos o resto a pé (nos dias que não o vou buscar e sigo de transportes).
    (Quanto a ficar até tarde só para não ir para casa aturar, não é o meu caso certamente)

    5 - Eu sei que se saísse 30 min. mais cedo do trabalho estava o problema resolvido, mas quando o vou buscar, já estou a sair 30 min. antes normalmente. Não é um trabalho em que cada um faz o seu horário.
    Continuo a dizer, tirando alguns sectores de trabalho em portugal, a regra é mesmo sair-se tarde porque é assim que as empresas funcionam. Foi nisto que Portugal se tornou. Este é o ponto chave: horário de saída dos empregos e horário de fecho de escolas. Está cada vez mais dificil conciliar em portugal.

    6 - Conheço muita gente que vai sempre de carro e não tem grandes responsabilidades antes e depois do trabalho. Isso sim é puro comodismo. Eu fui sempre ao contrário, antes de ter um filho andei sempre (SEMPRE) de transportes públicos, carro sempre em casa durante a semana.
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