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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Não bate a bota com a perdigota

TMC, 24.11.09

O excelso primeiro-ministro português fez hoje na inauguração da central fotovoltaica do MARL várias declarações demagógicas:

 

Portugal aposta nas energias renováveis "porque não pode ficar tão dependente do petróleo".

 

As centrais de energias renováveis transformam uma forma latente de energia em energia eléctrica. Só uma ínfima parte derivada do petróleo é que é queimada para produção de energia eléctrica. A dependência portuguesa do petróleo está relacionada com os transportes e com a indústria. Não faz sentido. Só o faria sentido se o nosso parque automóvel e se a totalidade do transporte ferroviário fossem exclusivamente eléctricos. Não são.

 

"Reforçar a nossa autonomia estratégica dos combustíveis fosseis é absolutamente essencial. Se queremos reforçar a nossa autonomia, a única alternativa é a aposta nas energias que têm como base os recursos nacionais, as energias renováveis"

 

Não é nem deve ser a única alternativa. Há coisas bem mais inteligentes do que se apostar exclusivamente em fornecer mais energia como introduzir hábitos de eficiência energética entre os quais se inclui a mobilidade sustentável. Mais do que um hábito, é um conceito que deve presidir ao planeamento do território e não algo bonito para engalanar inaugurações. Dito de outro modo, esta afirmação está em total contradição com o tradicional estímulo luso à utilização do automóvel através de maus horários de comboio, falta de portagens existentes à entrada das maiores cidades, má fiscalização (por defeito) do automóvel, ausência de fiscalização do seu estacionamento e claro, todos os milhões gastos nas estruturas que o servem em exclusivo.

 

Segundo Sócrates, com o aumento da produção própria em energias renováveis o país poderá reduzir o seu endividamento externo, porque "metade do endividamento diz respeito à factura energética e ao petróleo".

 

Outra vez: o petróleo que Portugal importa vai para o sector da indústria e dos transportes; mesmo que o transporte ferroviário fosse todo eléctrico, mesmo que o nosso parque automóvel fosse todo eléctrico, cerca 30% da nossa energia eléctrica estaria inevitavelmente ligada à queima do carvão; pior, teríamos que construir mais centrais eléctricas porque a nossa rede não seria capaz de satisfazer tanta procura; e não temos muito mais margem de expansão quer para as eólicas quer para as hídricas. Por isso esta afirmação não se coaduna com a inexistência e abate de ligações ferroviárias entre cidades que podiam explorar os nossos recursos eléctricos endógenos e não é compatível com a insistência megalómana em mais auto-estradas

 

Quando é que o primeiro-ministro inaugura uma ligação ferroviária ou encerra um troço rodoviário? Não estou tão preocupado com sua demagogia mas com a persistência na componenete salvífica das inovações tecnológicas. O que é preciso, na área dos transportes, principal sector responsável pelo endividamento e pela importação do petróleo, nas palavras do próprio, são mudanças fiscais e políticas que conduzam à alteração de comportamentos.

 

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