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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Carros eléctricos, CO2, Jevons e contas em cima do joelho

MC, 14.11.09

aqui alertei para o perigo dos carros eléctricos poderem provocar um aumento das emissões de CO2 devido ao paradoxo de Jevons. Este paradoxo diz-nos que quando temos um ganho de eficiência na utilização de um recurso - neste caso quantidade de energia por cada km - podemos ter uma situação onde gastamos mais desse recurso do que inicialmente. Ou seja, tendo um carro mais eficiente e mais barato por km, acabaremos por o utilizar mais., e isto pode anular totalmente os ganhos iniciais.

Lembrei-me desta tema porque esta semana surgiram notícias a alertar para o perigo dos carros eléctricos estarem sujeitos a menos regulamentação ambiental, o que poderia também levar a um aumento das emissões do CO2.

Mas voltando ao Jevons, façamos umas contas. Segundo a Visão da semana passada, um km  num eléctrico é 10 vezes mais barato que num convencial, mas eu vou tomar esta estimativa mais conservadora, 3 vezes. A elasticidade do consumo de combustíveis em relação ao preço é no longo prazo de -0,9, logo esta diferença de preço implica 2,7 vezes mais km percorridos. Segundo esta estimativa a poupança de CO2 por km anda nos 30%, e por isso a mudança de um carro convencional para um eléctrico mantendo-se a situação fiscal actual, causaria um aumento das emissões de CO2 na ordem dos 90%!

Claro que são contas feitas em cima do joelho* mas elas mostram o perigo de introduzir um paradigma - que é à partida melhor - sem penalizarmos devidamente o seu uso em termos de preço.

 

Adenda: Kenneth Small e Erik Verhoef no The Economics of Urban Transportation fazem notar que a maior parte da variação de longo prazo do consumo de combustível advem da troca de veículos (mais eficientes se a gasolina sobe, mais SUVs se a gasolina desce), e não tanto da distância percorrida. A elasticidade face ao custo por km (mais apropriada neste caso, já que já estamos a tomar em conta com a mudança do automóvel) é geralmente de -0,3. Com este valor, a distância percorrida aumentaria 40% devido ao preço menor do carro eléctrico. Estes 40% ainda estão acima da poupança em CO2, logo ainda temos um aumento das emissões.

 

* Assumir uma elasticidade constante é um pouco abusivo - embora continue a haver um aumento das emissões se usarmos as estimativas mais conservadoras para a elasticidade de longo prazo. Outra questão que ignorei: o combustível não é o único custo por km mas por acaso a maioria dos automobilistas comportam-se como se fosse).

 


Uma excelente posta a não perder no Passeio Livre, centros históricos turísticos com ou sem carros. Quantas receitas do turismo não estaremos a perder por as nossas aldeias históricas serem assim

e não assim: