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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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A bicicleta é política

TMC, 24.09.08

A semana da mobilidade findou há poucos dias. Foi impossível não reparar na avalanche de notícias que assaltaram os jornais, a rádio e a televisão; algumas reportam escolhas individuais de pessoas que optaram pela bicicleta como meio de transporte; outras, anunciavam programas ambiciosos de apoio à circulação da bicicleta por várias autarquias ou programas mais abrangentes de apoio à mobilidade, complementando as ciclovias com a implementação de zonas 30 ou uma linha de transportes públicos mais robusta.

 
Poderá afirmar-se também que o dia sem carros, no dia 22 de Setembro, constitui o píncaro duma semana em que o objectivo é precisamente demonstrar que a possibilidade duma comunidade funcional e aprazível não está necessariamente vinculada à existência de carros.
 
E no entanto todas as medidas, quando assomam assim abruptas, numa semana que lhes está consagrada, pecam por serem apenas propaganda e prometerem o futuro. É digno e salutar que os órgãos de poder sublinhem e promovam alternativas à mobilidade, mas enquanto a semana de mobilidade for uma semana de excepção continuaremos a ir a reboque dos dirigentes ou a desaguar em queixumes comiserados. O exemplo tem que partir dos próprios cidadãos e do pleno exercício dos seus direitos; e esses direitos obrigam à participação na vida pública e à exigência contínua duma melhor qualidade de vida.
 
E é nesta questão que o simples acto de escolher como cada um pretende deslocar-se envolve várias considerações não negligenciáveis. Andar de bicicleta não é só escolher o mais sustentável e quiçá o mais elegante dos transportes; é também não andar de automóvel. Ou seja, ao pedalar até ao meu destino escolho minguar a minha participação na exploração de um recurso finito e que além de poluente está na génese de inúmeros conflitos geopolíticos; escolho reduzir a dependência energética do meu país, no qual o sector dos transportes afecta de modo determinante a carga energética associada à produtividade (estatísticas da Direcção Geral de Energia 2007).
 
A um nível mais local, não prejudico a ocupação do espaço público e contribuo para uma cidade mais saudável; não meço as ruas somente como locais de passagem mas como potenciais sítios de paragem. Acima de tudo não patrocino essa impúdica e desenfreada indústria que é a construção civil e todos os grupos de interesse que ela alimenta; todas as suas supérfluas edificações, estradas e futuras pontes e políticos que lhes estão associadas pela raiz mais podre: a corrupção e a promiscuidade entre empresas e partidos.
 
Sem fundamentalismos, sem demagogias, sem nenhuma grande narrativa que lhe esteja associada. A bicicleta é apenas o meio de transporte mais eficiente que existe hoje em dia e ao lhe aderirmos estamos simplesmente a ser racionais, pragmáticos e concretos. E no oceano de teorias, parágrafos e manifestos dos dias de hoje, é raro encontrarmos algo tão simples mas tão poderoso e que está já aqui ao nosso alcance.

 

2 comentários

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    MC 26.09.2008

    O conceito de propriedade em si, não vejo que causa algum problema. Permitir que se abuse dessa propriedade é que já causa problemas.
    Na Holanda, uma casa na cidade não pode ficar desocupada mais de um ano, caso contrário o proprietário pode perder o direito a ela.
    E este é de facto um problema de Lisbos e Porto. Casas abandonadas porque os proprietários especuladores esperam que ela caia ou que o mercado melhore.

    Já um pouco offtopic, também conheço muita gente que não se importa de fazer uma hora de carro todas as manhãs só para ter uma casa com mais alguns metros quadrados.... porque vir para a cidade ainda é barato e fácil. E isto também tem que ser penalizado. Eles devem perceber que a escolha de morar longe não os afecta só a eles, mas a todos os cidadãos da cidade.

    abraço
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